A SAGA NORDESTINA

O sol nasceu para todos

contudo a sombra nem tanto

só coube ao nordestino

um pobre e rasgado manto

assim, os raios do Astro-rei

não obedecem essa lei

e lá queimam e causam pranto

Não creio nessa estória

que o sertanejo é um forte

é somente um esquecido

que ousou nascer no Norte

e muitos para sobreviver

fazem promessas pra chover

esperando mudar a sorte

Porém, anos após anos

chega o mesmo sofrimento

no tempo da estiagem

morrem a cabra e seu jumento

vem o Governo pressuroso

tentando ser caridoso

mas é só fogo de momento

O coitado do retirante

fica na mão do Deus-dará

seus filhos choram com fome

a mulher começa a lamentar

lá fora o sol inclemente

primo pobre da enchente

parece que o chão vai queimar

Esmurrar ponta de faca

ter o pão que o diabo amassou

fazer das tripas coração

viver instantes de horror

quanto mais passam os anos

aumentam seus desenganos

incrementando sua dor

Quando a seca esturrica

a pequena roça plantada

os açudes vão secando

fica a terra devastada

e como cego em tiroteio

tão indefeso e lá no meio

tem a vida ameaçada

Porém se cai muita chuva

e o inverno vira enchente

o sofrer se intensifica

nada fica diferente

é como se dessem vacina

ao invés de vitamina

a quem já se encontra doente

Tanto faz seca, enchente,

são duas calamidades

que estão sempre presentes

quase sempre, cedo, tarde,

que sina mais desvairada

que Região desolada

que tanta desigualdade

Falando sobre Nordeste

refiro-me ao campesino

nunca sobre políticos

que leva a vida sorrindo

pois dinheiro não lhes falta

alguns formam uma malta

como bandos de porcinos

Nunca dos comerciantes

ou jamais dos industriais

mas dos pobres sertanejos

que cultivam os milharais

só dependem do que plantam

tanto choram quanto cantam

nos açudes, nos matagais

Estes sim, são sofredores,

os esquecidos da Nação

que trabalham dia e noite

na nobre luta pelo pão

mas se tornam retirantes

uns pobres desafiantes

da natureza do sertão

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 23/12/2009
Reeditado em 24/12/2009
Código do texto: T1991868
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