“Pegada”

Quem vem dos anos cinqüentas

Hoje, dourados nas telas

Que imaginava o futuro

Com conquistas e quimeras

Ou então algo dantesco

De “hecatômbica” querela

Desfez-se do imaginário

Das previsões desmentidas

Teve que incorporar

As mudanças impingidas

Ainda que devagar

Com o tempo como guarida

Os robôs são pragmáticos

Sem a forma imaginada

Sem as viagens planetárias

Que o Flash Gordon trilhava

As batalhas, mais modestas,

Porém não menos amargas

O sessentão se esforça

Sem mais ter tantos neurônios

Não entende como as práticas

Do comportamento humano

Permanecem inalteradas

Em detrimento dos anos

Com o tempo a lhe cobrar

O mesmo que o faz aos netos

Tendo que se desgarrar

E acompanhar bem de perto

Trocar, juntar e mudar

E ainda ser discreto

Todos os campos lhe clamam

Inserir-se normalmente

Nas lidas, na arte e vida

Proceder perenemente

Compensando as decaídas

Com o que acumulou na mente

Saber selecionar

O que ainda é referência

Substituir seu lar

Por leis de sobrevivência

E correr a se fartar

Por fazer com competência

Tudo isso sem abrir mão

Do carisma adquirido

De ser quem é: “sessentão”

Atual, mas comedido

Toda decisão na mão

E o que quer resolvido.