CAMINHOS (Poemas diversos)
Poema inserido neste Cordel:
OBSTINAÇÃO
Correr atras da vida
Viver a existência
Existir tropeçando
Nos atropelos e absurdos
Da obscura viela.
A rua atravessa os escombros
Da velha cidade.
Você tem vida,
Porque não a vive?
Correr de olhos cerrados,
Sem olhar atras da vida
Que sucumbe no pedregulho
Do fundo do poço.
O poço, você o cavou
Sem saber que no fundo
Existia pedras.
Soterre o poço
E não renegue a vida,
Não bata a porta
Na face lúcida
Da existência.
Campina Grande, 21.09.82
ELIZABETE
Eu queria uma vida
Assim com você:
Sem ninguém por perto,
Sem preocupações,
Sem brigas e desilusões,
Sónós dois.
Construindo uma nova vida,
Outras vidas,
Conquistando novas amizades,
Unidos para sempre,
Na vitória e na derrota,
Na alegria e na tristeza,
Na riqueza e na pobreza...
Você é quem não quer!
Santa Luzia, 30.10.92
TE VEJO, TE DESEJO
Nas minhas horas de angústia,
Te vejo,
A cada sentido do meu pensamento
Te vejo,
Nas voltas que o mundo dá,
Te vejo,
No meu trabalho, cansado,
Te vejo,
Mesmo sem querer te olhar,
Te vejo.
Por isso que em minhas noites,
Eu te desejo,
Por isso em meu pensamento,
Eu te desejo,
Por isso que em todo mundo,
Eu te desejo,
Por isso vivo sonhando,
Pois te desejo,
Se estudo ou se trabalho,
Eu te desejo,
Meu sentimento é profundo,
Pois te desejo.
Te desejo como és,
Tu, orgulhosa e bonita,
Minha estudante adorada;
Por tudo que o céu revela,
Desejo que você seja
A minha mulher amada.
Santa Luzia, 29.05.79
Somente você
De volta traria
A minha alegria.
Há certos momentos
Que chego a pensar
Que esta sua ausência
Não passa de um sonho
E que você voltou.
Mas na realidade
Preciso encarar
A vida como ela é,
Com seus altos e baixos,
Amor e desamor,
Alegrias e tristezas,
Vitórias e derrotas...
Você. Sempre você.
Em toda nossa vida
Tem sempre um você.
Assim guardarei
Toda recordação
Que vem de você.
Você que eu amei,
Que foi um sonho bom,
Num piscar de olhos
Você sumiu
Patos, 25.11.83
Preço - Progresso
A preço de ingresso
Na SHELL ou na ESSO
Ou noutro complexo.
Quando olhei o preço
Perdi o endereço,
Fiquei pelo avesso,
Mudei, virei gesso!
Progresso? Ciência?
Gerando potência?
Fazendo inclemência
Na inconsciência?
Progresso matando
E fala gritando,
Sou forte, eu mando,
É meu o comando!
Progresso? E a fome?
E a morte? E a guerra?
E a falta de chão?
Só aqui, mundo cão!
Progresso - Não insista!
Matando teus homens,
Mentindo aos teus pobres,
Fazendo-se nobre
Em papel de revista!
Teu preeço está forte,
Progresso assassino,
Que traz desatino,
Teu preço é a morte!
Não insista,
Capitalista!
Nazista!
Comunista!
Terrorista!
Abaixa teus olhos,
E ver quantas mãos
Rasgadas na dor!
E escuta esta voz
Que grita na terra,
Pedindo somente,
Um gesto de amor!
Patos, 01.09.84
TURBILHÃO
Na fenda do monte
Na fonte fendida,
Na forma do lago,
Na água retida,
No cerco da ilha,
Na ponte perdida,
No lance do dardo,
Na queda suicida,
No ser delirante,
Na fúria contida,
No passo volante,
Na balsa retida,
No sopro inventado,
Na invenção medida,
Eu volto a dizer,
Frase repetida,
O amor é o ponto
Final da partida.
No canto que medra,
No pranto, no grito,
Na dor lancinante
Do ventre partido,
No feito desfeito,
No peito ferido.
No sal do deserto,
No rumo perdido,
Agora mais perto
Noturno gemido,
No túmulo pobre,
Cadáver despido,
Arcanjo da guerra,
Tumulto temido,
Eu volto a dizer
E sempre repito:
A vida é um gesto
Terrível e aflito.
Será muito breve
Janeiro do ano,
Fagote do inferno,
Aviso e proclamo,
Os deuses em fúria,
Sopro desumano,
O choro, o grito,
Pungente lamúria,
Doendo na voz
Comendo a garganta,
Pensando o pensado
Mais o pensamento,
Girando, girando,
Total liberdade.
Na fala do homem,
Maldade, bondade.
Caminho da história
Se abre com a mão,
Da mãe para o filho,
Abraço do irmão.
Abraço do amigo
É ato envolvente,
A água mais fria
Na água mais quente,
Fazer harmonia
Da gente com a gente,
Fazer nostalgia,
Doença e doente,
Do sonho com a vida
Da vida com o anjo.
O Diabo no Céu
Um Deus no inferno,
Passado e presente
No tempo moderno.
Catalão-GO, 08.03.80
CRIANÇA SEM LAR
Criança que chora
No seio da rua,
Pequena, indefesa,
Descalça e tão nua,
Suplica a bondade
De um tal Sireneu.
Não sabe o que quer
Nem mesmo quem seja,
So sabe, deseja,
Sair desta lama,
Seu corpo pequeno
Na rua só clama,
Pois sabe que a ânsia
Da ajuda esqueceu.
Que faz a criança
No seio da rua?
Não é por ventura
O tal filho que quis?
A rua, o carinho
Lhe nega, e baixinho
Repete teu nome:
“Mamãe”, ele diz
Mirando-te ao rosto
Este feto pequeno
Te chama com aceno
Querendo-te então.
E passas, não rente
Que ao vê-lo na lama,
Não ouves que chama,
Não tens compaixão.
E fica a criança
No seio da rua,
Qual voz que insinua,
Parece que diz:
Se choro insistente
Enão sentes o aceno
Meu corpo pequeno
Não sejas feliz!
Patos, 01.09.84