UM MENINO E UMA MENINA QUERENDO AMOR DE UM DRAGÃO
UM MENINO E UMA MENINA QUERENDO AMOR DE UM DRAGÃO
Marcos Medeiros
Numa vila pequenina
Encravada no sertão
Um menino e uma menina
Viraram grande atração
Com o seu povo admirando
Por viverem disputando
A amizade de um dragão
A menininha dizia
Veja meu dragão querido
Consegui na freguesia
Este bonito vestido
Feito do mais fino pano
Para usar no fim do ano
Sem ter nada parecido
Besteira, disse o menino,
Fazendo logo um muxoxo,
Mais bonito é este sino
Que eu comprei de um velho coxo,
Pois toca blem blem sozinho
Transforma a água num bom vinho
Destacado por ser roxo.
A garota não se fez
Nem um pouco de rogada
Mostrou a galinha pedrez
Pra que ela fosse notada
E no minuto vindouro
Expôs um ovo de ouro
Da derradeira botada
Um grito ouviu-se – Mentira!
Esse ovo aí é pintado
Diferente dessa lira
Que eu toco e tem tom dourado
Disse o menino vaidoso
Certo de ser mais charmoso
Para o dragão disputado
O que havia de estranho
Na disputa recorrente
Era não ver-se o tamanho
Do dragão nem mesmo um dente
Apesar do desafio
Das crianças, fio a fio,
No seu pensar inocente.
Embora desconfiado
O povo foi dividido
Alguns escolhendo um lado
Outros sem ter definido
Se elegiam a meninota
Ou ao pivete davam nota
Pra ter o pleito vencido
Vendo que havia indecisos
Ainda naquela altura
A menina abriu sorrisos
Mostrando uma pedra dura
Era o maior diamante
Vindo de muito distante
Pra encanto da criatura
O menino protestou:
Isso é de vidro comum,
Verdadeiro é o que eu estou
A mostrar no jerimum
Que pesa duzentos quilos
Precisando de dois silos
Para a banda de cada um
A menina até então
Muito bem comportadinha
Disse: não creia, dragão,
Nessa velha ladainha,
Pois esse garoto é dado
A produzir aumentado
Qualquer fato ou historinha
O menino enraivecido
Quis logo partir pra briga
Nisso um sábio envelhecido
Interrompendo a intriga
Falou com muita nobreza
Sobre toda a natureza
E a beleza que ela abriga
Enquanto os dois duelavam
Não viram bichos nos campos
Nem aves que ali voavam
Muito menos pirilampos
Pois sonhando com dragão
Deixaram de ver razão
E de descobrir os tampos
Cabisbaixas, as crianças
Pararam de duelar
Ela mostrou-lhe as tranças,
Ele, um novo linguajar,
Demonstrando de repente
Que os dois, dali para a frente,
Iriam se respeitar.
Pensariam em dragões
Mula-mancas e sacis
Sem descartar sensações
Ao avistar colibris
Elegendo a paridade
Deixando a dualidade
Para serem mais gentis.
Hoje, crianças do mundo
Sigam este exemplo dado
Com sentimento profundo
Procurem mais ter amado
Pra ser adultos futuros
Tendo ideais bem maduros
Para um mundo equilibrado.
Recheado de muita paz
O nosso mundo é melhor
Cada pessoa é capaz
Isso sabemos de cor
Disseram as duas crianças
Renovando as esperanças
Dos adultos ao redor.