REQUIEM PARA UM POETA MALDITO
Antonio Carlos Gomes
De sobrenome Fontenelle
Sensibilidade a flor da pele
Você quer que eu revele
O nome do Belchior
Já que a vida nos impele
Um artista completo
Com uma larga produção
Que regou os meus dias
Com poesia e canção
Hoje sofre injustiça
Vive a incompreensão
Fiquei horrorizada
Com o que presenciei
Uma notícia que ouvi
Eu nem acreditei
Vi um gênio escondido
Acuado, e logo protestei
Eu sou mulher
Mesmo assim não vou comprar
A briga dessas mulheres
Que querem se aproveitar
E se o artista tem nome
Querem deitar e rolar
E a lei fica a favor
Para poder validar
É deitar-se com um homem
E tratar de engravidar
A justiça se encarrega
De a vadiagem outorgar
Para vocês mulheres
Eu deixo uma lição
Vão procurar trabalho
Formar-se, ter profissão
Não precisa se humilhar
Correr atrás de pensão
Todo mundo sabe
O que pode acontecer
Mulher perto de homem
Faz o fogo acender
Existem contraceptivos
E faz tempo pode crer
Mesmo quando um descuido
Vier lhe acontecer
Seja corajosa
É o melhor proceder
Encare a responsabilidade
Desse filho que quer ter
Não precisa forçar a barra
Na justiça pedir pensão
Pois o amor só brota
Do fundo do coração
Não apenas numa transa
Numa mera ocasião
Todo mundo sabe
Da alma desse artista
Que surgiu do povo
E até foi repentista
Tem o sangue do nordeste
Não o quero perder de vista
Fazia tempo que eu aguardava
Estava lhe esperando
Ele vir dá um show
E a saudade já matando
Sem saber das agruras
Que ele vinha passando
Ele sempre deixou claro
Nunca deixou engano
Disse a todos que era
Um Latino americano
Não merecia esse fim
Ele tinha outro plano
Afinal esses casos de família
Ele nunca entendeu bem
Forçado pela justiça
Não foi para Belém
Sem ter outra saída
Foi para o Uruguai de trem
Seu delírio era a experiência
De suportar o dia a dia
Com as tais coisas reais
Era o que sempre dizia
Com canções inteligentes
Das quais nunca esqueceria
Como fã eu proponho
Uma manifestação
Vamos unir nossas forças
Resgatar nosso irmão
Vamos pagar essa conta
Fãs, ele tem mais de milhão
Quando a poesia adentra o peito
O sujeito desatina
Pois quem largaria
Um curso de medicina?
Para viver só da música
E ter essa triste sina?
Ter a vida invadida
Ele que é um sujeito pacato
Um sujeito sangue bom
Um homem muito sensato
Sofre essa agonia
De um coração ingrato
Quanto maior for à fama
Maior será a pensão
Nem mesmo Mick Jagger
Escapou da situação
Deitou com mulher de luxo
E perdeu um dinheirão
Se eu tivesse grana
Duas vezes não pensaria
Pagaria a essa mulher
A absurda quantia
E então a liberdade
Eu lhe devolveria
Sei da existência do ECA
Da sua legislação
Mas o direito começa
Pela conscientização
De gerar filhos desejados
Não transar sem prevenção
Imagino a tristeza
Que habitou seu coração
De largar a sua vida
Toda a sua construção
De poesia tecida
Em tela viu a vida
Passar na televisão
Ele que amava o Pessoa
Fingiu ser fingimento
A dor que vinha no peito
Com tanto constrangimento
De ter sua vida exposta
Foi para ele um tormento
Eu gosto do seu verso
De sua composição
Eu o elegeria
Patrimônio da nação
Por meio desse cordel
Deixo a minha indignação
Afinal nesse país
A corrupção emana
Tem caciques no senado
Que a população engana
São as coisas do Brasil
É a divina comédia humana
*ECA(Estatuto da criança e do Adolescente).