MÁGOA DE GAÚCHO
MÁGOA DE GAÚCHO
Pensando estive ainda há pouco
com que vou aquecer a água
se eu morrer levo esta mágoa
(a erva eu levo, só pro gasto)
pra tomar meu chimarrão.
Lá não tem fogo de chão
e nem trempe a gente arranja.
Não tem cuia nem porongo.
Em quê vou cevar o mate?
Lá não se usa o abate,
não tem vaca e nem tem boi;
falta charque e carreteiro.
Pro céu só foi algum tropeiro
sem trabalho teve infarto.
Dá uma luz, Patrão do céu,
se não tem boi e nem charqueada
fico lá sem fazer nada
enquanto as almas tão dormindo?
Eu levanto em fria aragem,
nunca amei a vadiagem,
monto o pingo e vô pro campo.
Sê clemente, Patrão Velho,
um matungo já está bom;
uma trempe de galpão
e a chaleira traz de volta.
Nada entendo de escritório
mas me arranje algum velório
Onde a guampa corre solta.
Ai, Deus Velho, sem maldade,
já que lá tu é o chefão,
sem a gaita e sem violão
não consigo acostumar.
Sou dos pampas; sou gaúcho,
de bombacha, mas sem luxo,
por favor, ouve esta prece.