MÁGOA DE GAÚCHO

MÁGOA DE GAÚCHO

Pensando estive ainda há pouco

com que vou aquecer a água

se eu morrer levo esta mágoa

(a erva eu levo, só pro gasto)

pra tomar meu chimarrão.

Lá não tem fogo de chão

e nem trempe a gente arranja.

Não tem cuia nem porongo.

Em quê vou cevar o mate?

Lá não se usa o abate,

não tem vaca e nem tem boi;

falta charque e carreteiro.

Pro céu só foi algum tropeiro

sem trabalho teve infarto.

Dá uma luz, Patrão do céu,

se não tem boi e nem charqueada

fico lá sem fazer nada

enquanto as almas tão dormindo?

Eu levanto em fria aragem,

nunca amei a vadiagem,

monto o pingo e vô pro campo.

Sê clemente, Patrão Velho,

um matungo já está bom;

uma trempe de galpão

e a chaleira traz de volta.

Nada entendo de escritório

mas me arranje algum velório

Onde a guampa corre solta.

Ai, Deus Velho, sem maldade,

já que lá tu é o chefão,

sem a gaita e sem violão

não consigo acostumar.

Sou dos pampas; sou gaúcho,

de bombacha, mas sem luxo,

por favor, ouve esta prece.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 25/12/2009
Reeditado em 28/12/2009
Código do texto: T1995219
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