BAGUNÇA

Fico lendo e escrevendo

o meu quarto é bagunçado

tem papel por todo canto

mil livros por todo lado

sendo casa de escritor

que fala de vida e amor

é meu mundo desarrumado

Vocábulos entranhados

rimas um tanto sem graça

versos atirados no ar

vejo um pássaro que passa

gorgeia no meu ouvido

fala que sou distraído

Zé Ninguém de minha raça

Palavras entrecortadas

rabiscos desconhecidos

sorrisos amarelados

alguns loucos improvisos

letras amarfanhadas no ar

aquarelas pra desenhar

as cores do paraíso

Fotografias sorrindo

volumes entreabertos

capítulos sublinhados

alguém já os leu decerto

papéis rasgados no lixo

traços de um feio bicho

sedento lá no deserto

Copos no chão esquecidos

cotonetes bem usados

notas fiscais espalhadas

velhos contos rascunhados

três ou quatro calendários

livros enchendo armários

já bastante entulhados

Três frases inacabadas

o Papai Noel descansando

dois gatinhos empalhados

um macaco se coçando

um suave curso de rio

foi lá onde o palhaço caiu

e viu as araras voando

Tem fragmentos de murmúrios

beijos estalados no ar

olhares apaixonados

pessoas tentando cantar

gente tirando soneca

loiras jogando peteca

pássaros querendo voar

Se arrumo tal bagunça

impondo ordem no local

vem uma moça bonita

no seu dengo de animal

me abraça carinhosa

lúbrica, doce, dengosa,

me faz beber café com sal

Então esqueço de tudo

desenvolvendo meu cordel

escrevo enquanto canto

que chegue o lixo até o céu

pois aqui o caos pode reinar

nos meus verso eu vou rimar

rapadura com beleléu

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 27/01/2010
Código do texto: T2053433
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