BAGUNÇA
Fico lendo e escrevendo
o meu quarto é bagunçado
tem papel por todo canto
mil livros por todo lado
sendo casa de escritor
que fala de vida e amor
é meu mundo desarrumado
Vocábulos entranhados
rimas um tanto sem graça
versos atirados no ar
vejo um pássaro que passa
gorgeia no meu ouvido
fala que sou distraído
Zé Ninguém de minha raça
Palavras entrecortadas
rabiscos desconhecidos
sorrisos amarelados
alguns loucos improvisos
letras amarfanhadas no ar
aquarelas pra desenhar
as cores do paraíso
Fotografias sorrindo
volumes entreabertos
capítulos sublinhados
alguém já os leu decerto
papéis rasgados no lixo
traços de um feio bicho
sedento lá no deserto
Copos no chão esquecidos
cotonetes bem usados
notas fiscais espalhadas
velhos contos rascunhados
três ou quatro calendários
livros enchendo armários
já bastante entulhados
Três frases inacabadas
o Papai Noel descansando
dois gatinhos empalhados
um macaco se coçando
um suave curso de rio
foi lá onde o palhaço caiu
e viu as araras voando
Tem fragmentos de murmúrios
beijos estalados no ar
olhares apaixonados
pessoas tentando cantar
gente tirando soneca
loiras jogando peteca
pássaros querendo voar
Se arrumo tal bagunça
impondo ordem no local
vem uma moça bonita
no seu dengo de animal
me abraça carinhosa
lúbrica, doce, dengosa,
me faz beber café com sal
Então esqueço de tudo
desenvolvendo meu cordel
escrevo enquanto canto
que chegue o lixo até o céu
pois aqui o caos pode reinar
nos meus verso eu vou rimar
rapadura com beleléu