MEUS POEMAS (Poemas diversos)
MASOQUISMO
Por um florido jardim eu passeava
Cuidando em não ferir o seu floril imenso
Pisando leve, do bosque exalava
Um cheiro leve do mais puro incenso.
De repente corri, perdendo o senso,
Machucando toda planta onde eu passava,
E o cheiro leve tornou-se tão intenso
E quanto mais eu feria, mais cheirava.
Assim é o nosso amor incompreendido,
Só eu amo e não sou correspondido,
Você só me despreza e me atormenta.
E na desilusão vou suportando,
Quanto mais vai seu despreso aumentando
Mais cresce o meu amor e mais aumenta.
TALENTO E FORMOSURA
Guardas em ti os dons da formosura
Que o tempo ainda nem sonha em trucidar.
E vives bem ufana essa ventura
Que a Natureza cegamente quis te dar.
Assim sorris das minhas desventuras
Pertenço à dor, e gosto de penar.
Eu tenho n’alma um cofre de amargura
Que é meu tesouro e ninguém pode roubar.
Pois quando a dor me pede alguma esmola
Lhe abro as portas d’alma que a consola
E com lágrimas o amor lhe mitigar.
Mas quando a morte conduzir-te à sepultura
Tirar todo esse talento e formosura
O teu orgulho em pó reduzirá.
OLHOS TRISTES
Há olhos para a gramática
Há olhos para a razão
Mas para amar é preciso
Ter olhos no coração.
Não sorrias da tristeza
Que trago nos olhos meus,
A tristeza dos meus olhos
São de saudade dos teus.
Faz tempo que não contemplo
Os olhos do meu amor
Meus olhos ficam chorosos
Com tanta saudade e dor.
Esses olhos cobiçados
São por mim idolatrados
Como dois jardins ornados
Ou dois jarrinhos de flor.
DOR DE COTOVELO
Quase louco de saudade
Resolvi te procurar
Queria te mandar flores
Mas sei que iriam murchar.
Distante do teu carinho
Minha vida é um fracasso
Mas juro, minha querida,
Vou terminar minha vida
Enlaçado nos teus braços.
Meu amor não tem limites
Não sei onde vai parar,
Quanto mais tu me desprezas
Mais eu quero te amar.
Uma dor de cotovelo
Me machuca e faz sofrer,
Mas amar não é pecado
E Deus estando ao meu lado
Hei de amar-te até morrer!
A canga era um artefato
Usado em carro de boi
Para unir o boi ao carro
Nos tempos que já se foi.
Com ela o boi carregava
O carro em seu vai e vem,
Com o tempo se desgastava
No lombo do boi ficava
A marca que assinalava
A força que um boi tem.
Todos temos nossa canga
Embora nós não a vemos.
A nossa não se desgasta
Nem mostra a força que temos.
Com a canga do meu destino
Eu carrego a minha vida.
E a vida carrega as dores
Dos meus desfeitos amores
Oculta entre os dissabores
De uma existência sofrida
(Do livro SANTO DE CASA, escrito
em 1980 pelo autor deste livreto)
Neste mundão sem porteira
Onde quem está de butuca
É quem saca toda a transa
Chega-se a uma conclusão:
Ninguém quer nada com nada
E num salve-se quem puder
Poucas pessoas escapam
E muitos acabam entrando
Na tubulação.
Se danam pobres adultos
Que de tudo sabe e ver
E crianças abandonadas
Que já nascem na miséria
E olham tudo e a todos
Sem nada compreender.
E entre esses inocentes
Que não entendem o que fazem
Nem que vieram fazer
Neste vasto mundo cão
Vítimas de pais ignorantes
Acabam se transformando
Num criminoso, um ladrão.
Abandonadas ao mundo
Essas crianças se voltam
Contra tudo e contra todos
E ainda são condenados
Por muitos sendo malhados
E ainda, como animais,
Por outros escorraçados.
(Do livro SANTO DE CASA)
O negócio é o seguinte:
Ações por baixo do pano,
Nêgo que marcou bobeira
Vai direto pelo cano.
Eis que um enorme cargueiro
Cruzou os mares bravios
Saindo de Portugal,
Trazendo bastante vinho
Pra se beber no Natal.
Chegou no porto, atracou,
Na descarga se deu mal.
A ”Patota Federal”
De butuca na descarga
Do vinho que ali provinha
Identificaram o vinho
Só não descobriram a vinha
Mas pra dar uma sacada
Nossa fiscalização
Mandou dar uma revistada;
E os garotos portugueses
Crentes que estavam abafando
Nem estavam se mancando.
E não deu outra:
As mil, cento e trinta caixas
Desse vinho português
Nem deu tempo pra descarga:
Volta à Terrinha de vez.
E a ordem foi uma só:
Peguem seu vinho e se mandem,
Vamos deixar de anarquia,
Malandro aqui tem de sobra
Fabricando porcaria!.
E aprendam esta lição:
Aqui, só vinho francês.
Quer trazer vinho? Que venha!
Mas só com vinho do Porto
É que Portugal tem vez!
Noite preta são meus olhos
Que choram por não te ver
Enquanto teus lindos olhos
Fazem o mundo enverdecer.
No verdor do teu viver
Transportas felicidade
Indiferente aos meus olhos
Que só conduzem saudade.
(Escrita na Campanha política de 1984)
Até hoje ainda lembro
Dos discursos do “Dotor João”:
“Se eu for eleito em Novembro
Prometo, de coração,
Vou ajudar minha gente,
Vou miorá os sertão!
Pruque sou um sertanejo
Das terra do Piancó,
(Vale que eu tanto admiro)
E dispois que eu for eleito,
Ninguém mais vai passar fome,
Poliça num da mais tiro.
Vou fazer tapete verde
Nos sertões de minha terra,
O mato vai florescer,
Vou perenizar os rios,
Fazer pontes, rodovias
E escolas pra se aprender.
Por isso peço ao meu povo,
Redobrem seus argumentos,
Trabalhem prá me eleger,
Que dispois que eu for eleito
Tudo vai ser diferente,
Pois comigo é pra valer!”
E a campanha começou:
Os cabos eleitorais
Lutavam com mais vigor.
Era festa, era folia,
Comício prá todo lado,
Cartórios e comitês
Viviam superlotados
E já não mais se pagava
Casamento ou batizado.
João Grilo era um matuto
Da Veneza do Sertão,
Muitas noites, madrugadas,
Com tinta e pincel na mão
Foi um grande voluntário
Pra eleger Dotor João.
De febre, gripe, frieira
O João Grilo padeceu,
Foi hérnia, foi reumatismo
Que o sereno lhe deu,
Mas tudo foi compensado,
Pois seu DotorJoão venceu!
E depois da eleição
O “progresso” começou:
pouco a pouco em nosso Estado
Tudo se modificou.
Primeiro o funcionalismo
Recebeu a recompensa,
Pois o salário atrasou.
E o pobre sertanejo
Só passou fome uma vez:
Nunca mais se alimentou.
E outra grande promessa
Que o Dotor João cumpriu:
Polícia não atirou mais.
Pois, por motivo de ética,
Quem passou a matar gente
Foram os intelectuais.
“Vou fazer tapete verde”
Dotor João sempre dizia
E aqui eu lembro de novo.
Mas a chuva não chegou
E em vez de tapete verde
Quem está verde é o povo.
João Grilo, depois de tudo,
Teve como recompensa
Prá sua decepção
Nem emprego nem guarida
Mas três balas na barriga,
De um cabra de Dotor João.
Prá reforçar o sistema
E terminar o poema
Um lembrete ao meu sertão:
É que esse ano outra vez,
Lá pelo décimo mês
É tempo de eleição.
Se quer viver de promessas
Vote lá no Dotor João!
Senhor Lacerda
Li no Jangada Brasil, A MULA
DOIDA DE MAIS. Gostei. Verdade tem
que ser dita, e o Sr. disse com esmero.
Parabéns. Poucos têm tal coragem,
poucos dominam a arte de versejar.
Sou apreciador dos Cordéis
Oswaldo Rosa
Analista de Sistemas
CAPRICHO
Você tem feito muita ingratidão
Não me escrevendo, isso não se faz;
Se é seu desejo, deixe-me na exclusão,
Porque assim te amo mais e mais.
Não acredito nesse teu despreso
Essa exclusão não pode ser verdade
Seu coração é livre e vive preso,
Você me ama mas sente saudade.
Você é linda, nova, delicada,
Talvez por isso, minha namorada
Não foi, não é e nunca poderá ser...
Mas está sendo muito caprichosa!
Minha amiguinha, não seja orgulhosa,
Use a caneta para me escrever!