ASSIM NASCEU O CARNAVAL
Anos antes de Cristo,
Homem, mulher e criança
Munidos de esperança
No verão se reuniam:
Festança, corpo pintado
E máscara no rosto,
Espantavam o encosto
Para a colheita não desandar.
Foi esta prática antiga
A primeira que se diga
Expressão carnavalesca,
Esta festa popular.
Deusa íris da harmonia
Pelo Egito consagrada,
A ingênua deusa do céu
Que também era do mar
Bons augúrios transmitia
Para a terra equilibrar.
Terra e céu entrelaçados
Por sete cores ligados,
Pelo arco, Íris descia
Sobre água caminhava
A todo canto do mundo
Pelo vento viajava.
Dionísio deus do vinho,
Pela Ásia Menor vagou…
Por um sacerdote guiado
Até à Grécia chegou…
Onde se tornou sagrado!
Ensinou cultivar parreira,
Boa safra, primavera,
Vinho, sexo, alegria…
Surgia uma nova era
O deus da agricultura
Saturno dos romanos
Equivalia ao Grego Cronos:
O representante do tempo.
A orgia carnavalesca
Sete dias durava
Acontecia em dezembro.
Escravos alforriados
Da carne a consolação
Carros navais pelas ruas…
Euforia, mulheres nuas…
Momo, deus do delírio
Filho do sono e da noite
Figura rechonchuda
Sarcástico e zombeteiro
Irreverente e faceiro
Dos deuses debochava.
Expulso do Olimpo
A casa das divindades
À terra despachado,
Na terra coroado
Do carnaval era o rei.
O entrudo individualista
Grosseiro e imundo
Antes do século XVIII,
Ao Brasil, furibundo
Tão galante quanto afoito
Violenta brincadeira
Em nosso meio entrou.
Nos salões, ou nas ruas
Na Quinta da Boa Vista
Nos jardins da nobreza
Da monarquia à raia miúda
Mascarados, galhofeiros:
Uma grande chafurda
Água, farinha, limão de cheiro…
Folguedo violento.
Pereira Passos, o prefeito
Em sua reforma urbana
Coibiu, fez declinar.
A Igreja Católica
Do carnaval apropriou
Carne vale: carnaval
Cristianismo, ano lunar
Tríduo carnavalesco:
Liberalidade total
De domingo a terça,
Só festa!
Quarta: cinza na testa!
Quaresma: contrição
Período enfadonho:
Amofinação…
A classe média imitou Veneza
Fez sua festa coletiva.
Do folclore baiano:
Os “ranchos” da classe baixa.
Ranchos, cordões, blocos
Foliões mascarados,
Provocadores,
De tudo cantavam:
Folclore, fado, trecho
De ópera adaptado…
Satirizavam personalidades,
O mestre com um apito
Os tambores comandava.
A Maestrina Chiquinha
“Pianeira” alcunhada
Compôs uma marchinha
A ela encomendada
Marcha rancho “abre alas”
“Rosa de Ouro quer passar”
Andante, compassado
Refrão eternizado.
De Salvador para o Rio
Mestras da arte do samba
Tia Ciata, Veridiana…
Em suas casas recebiam
Sambistas tradicionais.
O acolhimento das baianas
Nos pagodes e saraus
Inspirava compositores
Oralidade repassada.
Do Estácio, Ismael Silva
A ‘Deixa falar’ criou
Pensava em ensinar samba
Muito samba semear…
A festa continou:
Confete, serpentina
Bumbo, zabumba, tambor…
Pierrô Colombina
Zé Pereira
Marcha rancho…
Samba enredo
Máscaras,
Brejeiros bailes de salão,
Carnaval dançado:
Verdadeiramente popular,
Tudo isso arrefeceu.
Hoje, carnaval para ser visto,
Pela televisão.
Trio elétrico, micareta,
Carná Goiânia, abadá…
Cartola e Ary Barroso:
Nem pensar!
O “ado do quadrado”
O som auto motivo…
Tudo é motivo
Para hoje “festejar”!
Do samba lá do morro
À faceirice dos bambas
Do “malandro” carioca
Parasamba exaltação
Do glamour das escolas
À corrupção!
Do Brasil para o mundo
Carnaval exportação!