OS PORQUÊS DA VIDA

Porque foi que eu nascí?

Porque mamãe concebeu.

E porque ela chorou?

Foi porque se condoeu

Com a triste situação

Da casa e do sertão

onde tudo aconteceu.

E porque papai está só?

Foi porque mamãe morreu.

E porque não se casou?

Porque não e quis e sofreu

As agruras de uma vida

E também não percebeu.

Porque tanto sofrimento?

Tudo numa vida só?

É por que ela casava

Ou ia ao caritó

E assim casou-se ela

Mas era de se dar dó

Porque há ingratidão?

No meio desses viventes?

É sina de cada um,

Ser ingrato e intransigente.

Tanto no meio de estranhos,

Como com os seus parentes.

Nessa vida tem de tudo,

Tem o bonito e o feio

Tem o rico e tem o pobre

Tem o branco em aperreio

Pois o preto não é preto

Pra receber galanteio

Porque branco escravizou?

O pobre negro africano

Foi para tirar o couro

e dar-lis roupas de pano

Meu Deus porque tanta injustiça

Com tanto açoite tirano

Porque os tais governantes

Tudo isso permitia?

Era cômico o sofrimento

Pra eles todos os dias

Eram coisas naturais

E pra isso nada viam.

Eu pude compreender

Como é lá no sertão

Uma mulher tem 10 filhos

E só fala no bolsão

Compra feijão e arroz

E com isso faz baião.

Sofri e geme atrás da porta

Esperando seu marido

Que bem cedo foi ao campo

Mas não fez um alarido

Pra não acordar as crianças

Grita ela lá vem ele,é mais um dia sofrido

Corre prepara o pirão

Para a fome saciar

Do marido e das crianças

Sem nada lhe perguntar

Come geme e solta bufa

E vai logo se deitar.

E assim se passa a vida

Sem muita compreensão

Passa o ano e o vem outro

É ano de eleição

Candidato bate a porta

E dar aperto de mão

O dono daquela casa

Fica alegre e mui feliz

Viu a mulher do prefeito?

Parece com uma atriz

Esse povo é muito bom

Abraçando todo mundo e até a meretriz.

Logo depois de uns dias

muda a situação

Porque esse homem mudou?

Só parece com traição

Foi embora da cidade

Só estar na televisão

Mas porque as coisas mudam?

É todo mundo fiel

Dão um doce meio amargo

Depois de tudo é fel

Açoita os necessitados

Meu Deus que mundo cruel

Palhano 13 de fevereiro de 2010

Raimundo de Castro