Meu passado nun foi bunito não/ Mais eu tenho o prazê de recordá.

Meu passado nun foi bunito não

Mais eu tenho o prazê de recordá.

Por Airam Ribeiro

Mote de Valdir Teles:

Tinha uma corda na cuzinha

Que carne nunca xegava

As tripa mamãe pegava

E nos dava com pôca farinha

Vinha dento de uma cuinha

Só pro armoço não pro jantá

Pruquê tinha que guardá

Pra dar pros outros irmão

Meu passado nun foi bunito não

Mais eu tenho o prazê de recordá.

O couro adonde nóis drumia

Alembro que foi do boi marruá

Que morreu ao querê pulá

A cerca da terra de dona Luzia

O couro teve grande serventia

E muito seuviu para nóis deitiá

Pois cama nun izéstia por lá

O couro era a cama e o coxão

Meu passado não foi bonito não

Mas eu tenho prazê de recordar.

A noite quando nóis ia drumí

Mamãe pra nois sempre cantava

Uns cauzo papai contava

Pra todos os seus quirido fí

O irmão mais véi vivia a pedí

Pra mamãe li insiná a rezá

E no quadro de Jesus a oiá

Caquéla fé qui tava no coração

Meu passado nun foi bunito não

Mais eu tenho o prazê de recordá.

Quantas vêiz cumí raspadura

Acumpanhado cum a farinha

Era somente aquilo qui tinha

Pra tapiá aquela vidinha dura

Sem xuva nun há fartura

Sem ela a sumente nun vai vingá

As vêiz eu via mamãe rezá

Pedino pra Deus a proteção

Meu passado nun foi bunito não

Mais eu tenho o prazê de recordá.

Despois de tempos passado

Min incronto nesta cidade

Tenho a grata filicidade

De a minha história tê contado

Num tão veno aqui um inrricado

Mais graça a Deus tô a alimentá

Lis digo qui nun é nium caviá

Pelo meno tenho arroiz e feijão

Meu passado nun foi bunito não

Mais eu tenho o prazê de recordá.

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 08/02/2010
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