APENAS SONHOS

Fiz da vida uma saudade

dos amores que nunca tive

do tempo que nunca existiu

do ímpeto que não contive

doçuras nunca impossíveis

semblantes sempre invisíveis

tantos clamores de quem vive

Não alcei meus olhos ao luar

nas noites de tantas estrelas

sem mãos não podia pegá-las

sozinho não pude retê-las

meu rosto todo embaçado

um menino atarantado

mas nunca fiz por merecê-las

Feito criança choraminguei

olhando a injustiça crescer

os homens trucidando homens

o mundo prestes a desaparecer

as calamidades chegando

os imbecis continuando

as devastações sem se conter

Os tantos castelos que pintei

a todos na areia construí

na fantasia me embalei

desenhei o futuro que eu vi

mas o vento, muito invejoso,

numa rajada, desastroso,

matou os sonhos que eu vivi

Arrebanhou ondas e marolas

em bravios mares sedutores

ergueu titânicas muralhas

em tantas tardes incolores

então meus devaneios de papel

evaporaram rumo ao léu

e lá se foram os meus amores

Fiquei pensando, distraído:

que é da música que eu dancei

dos meus ocasos esquecidos

dos passarinhos que escutei

dos meus sorrisos que morreram

palavras que emudeceram

dos desatinos que já ousei?

Para o mundo não trouxe bula

tentando explicar o que eu sou

nenhum manual explicando

de onde vim ou pra onde vou

por isso que não me entendo

saber tudo jamais pretendo

não está mais aqui quem falou

Fiz uma grande descoberta

lá pelos idos do meu viver

encontrei a fórmula ideal

com ela ninguém mais vai morrer

contudo, deixo o porém no ar

aos que querem experimentar

será preciso nunca nascer

Ah, essas minhas veleidades

em papel manteiga montadas

com mil confeites coloridos

luares de dóceis cantadas

oceanos mal-humorados

nos galopes desenfreados

miçangas que voam safadas

Eu quisera voltar no tempo

para, com oportunidade,

riscar as manchas do passado

que enfeiam a humanidade

no holocausto começando

essa sujeira apagando

plantando amor e caridade

Essas manchas anacrônicas

já ficaram na história

os homens de boa vontade

as conservam na memória

que jamais tornem a acontecer

e mesmo sem ter como remover

não sejam razão de glória

Por isso que faço poemas

plantando sementes de amor

removendo ervas daninhas

não sendo mais que um sonhador

e sendo o viver uma ilusão

deixemos que fale o coração

viver não é sinônimo de dor

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 19/03/2010
Reeditado em 19/03/2010
Código do texto: T2146681
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