Coisas da minha Terra_I
O Infeliz do meu compadre
Lá na terra donde eu vim
"A Jóia da sorocabana"
tal nome que lhe deu fama
muita história eu ouvi
e as que eu mesma percebi
mostravam sem hesitação
não podendo ser ilusão
que a morte é moça bonita
gosta até de fazer fita
p'ros medrosos de plantão.
Ora vestida de chita
de noiva ou camizolão
na estrada ou no portão
ninguém que a viu acredita
que essa mulher não exista
pra uns é fada madrinha
pra outros é o fim da linha
o fato é que ela passeia
dando uma ou volta e meia
e ainda faz gracinha.
Meu falecido contava
arrepiando-lhe os pelos
que a morte tem os cabelos
grandes como uma cascata
que os balança e faz bravata
ao passante amedrontado
trêmulo e todo molhado
sem recurso pra fugir
e sequer para admitir
o seu medo encalacrado.
Dizia ainda o finado
que a gargalhada da morte
para quem tem a má sorte
de vir a lhe conhecer
seja por ou sem querer
não é coisa que se esqueça
aconteça o que aconteça
fica gravado na mente
por mais que o peão seja crente
tende a tudo amolecer.
E esse fato que lhes conto
aconteceu de verdade
foi lá com nosso compadre
de tão bom ele era tonto
não merecia o confronto
que a malvada lhe impôs
não só um dia, mas por dois
atravessou seu caminho
chegando bem de mansinho
nunca foi o mesmo depois.
Foi na estrada vicinal
numa noite de serão
de uma a outra plantação
viajava o meu compadre
já pensando na comadre
que lhe esperava faceira
depois duma noite inteira
de sonhos de arribação
sabe Deus quanto tesão
foi pro vapor da chaleira.
Pois que ao olhar do lado
sentindo forte arrepio
meu compadre o que viu
não gosto nem de lembrar
passagem dele a contar
chorando que nem criança
homem forte, de sustância
perdeu o jeito e a vergonha
parecendo uma pamonha
ao falar da circunstância.
Que a noiva de Bernardino
cidadinha malfadada
feia e mal assombrada
se agarrou ao meu compadre
que por infelicidade
já conhecia a história
não vendo no abraço glória
só terror e pantomina
mesmo ela sendo a menina
pra motivo de vitória.
Fez dele gato e sapato
divertiu a não mais poder
queira ou não você crer
a morte é coisa mandada
não se amofina por nada
tinhosa como ninguém
acha estar fazendo o bem
inda caçoou do compadre
debochando de suas partes
não deu por elas vintém.
O homem que era garanhão
bom de traia e safadeza
impertinente o beleza
hoje vive capengando
nos cantos se lamentando
com sua cara de choro
conta que não deu no coro
nunca mais na sua vida
por conta da morte bendita
numa noite de sufoco.
Santos, 11.04.2006_11:00 hs
O Infeliz do meu compadre
Lá na terra donde eu vim
"A Jóia da sorocabana"
tal nome que lhe deu fama
muita história eu ouvi
e as que eu mesma percebi
mostravam sem hesitação
não podendo ser ilusão
que a morte é moça bonita
gosta até de fazer fita
p'ros medrosos de plantão.
Ora vestida de chita
de noiva ou camizolão
na estrada ou no portão
ninguém que a viu acredita
que essa mulher não exista
pra uns é fada madrinha
pra outros é o fim da linha
o fato é que ela passeia
dando uma ou volta e meia
e ainda faz gracinha.
Meu falecido contava
arrepiando-lhe os pelos
que a morte tem os cabelos
grandes como uma cascata
que os balança e faz bravata
ao passante amedrontado
trêmulo e todo molhado
sem recurso pra fugir
e sequer para admitir
o seu medo encalacrado.
Dizia ainda o finado
que a gargalhada da morte
para quem tem a má sorte
de vir a lhe conhecer
seja por ou sem querer
não é coisa que se esqueça
aconteça o que aconteça
fica gravado na mente
por mais que o peão seja crente
tende a tudo amolecer.
E esse fato que lhes conto
aconteceu de verdade
foi lá com nosso compadre
de tão bom ele era tonto
não merecia o confronto
que a malvada lhe impôs
não só um dia, mas por dois
atravessou seu caminho
chegando bem de mansinho
nunca foi o mesmo depois.
Foi na estrada vicinal
numa noite de serão
de uma a outra plantação
viajava o meu compadre
já pensando na comadre
que lhe esperava faceira
depois duma noite inteira
de sonhos de arribação
sabe Deus quanto tesão
foi pro vapor da chaleira.
Pois que ao olhar do lado
sentindo forte arrepio
meu compadre o que viu
não gosto nem de lembrar
passagem dele a contar
chorando que nem criança
homem forte, de sustância
perdeu o jeito e a vergonha
parecendo uma pamonha
ao falar da circunstância.
Que a noiva de Bernardino
cidadinha malfadada
feia e mal assombrada
se agarrou ao meu compadre
que por infelicidade
já conhecia a história
não vendo no abraço glória
só terror e pantomina
mesmo ela sendo a menina
pra motivo de vitória.
Fez dele gato e sapato
divertiu a não mais poder
queira ou não você crer
a morte é coisa mandada
não se amofina por nada
tinhosa como ninguém
acha estar fazendo o bem
inda caçoou do compadre
debochando de suas partes
não deu por elas vintém.
O homem que era garanhão
bom de traia e safadeza
impertinente o beleza
hoje vive capengando
nos cantos se lamentando
com sua cara de choro
conta que não deu no coro
nunca mais na sua vida
por conta da morte bendita
numa noite de sufoco.
Santos, 11.04.2006_11:00 hs