MARIA BONITA, A RAINHA DO CANGAÇO

Trecho do Cordel:

CANGACEIROS XI

A RAINHA DO CANGAÇO

Lampião foi explorado

Por jornais e por revistas

Esteve sempre presente

Nas glosas dos repentistas

E onde existe sertão

É tema de inspiração

Dos poetas cordelistas.

Imitado por artistas

Nos teatros amadores

No cinema é casa cheia

Dando lucro aos produtores

Que usam de artimanhas

Para exibir suas façanhas

Frente aos seus perseguidores.

Mas nem só de malfeitores

Viveu nosso Lampião

Mesmo sendo um cangaceiro

Também tinha coração

Amou, viveu, gerou filha

E hoje sua família

Está na 4ª geração

O futuro Lampião

Aos dezenove de idade

Sentiu a seta do amor

Já lhe fazendo maldade

Por uma morena formosa

Que tinha o nome de Rosa

E morava na cidade.

Mas sua felicidade

Teve pouca duração

Raras vezes se encontrava

Com a flor de tanta paixão

Destino, cruel serpente

Por caminho diferente

Magoou seu coração.

A adolescente paixão

É amor que não tem fim

A paixão da adolescência

Conserva a rosa em jardim

Sonhou em gozar a vida

Bem junto à prenda querida

Mas não pôde ser assim.

Destino perverso e ruim

Lhe colocou bandoleira

E lhe obrigou a viver

Do rifle e da cartucheira

Para ao pai fazer vingança

Que não lhe sai da lembrança

Junto à sua cabroeira

Deixou a sua ribeira

Com apenas 20 anos

Prá viver nos carrascais

Dos campos pernambucanos

O pacato cidadão

Transformou-se em Lampião

Tendo ao seu lado três manos.

Foram-se 14 anos

Sem outro amor encontrar

Pois mesmo que o encontrasse

Não tinha tempo prá amar

Sua vida era violência

Desenfreada seqüência

Correr, fugir, guerrear.

Mas sempre existe um lugar

Num coração violento

Embora muito escondido

Prá um ameno sentimento

Quem sorrir às vezes chora

Se de um lado tem vitória

Do outro há padecimento.

E começa esse advento

Na vida de Vírgulino

Dois lindos olhos azuis

Lhe obriga a perder o tino

Sua vida cangaceira

Rompe e rebrota a roseira

De sua alma de menino.

Neste sertão nordestino

Que ele percorreu inteiro

Atravessou prá Bahia

Com seu grupo bandoleiro

E um dia de tardezinha

Chega em uma fazendinha

Já cercando o pátio inteiro

O bando de cangaceiros

Não deixa ninguém sair

Tomando tal precaução

Com a intenção de impedir

Que ali alguém escapasse

E à policia avisasse

E viessem lhe perseguir.

Quando o dono veio abrir

A porta da moradia

Deu de cara com o bando

Cuja fama ele sabia

Mas foi logo encorajado

A ficar despreocupado

Que nada aconteceria.

Zé Gomes, Dona Maria

Joaquina da Conceição

Chamada de Dona Déa

Ali pela região

Nada podendo fazer

Tiveram que acolher

O bando de Lampião.

Esse pede uma refeição

Para o bando alimentar

Não tinha bode nem rês

Então resolvem matar

As galinhas do terreiro

No fim nenhum cangaceiro

Dormiu ali sem jantar.

E antes de repousar

Ainda houve muita conversa

Respeito das duas partes

Ninguém ali tinha pressa

Tanto que na despedida

Uma visita repetida

Ficara ali a promessa.

Mas vamos ao que interessa

Na vida do fazendeiro

José Gomes de Oliveira

Agricultor e vaqueiro

Zé Felipe o apelido

Por todos bem conhecido

Por aqueles tabuleiros.

A vinda dos cangaceiros

Na Malhada da Caiçara

Que era o nome da fazenda

Em casa dele encontrara

Mulher, um primo e três filhas

Havendo outra na família

Mas essa já se casara.

As filhas que encontrara

Na casa do fazendeiro

Toinha, Dondom, Dorzina

Não os nomes verdadeiros

Faltava a quarta casada

Mas estava separada

Do marido, um sapateiro.

A volta dos cangaceiros

Nessa região baiana

Maria também estava

Sendo essa a 4ª mana

Morena, cabelo preto

Jovem de um corpo perfeito

E estatura mediana.

Ela conhecia a fama

Do famoso Lampião

Chegara a sonhar com ele

E mantinha a ilusão

De um dia encontrá-lo

Pois queria acompanhá-lo

Nas caatingas do sertão.

Após a apresentação

Uma mútua simpatia

Surge imediatamente

Em Lampião e Maria

Longo tempo conversando

Ele foi lhe perguntando

Se ela bordar sabia

A resposta de Maria

Positiva prá agradá-lo

Que lhe entrega 15 lenços

De seda prá ela bordá-los

E no final da conversa

Fica assumida a promessa

De voltar para buscá-los.

Volto agora a nomeá-los

José Gomes de Oliveira

Ou Zé Felipe era o pai

Chefe de família ordeira

Dona Déa, mãe da família

Composta de 4 filhas

Sendo 3 ainda solteiras.

Maria Gomes de Oliveira

De Lampião era o bem

Casada com Zé Miguel

Da Silva ou Zé de Neném

Estavam em separação

Mas ela ao ver Lampião

Não olhou mais prá ninguém.

As outras irmãs a quem

Na frente foram citadas

Antonia, Amália e Olindina

Por Dorzina era chamada

Por Dondom Amália vinha

Antonia era Toinha

Assim eram apresentadas.

Maria de Déa, a casada

Nasceu em 8 de março

Mil novecentos e onze

E envolvida no laço

Do famoso Lampião

Passou a ser no sertão

A RAINHA DO CANGAÇO

Prá Zé Felipe o embaraço

De ter por genro o bandido

Mais famoso no sertão

Passou a ser perseguido

Da policia que chegara

Deixando na caiçara

Quase tudo destruído.

Por Maria foi decidido

Acompanhar Lampião

Assim livrava a família

De tanta perseguição

Uma decisão consciente

Que abriu um precedente

Na história do sertão.

Ao lado de Lampião

Maria foi a primeira

Mulher a pegar nas armas

E usar a bandoleira

E foi ela começar

Veio o cangaço a contar

Com 40 cangaceiras.

Algumas na bagaceira

Chegaram a perder a vida

Umas bravas, outras mansas

Algumas bem atrevidas

Entre fracasso e vitória

Umas entraram prá história

E outras foram esquecidas.

Abadia, a falecida

Que foi mulher de Aspensada

Também mãe de Volta Seca

O mascote da cambada

Virginio com Durvalina

O Português com Cristina

Maria Jovina e Pancada.

Dadá, a mais arrojada

Companheira de Corisco

Mariquinha e Labareda

Outro cangaceiro arisco

Mariano Granja e Otilia

Todas filhas de família

Das margens do São Francisco.

Nos conseqüentes confiscos

Dos bandos pelo sertão

Elas cuidavam dos furtos

Fosse arma ou munição

Mas todas obedecia

Aos comandos de Maria

A mulher de Lampião.

Luxo e ostentação

Seus maiores predicados

Usavam roupas de seda

E gabardine riscado

Anéis de ouro e de prata

Jóias caras ou baratas

E trancelins pendurados.

Muito dinheiro guardado

Nos alforges e bornais

Mimadas pelos seus homens

Não possuíam rivais

Muita riqueza juntavam

Mas por mais que amealhavam

Maria tinha sempre mais.

As festas e bacanais

Que elas participavam

Por timidez ou por medo

Das outras que lá estavam

Ficavam tudo inibidas

Só as mulheres bandidas

Naquela noite brilhavam.

Devido ao que ostentavam

Suas roupas enriquecidas

Um elegante vestido

Fez Maria ser ferida

Numa noite de São João

A mulher de Lampião

Quase que perdia a vida.

Foi durante uma investida

Do bando de cangaceiro

Em Serrinha do Catimbau

Que o grupo de desordeiro

Foi logo contra-atacado

Por Antonio Cacheado

Um delegado artilheiro

Nessa noite de festeiro

Maria usava um vestido

Todo branco com bolinhas

Sendo dela o preferido

Presente de Lampião

Gerou toda a confusão

Entre o grupo de bandido.

Na escuridão protegido

O grupo foi avançando

Seguindo as sombras da noite

Que escondia todo o bando

Com exceção de Maria

O vestido que vestia

Continuava brilhando.

A volante observando

O vulto na escuridão

Muitos tiros dispararam

Tendo a mesma direção

Maria Bonita é ferida

E também perdeu a vida

O seu cão de estimação.

A turma de Lampião

Evadiu-se do local

Levando Maria Bonita

Prá esconder num pedregal

E ela passou maus pedaços

Escondida no cangaço

Sem poder ir num hospital.

Serrinha do Catimbau

Ficou sem ser invadida

Por ser próxima a Garanhuns

Cidade desenvolvida

Era pouso de volante

E por esse atenuante

Estava bem guarnecida

Maria saiu ferida

Mas por nada deixaria

O companheiro sozinho

Que a ela conduzia

O tempo todo correndo

Subindo serra e descendo

Na caatinga noite e dia.

O bando descansaria

Na propriedade Crauá

Por ser o dono um coiteiro

Foram fazer o jantar

Nisso chega o fazendeiro

Mandando fugir ligeiro

Que a volante ia chegar.

Foram todos se equipar

Prontos para combater

Lampião estava deitado

Limitou-se a responder:

“Não estou procurando intriga,

Se eles chegar nós briga

Se não, nós vamos comer.

Não vou deixar se perder

A comida feita aqui”.

Se preparou prá o combate

E ordenou a Juriti

Preparar as montarias

Prá Sila, Dulce e Maria

E as ajudasse a fugir.

Mas viu Maria insistir

E aprontar seu armamento

Houve uma luta rápida

Num combate violento

Viram cair sem ação

Barra Nova, Mergulhão

Marinheiro e Novo Tempo.

Registros em documentos

Afirmam com exatidão

Ser essa a última luta

Travada por Lampião

Dos quatro homens feridos

Três haviam sucumbido

Só escapou Mergulhão.

O tempo da extinção

Do bando estava chegando

Os grupos se dividindo

As volantes se agrupando

Quarenta e oito soldados

Em quatro grupos formados,

O cerco foram fechando.

Os bandos sob o comando

De Sereno e Lampião

De Corisco e Labareda

Dois estavam em missão

E os outros dois a esperar

Os da viagem voltar

Prá uma reunião.

Com Sereno e Lampião

Haviam 5 cangaceiras

Maria de Juriti

Enedina de Cajazeira

Sila, Dulce e Maria

Quando o dia amanhecia

Numa triste quinta-feira.

Chovia bala certeira

No bando de Lampião

Morrendo ele e Maria

Luiz Pedro e Mergulhão

Enedina e Quinta-Feira

Elétrico e outra cabroeira

Sem identificação.

DO POETA MANOEL DE BIA:

(Santa Luzia - Paraiba)

Valente foi Virgolino

Com a sua cabroeira,

Entocado na trincheira

Mostrou que não foi mofino;

Porém o fraco destino

Lhe jogou numa emboscada,

Foi as cabeças cortadas

De todo seu batalhão

QUE O MUNDO É UMA ILUSÃO

E A VIDA NÃO VALE NADA.

DO POETA MANOEL DE BIA:

(Santa Luzia - Paraiba)

Valente foi Virgolino

Com a sua cabroeira,

Entocado na trincheira

Mostrou que não foi mofino;

Porém o fraco destino

Lhe jogou numa emboscada,

Foi as cabeças cortadas

De todo seu batalhão

QUE O MUNDO É UMA ILUSÃO

E A VIDA NÃO VALE NADA.

1- O Folclore, a Viola, a Cantoria

2- Zé Limeira – O poeta de absurdo.

3- Pinto - O Cascavel do Repente

4- Otacílio - O Uirapuru do Nordeste

5- A Patativa do Assaré

6- Zé Limeira e Anastácio

7- Braz Macacão

8- Braz Macacão e Juca Cumbuca

9- Poemas em Cantoria

10 - Poemas em Cantoria II

11 - Adágios em Poesia

12 - Zico da Conceição

13 - Zito Siqueira

14 - Zé Marcolino

15 - Os Desafios de Pinto

16 - Poesias de Patativa

17 - Poemas em Cantoria III

18/22 - Manoel de Bia - Sua História

Sua Poesia (Cinco Volumes)

23 - Aventura Pedagógica

24 - Quando Chove no Sertão

25 - O Professor Deveria sem Melhor...

26 - Docival Alves

27 - O Mundo é uma Ilusão

28 - Terra Caída

Cordéis escritos por Zé Lacerda

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 16/12/2009
Reeditado em 09/08/2014
Código do texto: T1981191
Classificação de conteúdo: seguro
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