Dona Nenê
Relembro tempos alegres
Mistos de amor e xodó
Época descontraída
E a presença da vovó
Doce e meiga criatura
Porte pequeno... capaz
O que não tinha em estatura
Tinha em dobro, de audaz
Já não ouvia direito
E disso fazia humor
As mágoas que trazia no peito
Eram bagagem de amor
Era avó tipicamente
Ralhava e tinha manias
Às vezes, impertinente
Curtia angústia em seus dias
Mas em geral era alegre
Gostava sempre de mimos
À noite, junto às netas
...Adorava cantar hinos!
Nos almoços e jantares
Contava suas proezas
Esses momentos fugazes
Eram nossa “sobremesa”
Tinha sempre uma história
Sempre havia uma lição
Rebuscada na memória
Cravadas em seu coração
Seu amor pela chacrinha
Um lar que lhe foi muito amado
Relembrava nas modinhas
Que traduziam o passado
Havia nela mistérios
Dogmas inesperados
Seu amor pelo magistério
Era evidenciado
Era vida...Sempre vida
Da morte guardava horror
E a derradeira partida
Era-lhe imagem de dor
Tão presente se fazia
Em nosso cotidiano
Que maior foi à agonia
De seu maior desengano
Hoje, desfalecida, esquálida
Sofre tão resignada
Sua figura tão pálida
Repousa inerte, acabada
Relembro tempos tristonhos
Que ao seu lado vivi
No seu leito, quantos sonhos
Junto a ela eu perdi...
Priscila de Loureiro Coelho
Consultora de Desenvolvimento de Pessoas