A PELEJA DE BIUZIN COM A MORTE - Um Causo Nordestino

No interior dos roçados

Tem cada coisa maluca,

Cada causo do encantado,

Mal-assombro de arapuca,

Qu’eu sempre fico espantado

Como que um semi-letrado

Tem tanto tino na cuca!

E Biuzin é um desses seres,

Matuto muito do astuto,

Que quando sem afazeres

Puxa do seu cocuruto,

Muito bem fantasiada,

Uma estória encantada

Dando-lhe novo atributo!

Eu vou lhes dar uma amostra

Das estórias que ele conta,

Onde a criatividade

Segue muito além da conta

E esta estória é bem forte,

Pois conta o dia em que a morte

Tentou fazer-lhe uma afronta:

A morte chegou num sonho

Que Biuzin teve outro dia

E com seu jeito medonho

Quis lhe fazer companhia,

Mas Biuzin sem embaraço

Deu-lhe um pau, deu-lhe um regaço

Que a morte quase morria!

Ele me contou a arenga

Que no sonho aconteceu,

Disse que sem lenga-lenga

A morte lhe apareceu,

Veio em sua direção

Com uma foice na mão

E um capuz da cor do breu!

Disse que ele não abriu,

Nem sequer se arrepiou,

Olhou pra ela, grunhiu,

A sua faca puxou;

Esperou ( dando-se ao luxo)

E deu-lhe a faca no bucho

Quando ela se aproximou!

Disse então que alí a morte

Arregalou dois oião,

Colou as mãos no corte,

Que a foice caiu no chão,

Olhou pra ele com medo;

Sussurrou, mexeu o dedo

E sumiu de supetão...

Emendou que a tinhosa

Antes de se escafeder

Sussurrará melindrosa

Que não iria volver,

Pois era uma morte fraca

Pra enfrentar sua faca

E fazer ele morrer...

-Eita sonho sem noção!

Eu de besta ainda disse,

Mas Biuzin falou: “Pois não

Parece até maluquice...

Pois quanto eu me acordei

No chão do quarto encontrei

Esta foice aqui, já visse...?”

João Pessoa, 06/03/2010.