SINHÔ PEREIRA, O MENTOR DE LAMPIÃO

Esse é mais um cangaceiro

Que em Pernambuco nasceu

Sebastião Pereira Silva

O completo nome seu

Um dos poucos que safou-se

Brigou muito e retirou-se

Do cangaço e não morreu.

No dia 20 nasceu

Logo no mês de janeiro

O ano é 96

Local não temos roteiro

O século é mil e oitocentos

Grandes acontecimentos

Envolvem esse cangaceiro.

Sinhô foi o derradeiro

Nome de grande expressão

Na história do cangaço

Antes de vir Lampião

Disputa por terra e briga

Questões políticas, intriga

O regime do sertão.

O menino Sebastião

Filho de Manoel Pereira

E de Constância Valões

Todos da mesma ribeira

Uma região de conflito

Que se estendia de Granito

A Afogados da Ingazeira.

Sinhô teve uma carreira

Formada por sururú

Sobrinho de Andrelino

O Barão do Pajeú

Que há 48 anos

No sertão pernambucano

Impunha um regime cru.

Foi no meio desse angú

Que nascera esse menino

Vendo o povo sujeitar-se

Ao tio-avô Andrelino

Crescera nesse regime

Vez por outra vendo um crime

Convivendo com assassino.

Mas acima de Andrelino

Tinha gente de doutrina

O chefe deles, Manoel

Pereira e mais Jacobina

Que estudou no seminário

Foi o pivô sanguinário

De muita carnificina.

Padre Pereira era estima

Como ficou conhecido

Mil novecentos e sete

Foi vítima de um homicídio,

Começando a explosão

De um ódio que até então

Permanecera contido

Outro clã bem conhecido

Ali na mesma ribeira

Era a família Carvalho

Inimiga dos Pereira

E o primeiro assassinato

Sela o inicio do fato

De uma guerra verdadeira.

Morrendo Padre Pereira

Líder do clã de Andrelino

Morre um membro dos Carvalho

Nome Eustáquio Clementino

Deu com a cara no pó

E um tal Pedro Praquió

Fôra dele o assassino.

Dali em diante o destino

Da batalha está selado

Se reúne a pereirada

Prá escolher com cuidado

Quem chefiaria a luta

Prá ganhar toda disputa

Com a família do outro lado.

Todos foram convocados

Prá essa reunião

Manoel Pereira e Constância

Com os filhos Sebastião

Né, que tinha mais idade

E completando a irmandade

Praxedes Pereira e João.

E chegaram a conclusão

Que seria o mais novo

Por ser ainda solteiro

Mais disposto e vigoroso

Que chefiaria a luta

Enfrentando essa disputa

Em defesa do seu povo.

Sinhô abraça com gozo

E responsabilidade

Através de luta armada

Com 20 anos de idade

Já no seu ato primeiro

Forma um grupo cangaceiro

E começa a mortandade.

As suas propriedades

Geridas pelos irmãos

Que forneciam alimento

Armamento e munição

E homens selecionados

Prá formar o grupo armado

Mais valente do sertão.

O ano da reunião

Estava quase findado

Novecentos e dezesseis

Esse grupo foi fundado

Dois anos depois a briga

Já somava muita intriga

E muito homem assassinado.

Sinhô Pereira ajudado

Pelo primo Jacobina

De apelido Luís Padre

Sertão abaixo e acima

Recebe de um comboieiro

Uma carta do Juazeiro

Cujo teor determina.

Padre Cícero tinha estima

Pela família Pereira

E manda mais que um pedido

Uma ordem verdadeira

Prá pararem com essas brigas

E acabar as intrigas

Dessa guerra sem fronteira.

E com a carta primeira

Veio outra encaminhada

A um padre do Piauí

Prá onde seria levada

Era um encaminhamento

Para pouso e alimento

Por Padre Cícero assinada.

Dizia a carta citada:

“Esses moços que ai vão

Estão enfrentando problemas

Com as famílias em questão

Peço o favor de ajudá-los

E procure encaminhá-los

Pro Estado do Maranhão.

Peço empenho e proteção

Não deixe que eles desista

Padre Castro eu agradeço

O mais até nossa vista

Lembrança a minhas comadres

Assinado pelo Padre

Cícero Romão Batista”.

Mas fizeram grossa vista

Ao Padre Cícero Romão

E por fim se resolveram

Abandonar o sertão

A vida nos carrascais

E seguir para Goiás

Tomando outra direção

Deixariam o sertão

E a vida de cangaceiro

Luis Padre, Sinhô Pereira.

Juntos com seis bandoleiros

Dois que não foram citados

E os outros, Cacheado

Raimundo, Gato e Coqueiro.

Fizeram logo o roteiro

Pelo Piauí iriam

Luis Padre com dois homens

São Raimundo passariam

Sinhô e o grupo maior

Iriam por Caracol

Depois se reuniram

Assim se dividiram

Prá evitar perseguição

Da policia que soubera

Da citada divisão

Por esperteza e malandragem

Facilitando a passagem

Piorando a situação.

E começa a confusão

Ao chegar num povoado

Sinhô Pereira e seu bando

Pela força foi cercado

Havendo um combate feio

E no meio do tiroteio

Sai ferido Cacheado.

O batalhão comandado

Por Zeca Rubens, tenente

O ano era dezenove

Num dia de sol bem quente

Cacheado falecia

Após 57 dias

De ferido seriamente.

Sinhô Pereira e sua gente

Tencionava prosseguir

Mas a luta continuava

Lá no Sul do Piauí,

Viu que nada adiantava

Pois quanto mais se afastava

Mas vinham lhe perseguir.

Obrigou-se a desistir

Para casa voltaria

Contrariando o desejo

Que o Padre Cícero queria

E pensou logo consigo

Ou acabava o inimigo

Ou então se acabaria.

Em Vila Bela existia

Outra briga verdadeira

De um lado Zé Saturnino

E do outro Zé Ferreira

Que deu origem à união

Do bando de Lampião

Com o de Sinhô Pereira.

Saturnino, dos Nogueira,

Mais rico, mais avarento,

Zé Ferreira era pacato

Mas tinha filhos briguentos

Entre eles Vírgulino

Antonio, João e Livino,

Cada qual mais violento.

Combates sanguinolentos

Haviam nessa ribeira

Por parte de Saturnino

Atacando Zé Ferreira

Que em desvantagem decide

Mandar Antonio Matilde

Procurar Sinhô Pereira.

Esse junta a cabroeira

Tira seis homens de fé

Chefiados por Baliza

Cujo nome é Zé Dedé

Prá vencer Zé Saturnino

Junto ao pai de Vírgulino

Que também era José.

Sinhô botou muita fé

Nos filhos de Zé Ferreira

Principalmente em um deles

Sendo essa a vez primeira

Que os dois se encontrariam

Sem saber que formariam

Um dia a mesma fileira.

Mais seis meses e os Ferreira

Após muito estardalhaço

Com os pais já falecidos

E fadados ao fracasso

Viram Sinhô e Vírgulino

Seguirem o mesmo destino

Unidos pelo cangaço.

Pra Sinhô Pereira o braço

Direito foi Lampião

Pra Lampião Sinhô foi

A tábua de salvação

Pois os dois se completaram

E muito tempo reinaram

Nas caatingas do sertão.

Dois anos de união

De confiança e respeito

Um confiava no outro

E o outro do mesmo jeito

Sem nunca se aborrecer

Até Sinhô resolver

Deixar de uma vez o eito.

Mas juntos já tinham feito

Muitas baixas nas volantes

E nos grupos inimigos

Como fôra dito antes

Mesmo em lutas desiguais

Não recuavam jamais

Foram sempre triunfantes.

Certa vez chega um mandante

De Coité, no Ceará

Major Inácio de Souza

Que mandava convocar

Sinhô Pereira e seu bando

Pra combater uns desmandos

Que estava ocorrendo lá.

O vigário do lugar

Padre Lacerda chamado

Que praticava os desmandos

Com um grupo bem armado

Esperava numa fazenda

Para enfrentar a contenda

Muito bem entrincheirados.

Vinte e um tinha chegado

Dia vinte de janeiro

Sinhô Pereira chegara

Com setenta cangaceiros

Sendo metade o seu bando

E a outra sob o comando

Do major que era um coiteiro.

Morreu quatro cangaceiros

Quatro baixas no cangaço

Um foi de Sinhô Pereira

E três do Major Inácio

E ainda na bagaceira

Antonio, um dos Ferreira

Saiu ferido no braço.

Mas essa luta foi fácil

Sinhô venceu novamente

No fim da tarde outra luta

Com a volante de um tenente

Que chegou na retaguarda

Sinhô fez sua retirada

Com sua tropa valente.

Quando estavam bem na frente

Começava a anoitecer

Nova briga com soldados

Fez a terra estremecer

A cabroeira enfurecida

Com uma hora de batida

Bota a força prá correr.

Ganhar uma luta ou perder

Já estavam acostumados

Chegaram numa fazenda

E ficaram entrincheirados

Uns da casa prá o quintal

Outro grupo no curral

E um terceiro no cercado.

Como já era esperado

Antes do dia raiar

Chegam 40 soldados

Abaixados, devagar

Mas já eram observados

Pelo bando do cercado

Que deixou todos passar.

Já prontos para atirar

Receberam uma rajada

O grupo lá do cercado

Atirou na retaguarda

E entre o fogo cruzado

Começa a cair soldado

Deixando a terra empoçada.

Bateram em retirada

Sob fogo de fuzil

Foi a maior debandada

Que no cangaço se viu

Das lutas de Sinhô Pereira

Talvez foi essa a primeira

Em que ninguém se feriu.

Na Fazenda Tamboril

Outro embate verdadeiro

Onze soldados feridos

Dois mortos no tabuleiro

O bando todo bradou

Porque ninguém provocou

Ferimento em cangaceiro.

Na Fazenda Tabuleiro

Numa certa ocasião

Sinhô chegara com o bando

Sob forte cerração

Muita gente baleada

E três balas alojadas

No corpo de Lampião.

Livíno, um dos seus irmãos

Também saiu baleado

Daí prá frente Sinhô

Que andava adoentado

Quase sem poder andar

Começa logo a pensar

Em se afastar do cerrado.

Lhe chega mais um recado

Do Padre Cícero Romão

Para abandonar a luta

E ir embora do sertão

Era o que ele queria

Pois a ordem coincidia

Com a sua decisão.

Ele chama Lampião

Para lhe comunicar

E avisa aos companheiros

Que quem quisesse parar

Aproveitasse o momento

Para o seu afastamento

E tentasse se arrumar.

Quem quisesse continuar

Sob ordens de Lampião

Ou formar seu próprio bando

Tinha sua aprovação

Pois ele fez paradeiro

Não era mais cangaceiro

E ia deixar o sertão.

No bando com Lampião

Seguindo o mesmo destino

Ficou Xerife e Baliza

Os 3 irmãos Venturino

Meia Noite, Zé Melão

E os irmãos de Lampião

Antonio Ferreira e Livíno.

Sinhô pede a Virgulino

Prá vingar um parente seu

Na cidade de Belmonte

Onde um fato aconteceu

Cuja história vem depois

Mas na conversa dos dois

Virgulino prometeu.

Sinhô se escafedeu

Das lutas prá liberdade

Em agosto de 22

Levou consigo a saudade

Do solo pernambucano

Com apenas 26 anos

E 7 meses de idade.

Série Cangaceiros, Vol. IX

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 16/12/2009
Reeditado em 01/02/2011
Código do texto: T1981168
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