ADOLFO MEIA NOITE

Meia Noite era apelido

De mais um dos bandoleiros

Que fez parte do cangaço

Logo nos tempos primeiros

E apesar dos seus brios

Já tinha tido alguns tios

Que haviam sido cangaceiros.

Adolfo o nome primeiro

Não se sabe mais de nada

Também o seu nascimento

Tem data indeterminada

E mesmo sendo um bandido

Um pouco desconhecido

Provocou muita zuada.

Sua vida desregrada

Tem haver com seus amores

Afogados da Ingazeira

Lá no Pajeú das Flores

No sertão pernambucano

Foi nascido esse tirano

Junto aos seus perseguidores.

Pais muito trabalhadores

Tinham nele grande estima

Sobrinho de um coronel

Que tinha alma ferina

Político na região

No lugar do coração

Tinha nitroglicerina.

Pai de uma linda menina

Atraente e elegante

Prima legitima de Adolfo

Com diferença marcante

O pai dele obedecia

Porque nada possuía

E o dela era dominante.

Por acinte ou por displante

O destino alcoviteiro

Quis que os dois se apaixonassem

Prá de modo traiçoeiro

Tirá-lo da honradez

E transformá-lo de vez

Em terrível cangaceiro.

Manoel e Sinobileiro

De Meia Noite os irmãos

Tentavam dissuadi-lo

Daquela louca paixão

Pois conheciam as maldades

E acintuosas crueldades

Do tio sem coração

Adolfo na ilusão

Da beleza feminina

Acreditando no tio

Que lhe demonstrava estima

No começo relutando

Acabaria aceitando

Seu casamento com a prima.

A alma impura e assassina

Como era de se esperar

Disse que não criou filha

Prá com mendigo casar

E de forma traiçoeira

Resolve à sua maneira

Os pombinhos separar.

Manda três cabras pegar

Meia Noite e amarrá-lo

Num tronco colonial

E fortemente açoitá-lo

Chegando em casa ferido

O pai muito ressentido

Recusou-se a abençoá-lo.

Só podia perdoá-lo

Depois que ele lavasse

Aquela ofensa com sangue

De modo que se vingasse

Do rico esquecesse a filha

E o carrasco da família

Ele mesmo assassinasse.

E em casa só voltasse

Quando cumprisse a missão

Adolfo na mesma noite

Se esgueira pela mansão

Invade o quarto do tio

Corta-lhe da vida o fio

Prá ter do pai o perdão.

Foge com os seus irmãos

Manoel e Sinobileiro

E o trio passa a viver

No vale do Rio Pinheiros

Pela policia caçados

Morrem três jovens honrados

E nascem três cangaceiros.

Para os homens do dinheiro

Que mandavam no sertão

Matar um chefe político

Era crime sem perdão

Por ser pessoa importante;

E daquela noite em diante

Começa a perseguição.

Para Adolfo e seus irmãos

Termina o tempo de paz

E começa um novo tempo

Vivendo nos carrascais

Levando a vida a roubar

E fugindo prá escapar

Das forças policiais.

Diferente dos demais

Meia Noite era pacato

Mesmo sendo um cangaceiro

Vivendo dentro do mato

Aos pequenos respeitava

E nas lutas só brigava

De acordo com o desacato.

Naquele tempo era fato

Se transportar importância

Através de mensageiro

Ou escravo de confiança

De um a outro local

Por dentro do matagal

Prá encurtar a distância.

Foi numa dessas andanças

Que o trio de cangaceiro

Encontrou com Periquito

Um negro do cativeiro

Que levava num jumento

Recebida em pagamento

Grande importância em dinheiro.

Manoel e Sinobileiro

Começaram a açoitá-lo

Tomando dele o pacote

Com a intenção de roubá-lo

Mas Meia Noite se impôs

Tirando o negro dos dois

Depois foi interrogá-lo.

“Não precisamos roubá-lo

- Disse para os companheiros-

Eu conheço Periquito

Sei que ele não tem dinheiro

Se ele carrega ou não

Não é dele, é do patrão,

Nós não somos desordeiros”.

E pergunta ao mensageiro

Que tremia como o vento

Quando bate na ramagem

Provocando movimento

- De tudo que vai levando

Diga se está transportando

Munição e alimento.

O Negro nesse momento

Responde com voz chorosa

-Levo quinhentos mil réis

Do senhor Paulo Barbosa

Recebi em pagamento

De uma venda de alimento

Ao coronel Espinosa.

Da fazenda Santa Rosa

Estou viajando há dois dias

De comer só rapadura

Carne seca e água fria

E um pouco de farinha

Mas hoje de tardezinha

Termino essa travessia.

-Isso é tudo que eu queria

Para nossa precisão

Deixe a comida e vá embora

Terminar sua missão

Mas leve o pacote inteiro,

Se eu precisar de dinheiro

Vou tomar do seu patrão.

Era assim pelo sertão

No tempo dos cangaceiros

Nem sempre os fugitivos

Tinham que ser desordeiros

Às vezes a precisão

É que fazia o ladrão

Por aqueles tabuleiros.

E esses três cangaceiros

Sobrinhos de coronel

Se envolveram na maldade

Pelo destino cruel

Adolfo foi humilhado

Com a família do seu lado

Cumpriram o seu papel.

E ficar vivendo ao léu

Não é boa experiência

Prá suas necessidades

Assaltavam residências

Somente o essencial

Arma, alimento, animal

Conforme a conveniência.

Na policia a inclemência

Continuava imperando

Espalhada na caatinga

Meia Noite procurando

Vez por outra se encontravam

O céu escuro ficava

Com o fumaceiro nublando.

Até que um dia cruzando

Um rio que estava cheio

O grupo foi alvejado

Quando estavam bem no meio

Sem haver outra saída

Adolfo perdeu a vida

Baleado no tiroteio.

Série Cangaceiros, Vol. VII

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 16/12/2009
Reeditado em 01/02/2011
Código do texto: T1981149
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