O SAPO DOS NAVIOS UMA LENDA PARAIBANA
Mais um fato inusitado
Do Brasil interior
História que até parece
Invenção do escritor
Porém esta é verdadeira
E vou contar por inteira
Pra deleite do leitor.
Pedro Amâncio era um senhor,
O pivor desta aventura,
Tinha uma imensa família
Criou todos com ternura
Quatro vezes se casou
Todas quatro enviuvou
Vivendo na agricultura.
Se não fosse a desventura
Da estiagem no sertão
Era um homem venturoso
Livre de preocupação
Mas lavrador nordestino
Suporta esse desatino
Com fé e resignação.
Dinheiro no matulão
Sempre ele tinha guardado
Feijão, arroz e farinha
Os caixões eram lotados
Sempre que a seca chegava
Facilmente atravessava
E ainda salvava o gado.
Comodamente instalado
Próximo a Santa Luzia
Sua Fazenda Navios
Com pulso firme geria
Açude de bom tamanho
Considerável rebanho
Completava a maestria.
Era grande a agonia
Quando a seca castigava
Terminava uma estiagem
Logo outra começava
Difícil de suportar
Antes de recuperar
Logo o inferno voltava.
Dezenove começava
Prenunciando o estio
Faltou rama na caatinga
Não desceu água nos rios
Nem umbuzeiro vingou
Dessa vez também secou
O açude dos navios.
Com tantos anos a fio
Vivendo aquele estieiro
Pedro Amâncio com seus filhos
Idealiza um canteiro
Onde sería um porão
Faria uma plantação
Só com mudas de coqueiro.
Na revência do barreiro
Depois seriam mudadas
Atrás do reservatório
Sem precisar ser regadas
Servia pra proteger
O solo de massapê
Com as raizes rendadas.
Durante o ano cuidadas
Já começava a nascer
Um enorme cacimbão
Foi necessário fazer
Para que fossem regadas
Até serem transplantadas
Quando voltasse a chover.
Sem nunca se esquecer
De cuidar do seu canteiro
Mas desaba um temporal
Antes do mês de janeiro
Desses típicos de verão
Com relâmpago e trovão
Que quase enche o barreiro.
E choveu um dia inteiro
Com o trovão pipocando
A manhã ficou escura
Os riachos transbordando
A região ficou fria
Trazendo muita alegria
Com o inverno voltando.
Com o açude represando
Chegando quase a sangrar
Cobrindo todas as mudas
Que eles plantaram lá
Todas elas enfolhadas
Pois já estava, preparadas
Pra mudarem de lugar.
Não adiantou trabalhar
Tanto tempo no canteiro
Mas aquele prejuízo
Era sempre prazenteiro
Se a chuva causava mal
Pois o balanço final
Sempre é alvisareiro.
E choveu um mês inteiro
Prenúncio de que sería
Ano de muita fartura
Bom inverno que viria
Com isso o povo esqueceu
A seca que aconteceu
Causando tanta agonia.
Muito tempo seguiria
Invernos muito potentes
O operário da roça
Trabalhava alegremente
Água tinha em abundância
Nos campos, muita bonança
Alegrando toda gente.
Vinte e oito, novamente
O inverno escasseou
Quase nada de legumes
O algodão rareou
E o açude dos Navios
Cheio por anos a fio
Mas nesse ano secou.
Pedro Amâncio observou
Alguns cocos enterrados
Lembrou que há nove anos
Tinham sido ali plantados
Mas o inverno surgiu
E a água tudo cobriu
Antes de serem mudados.
Os filhos e os empregados
Com carrinho e enxadão
Foram arrancar os cocos,
Desenterrá-los do chão
Retirá-los do barreiro
Jogá-los no tabuleiro,
Assim limpava o porão.
Mas um chamou a atenção
Por diferir dos demais
Pois os cocos semeados
Tinham dimensões iguais
E aquele coco estranho
Tinha aumentado o tamanho
Três ou quatro vezes mais.
Levaram o coco pro cais
Pesando mais que o normal
Abriram pra ver por dentro
E a surpresa foi geral
Causando grande esturpor
Havia no interior
Um bicho descomunal.
Aquele estranho animal
Dentro do coco encontrado
Era uma espécie de sapo
Branco-pardo, amarelado,
E cego completamente,
Cresceu naquele ambiente
Pelo formato moldado.
Os homens admirados
Com o bicho que ali havia
Criado ausente do Sol
E ainda sobrevivia
Dois ou três quilos pesava.
Como é que se alimentava?
Enfim, como ele vivia?
Quem sabe, talvez um dia
Embaixo d’água nadando
Um solitário girino
Aquele coco encontrando
Entrou por um buraquinho
Fazendo dele caminho
E ficou ali morando.
Cresceu se alimentando
Só não se sabe de que
Certamente da amêndoa
E começou a crescer
Não encontrando saida
Ficou o resto da vida
Conseguiu sobreviver.
Difícil compreender
As coisas da Natureza
Um fenômeno biológico
Deu a vida, com certeza
Ao sapo que se criou
Naquele interior
Causando muita surpresa.
Na nossa Mãe Natureza
Há muito conhecimento
Mas às vezes se apresenta
No sol, na água, no vento,
Como só ela traduz,
Inexplicável à luz
Do humano conhecimento.
Fica o questionamento
Dificil de se entender
Como foi que aquele sapo
Conseguiu sobreviver
E que idade teria?
Quanto tempo ali vivia?
Duvido alguém responder!
Quando é tempo de chover
São tantas formas de vida
Presentes na Natureza
Muitas são desconhecidas
E procurar conclusão
Na nossa imaginação
Não é coisa proibida.
É máxima conhecida
De que ninguém é perfeito
Qualquer coisa aprimorada
Sempre alguém acha defeito.
Quem ler esta narração
Dê a sua opinião;
Eu opinei do meu jeito.
Concluindo meu feito
Reafirmo com razão:
Há sempre uma resposta
Pra toda interrogação,
Mas de todos desafios,
Para o sapo dos Navios
Não existe explicação.
SÉRIE LENDAS BRASILEIRAS - VOLUME 8