AUTA DE SOUZA: UMA VIDA TRAMADA EM VERSOS
AUTA DE SOUZA: UMA VIDA TRAMADA EM VERSOS
Sírlia Sousa de Lima
Dessa ilustre escritora
Vou contar a trajetória
Que é para nós orgulho
Vou rebuscar a memória
Dessa flor da poesia
Que entrou para a história
Auta é um exemplo
Que não tem comparação
A poesia pra ela
É como trigo para o pão
E se fez noiva do verso
Foi a sua opção
Seu amor não foi capaz
De cuidar dos seus abrolhos
Contemplou a natureza
Bem diante dos seus olhos
Seu olhar foi dirigido
Passou a usar anteolhos
Em sua vida passou
Por diversos sofrimentos
Perdera os seus pais
Em fase de crescimento
Esse não seria o único
De uma série de tormentos
Um triste fato
Com Auta ocorreu
Num fatídico dia
Um incêndio aconteceu
E viu coberto por chamas
O seu mano Irineu
Auta remete-nos ao branco
Em sua poesia
Ela nasceu mulata
E o preconceito existia
Porém teve a sorte
De nascer na burguesia
Irmã de Eloi de Souza
E de Henrique Castriciano
Auta ultrapassou as barreiras
Do mundo provinciano
Estudando outras línguas
Ela tinha outro plano
O branco também pode ter
Outra conotação
De clamar pela paz
Pra sair da escuridão
Um ciclo de tragédias
Causou-lhe agitação
As mulheres daquele tempo
Não tinham letramento
Ou ficavam para tias
Ou faziam casamento
Uma vida aprisionada
Sem entretenimento
Porém Auta estudou
E teve ensinamento
Dindinha lhe educou
Foi esse o procedimento
E quando saiu da escola
Auta teve rendimento
Auta recebeu herança
Dada por seus irmãos
Deixando sempre bons livros
À sua disposição
Ela não perdeu tempo
E leu com dedicação
Auta inovou seu tempo
Mudou todo o contexto
Conseguiu ser alegre
Pros jornais fazia texto
E o prestígio da família
Servia-lhe de pretexto
A família de Auta
Era bem relacionada
Com a Oligarquia
Auta estava ligada
Graças ao seu prestígio
A obra foi publicada
Isso foi um desafio
Que auta enfrentou
Foi autosuficiente
Ela não decepcionou
Caiu no gosto do público
Que logo a aprovou
Auta gostava de festas
De amigos reunir
Havia o Clube do Biscoito
Pra fazer interagir
A poesia e a cultura
Que começava a surgir
Mas na vida de Auta
Sofrimento é overdose
Desde os 14 anos
Pegara tuberculose
Deixando Auta mais fraca
Que um papel de celulose
Auta em sua dor
Ela fez argüição
Pediu a nossa Senhora
Vem pegar-me pela mão
Essa dor é muito forte
Massacra qualquer cristão
Eu preciso de algo
Qualquer coisa que me eleve
Me tire da escuridão
Eu quero o branco, a neve
Se eu fiz algo errado
Por favor, Senhor releve
O infortúnio da família
Já estava traçado
O Comendador Umbelino
Fora pelo cão mandado
Pra extorquir a fortuna
Esse homem desalmado
Pelas mãos desse homem
A grande empresa faliu
Ganhou a confiança
E logo tudo extorquiu
Um sujeito sem caráter
Naquele tempo surgiu
Acabou com o prestígio
Com os tempos de glória
Mas as personalidades
Fazem a nossa história
E Auta se destacou
Em respeito, em memória
As dores de sua alma
Auta curava com cores
Pois perdera seus pais
Sentia muitos temores
E então colhia lírios
Sentia o perfume das flores
Em seus belos poemas
Auta veio exaltar
A pureza das crianças
E as belezas do lugar
Contemplando a natureza
Delírios a imaginar
Auta era praticante
Do catolicismo
Ensinava as crianças
Nas aulas do catecismo
Hoje Auta também escreve
Em sessões de espiritismo
Aos 24 anos
A morte veio buscar
Essa doce menina
Que vivia a cantar
Em versos e poesias
Pra vida levar pro mar
A morte logo veio
E ela cantou assim
Versos feitos pra morte
Flores se fechem pra mim
É chegada a minha hora
Já sinto meu triste fim