O LUAR DO MEU SERTÃO
Numa terra seca ensolarada e poeirenta
Não se via conforto em seu viver
Passava-se o dia em tormentos trabalhando
E torcendo que caísse o anoitecer
Para o descansar de mais um dia e pudesse a lua ver nascer
Mas que lua bonita grita alguém
É o luar de setembro
diz vovó lá da cozinha
Os meninos brincam no terreiro
fazendo as rodinhas,pulando de alegria em cirandinha
O luar começa a clarear
Não fica nada sem o brilho em oculto
Na cozinha pela brecha vejo o vulto
De alguém que passa devagar
É vovó que a porta foi fechar
Para não entrar o cururu
Cada vez o brilho fica mas intenso
E se vê da sua luz com mais fulgor
Clareia a casa do vizinho e vejo tudo
Da pra ver até a cara da dona Marizor
Vejo o gado espalhado no curral
Remoendo a ração que foi feita a base de bulgôr
É assim no meu sertão
a lua chega mais cedo
Clareando a beira mar
Clareando o arvoredo
E com um luar tão lindo
Lá se vai nossos segredos
Canto uma serenata
Somente com o violão
Alegro a noite inteira
No luar do meu sertão
De uma nuvem passageira
Ouve-se um grande trovão
Ainda canta a coruja
Numa noite enluarada
Cai neblina , molha a relva
Vamos tomar a coalhada
Contar versos e histórias
Alegrar a criançada
Numa roda no terreiro
O velho coça o bigode
Masca fumo, solta bufa
O molengo se sacode
Conta as mentiras dele
Mia o gato e canta o bode
E assim vai pras dez horas
A lua já vai passando
Por uma nuvem escura
Daí canta o pelicano
Cai mariposa e o vento
Vai ser noite de engano
Menino prepara enxada
Grita lá por perdigão
É um cachorro assustado
Velho comedor de pirão
É um pegador de pebas
Que só faz cavar o chão
Pega peba ,tatú e avoante
Pega Tejo , e veado na carreira
Se vacilar ele pega o calcanhar
E derruba o cabra na rasteira
Nunca vi um cachorro esperto assim
Dorme lá por detrás das bananeira
Palhano ,Ceará 04 de fevereiro de 2010
Raimundo de Castro