O SELO DA MORTE

Trecho do Cordel:

Mas quando virou o selo

Notou que estava riscado

E com a letra do noivo

Com sangue vinha assinado:

“Estou sem as duas pernas

Num hospital internado”.

Lourdinha sentiu as dores

Do juramento trocado

E dirigiu-se a capela

Rezar por seu bem amado

Pra que Deus o devolvesse

Mesmo que fosse aleijado.

Dezoito dias depois

Chega-lhe outro cartão

Lourdinha, desesperada,

Sem saber se abria ou não,

Resolveu tirar o selo

Nessa hora de aflição.

Tirou o selo e, surpresa,

Com espanto percebeu,

Embaixo não tinha nada,

Abriu o envelope e leu

Que num hospital de guerra

O seu amado morreu.

Lourdinha ficou doente

Pouco tempo mais durou,

Dois selos tão pequeninos

Destruiu tão grande amor.

O primeiro trouxe o sangue

Com que seu noivo assinou

E o derradeiro envelope

Foi a morte quem selou.

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 23/12/2009
Código do texto: T1992637
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