O JUMENTO, O NOSSO
IRMÃO ABANDONADO


O mestre Luiz Gonzaga,
o grande “Rei do Baião”,
exaltava o jumento
numa envolvente canção;
e o padre Antonio Vieira
chamou sem muita besteira
de “jumento nosso irmão”.

A bíblia sagrada mostra
o quanto foi sempre forte,
pois ao transportar Maria,
num episódio de sorte,
fez ele papel bonito
na fuga para o Egito,
salvando Cristo da morte.

E no domingo de ramos
foi peça fundamental
ao carregar Jesus Cristo
numa entrada triunfal;
foi aplaudido também
por toda Jerusalém,
de forma fenomenal.

Ele transportou pessoas,
a água para beber,
transportou materiais
para a construção erguer;
na luta do dia-a-dia
transportou mercadoria
na feira para vender.

Da mesma forma que a máquina
tira do homem o ganha-pão,
essa tal motocicleta
é um bicho sem coração,
porque traz desassossego,
tirando todo emprego
do jumento, nosso irmão.

A moto, ou motocicleta
é um troço muito indecente,
por ser muito barulhenta
perturba a vida da gente;
cumprindo a sua rotina
se enche de gasolina,
polui o meio-ambiente.

O jumento não tem pneu
nem placa ou numeração;
ele não solta fumaça
nem causa poluição;
trabalha a qualquer hora
e o que ele bota pra fora
é adubo pra plantação.

Se hoje é considerado
inútil e sem valor
é porque o ser humano
é ingrato e sem amor;
esquece a todo momento
que o nosso fiel jumento
foi sempre um bom servidor.

Vaga pelo asfalto quente
sem rumo e abandonado,
sem água para beber,
faminto e desconsolado;
terá um final bem lento
caído no acostamento,
por um carro atropelado.