Picano fumo (dueto com Claraluna) MP
PICANO FUMO
Picanu fumu u caboclo
Passa metadi da vida
Sentadu num véio tôco
As mão já istá firida,
Páia di milho na orêia
Pramodi u fumo inrolá
Às veiz passa hora e meia
Cuns pensamentu a cismá
Uma cusparada na areia
E a pausa pra rispirá.
Nas lembrança imbotada
Vem Constância, sua muié,
Cumpanhêra muitu amada
Nascida em Jequié.
Constância morreu druminu
Cum um surrisu na boca.
Foi u ingratu distinu
Qui levô sua cabocla
Dexô Juaquim piquininu
Inda usava cuero e tôca.
Hoji são só elis dois
Na casinha de sapê
Os cigarru é pra adispois
Quelis caba di cumê
Faiz parti di suas rotina
O cigarrim i o café,
As rôpa simpris, as butina,
Qui deu di feri seus pé,
Juaquim namora uma minina,
Tarvêz viri sua muié.
O fumo assim picadu
No tôco in fronti a casinha
Traiz o chêro du passadu
Sodadi neli si aninha.
Constância muié fiel
Mesmu adispois di morta,
Cuida dus dois lá du céu,
Essa certeza u conforta
Si a sorti lhi foi cruel,
Restô Juaquim, é u qui importa.
(Hull de La Fuente)
Resposta a picano fumo
Por Airam Ribeiro
31/01/2010
Este caso aí citado
Abalô esta região
Eu rizidia em Brumado
Ainda nesta ocasião
Cunhici o Zifirino
Pobre, mas bom minino
Tamém de bom coração.
Cuma de fato este cabôco
Qui fumo vivia a picá
Sentado inrriba dum tôco
Qui sirvia para sentá
Tinha a mão escalejada
Um home de muitia fé
Qui cazô cum sua amada
Lá pras banda de Jequié.
Nesta época eu morava
Numa fazenda em Anajé
E lá sempre incrontava
Cum Zifirino e sua muié
Apareceno em minha tapéra
Lá foi qui cunhici quem era
Estes dois de Jequié.
Quando subi da nutiça
Qui dona Constança morreu
Num min deu niuma priguiça
Para ir no intêrro seu
Cuma de fato foi drumino
Qui ela selô seu distino
Quando o causo asçucedeu.
E Juaquin inda piqueno
Oiava para o caixão
Nada tava intendeno
Só xorava na ocasião
Veno a sua mãe estirada
Ele num intendia nada
Só alisava a sua mão.
Zifirino hoje in dia
Cuntinua picano fumo
Essa é a única aligria
Qui ajuda a li dar prumo
Outra muié quis mais não
Constança era sua paixão
Qui nun li deixava sem rumo.
Pra matá a sodade o cabôco
Da sua Constança quirida
Ele senta naquele tôco
E fica pensano sua vida
Cum canivete a cortá
Ele dana fumo a picá
Pra amenizá as firida.
Tem o nome de Fulozina
A moça qui Juaquim namorava
Ela é uma boa minina
E muito o Juaquim li gostava
Os dois resorveram se cazá
E logo o netin foi arranjá
Qui cum pôco tempo xegava.
Dona Constança, porém
Pur eles ta lá oiano
Ela ta de lá no além
Quem sabe li esperano
Enquanto ao Zifirino
Pur cá vévi o seu distino
Inté a morte vim li buscano.
Mais inconto ela nun vem
Pra Zifirino tê um rumo
Lá na tapera tomém
A famia vévi nos prumo
E Zifirino naquele tôco
Cum canivete o cabôco
Ta sempre picano fumo.
Cumadi Milla tomém vêi picá fumo.
SEU BETICO” I O PITO DI PÁIA
Assim qui a chuva passo
I raio num caiu mais
Liguei u cumputadô
Pra num ficá para tráiz!
Si bem qui essas lembrança
Quaiz que mi fêiz é chorá
Mi alembrei, cuâno criança
Meu pai u fumo a inrolá.
Sai tristeza – vêi bonança
Ocupô u seu lugá!
Picânu fumu di corda
Mi alembra meu véio pai
Minha aligria transborda
A sódadi sobressai
Nus tempu qu’êli sentava
No degrau de nossa porta
O fumo eli picava –
Ao passado mi transporta
Da mocidadi qui tava
Abrinu suas comporta.
Minha mãe, Dona Vicência,
Gritava – “Vem cá, Betico!”
- Cum toda sua pacência
E um tom quase pudico.
Fazia um café quentinho
E meu pai si deleitava
Sorvia cada golinho
Enquanto eli pitava
Seu gostoso cigarrinho
De paia qui eli gostava!
U meu tio Izaltinu
É quem trazia da roça
U fumu tão genuínu,
Prantadu atráiz da paioça
Trazia também u queijo
Qui tia Augusta fazia
Ai, meu Deus! Quantu deseju
Di vortá naquêlis dia
Mai ôji im dia eu vêju
Qui era bão i eu num sabia!
(Milla Pereira) **************** Beijos, Milla