O preço de um cidadão> Autor: Damião Metamorfose.

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01=I

Hoje eu vou contar um causo,

Mas prestem bem atenção.

Não quero denegrir seitas

Igreja ou religião...

O meu intuito é mostrar,

O quanto pode custar,

O preço de um cidadão.

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02=II

O meu assunto em questão,

Faz tempo que aconteceu.

E foi na antiga Europa,

Que esse fato ocorreu.

Um homem de muita soma,

Decidiu visitar Roma,

A terra do Coliseu.

*

03=III

Eu não sei o nome seu,

Nem a data nem o ano.

Mas o local eu garanto,

Sem ter duvidas ou engano.

Nem preciso olhar no mapa,

Foi na cidade do papa,

A terra do Vaticano.

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04=IV

Presidente soberano,

De uma multinacional.

Dessas que vendem produtos,

Em escala mundial.

-E esse mestre da cobiça,

Resolveu ir a uma missa,

Em dia dominical.

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05=V

Ao chegar à catedral

E ver a praça lotada.

Pensou logo em promover,

Sua marca registrada.

Sendo um marketeiro esperto,

Resolvei chegar mais perto

Do papa e dar uma cartada.

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06=VI

Depois da hóstia elevada,

Chamou um babão papal.

Subornou bem sorrateiro,

De forma bem cordial.

E o mesmo disse: eu garanto

Que te levo ao homem santo,

Mas aguarde o meu sinal.

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07=VII

A missa chega ao final

E o beato acenou.

Para um lugar reservado,

O empresário a levou.

Meditabundo e sentado,

O papa estava calado,

Quando o empresário entrou.

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08=VIII

Sem rodeios perguntou,

O que o senhor deseja?

Seja breve, por favor,

Diga logo o que almeja.

Pois quero me concentrar,

Que já - já vou celebrar,

Outra missa na igreja.

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09=IX

O homem disse: assim seja,

Eu estive observando...

Que o senhor tem domínio,

Aos que estão te escutando.

Seja em gestos ou prece,

Ordena e o povo obedece,

Estão sob o seu comando.

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10=X

E tem uma hora quando,

O senhor levanta a mão.

Dizendo: esse é o meu sangue...

E em todos que ali estão.

Manifesta uma hipnose,

Tipo uma metamorfose,

Dominando a multidão.

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11=XI

O popa disse: pois não,

Onde o senhor quer chegar?

Da forma que se expressou,

Falando em hipnotizar.

Parece ser de outra crença,

Seja breve e me convença

Ou pode se arretirar.

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12=XII

Pode o senhor me falar,

Qual é a sua proposta?

Que depois eu lhe direi,

Se te dou alguma resposta.

Mas vamos pra sala ao lado,

Que é muito mais reservado

Portanto: menos exposta.

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13=XIII

Já vi que o senhor não gosta,

De perder tempo atoa.

Homem fino e de negócios,

Educação muito boa.

De boa índole também,

Pra prosa não ir além...

Parece uma ótima pessoa.

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14=XIV

Nessa hora o sino ecoa,

Num badalar compassado.

Era um aviso que o tempo,

Estava quase esgotado.

Restava só meia hora,

E o papa disse: e agora

Fale o que quer meu prezado?

*

15=XV

Em tom claro e explicado,

E em total privacidade.

Frente a frente com o chefe,

De parte da humanidade.

O homem disse: o que eu quero,

Além de ajudar o clero,

É propor uma sociedade.

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16=XVI

Eu sou uma santidade

Sou sustentáculo da fé.

Que sociedade é essa!

E porque a minha sé?

Meu tempo está se esgotando

E o povo está esperando,

Diga-me logo o que é...

*

17=XVII

Os dois ficaram de pé,

O babão trouxe uma estola.

O papa disse: adiante-se,

Seja breve, não me enrola.

-E o homem falou baixinho,

Quero que em vez de vinho,

Sirva aos fieis, coca-cola.

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18=XVIII

Desconfiei da esmola,

Não eu não posso aceitar.

Esse ritual cristão,

É tradição milenar.

Se não é só parolagem,

Diga-me qual a vantagem,

Para o ritual mudar?

*

19=XIX

Um por cento eu vou te dar,

De toda a renda mundial.

Para o senhor levantar,

O cálice celestial.

E dizer para o seu povo,

Bebam do meu sangue novo...

Ou algo mais genial.

*

20=XX

Sabes que o álcool é um mal

E está contido no vinho.

E além desse “um por cento”

Prometo não ser mesquinho.

Onde houver celebração,

Vai ter coca pro povão,

Pense só mais um pouquinho...

*

21=XXI

Não posso pensar sozinho,

Assim eu serei omisso.

Peço ao senhor, por favor,

Por favor, Pare com isso!

Pra te falar a verdade,

Essa tal sociedade,

Atrasou meu compromisso

*

22=XXII

Por favor, chame o noviço,

Bispo, padre e sacristão...

Chame logo todo o clero,

Pra uma reunião.

E avise lá no altar,

Que também vai atrasar,

A próxima santa missão.

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23=XXIII

Em pouco tempo o babão,

Trouxe todo o episcopado.

E a seção começou,

Ali no salão fechado.

E o ilustre empresário,

Sem ouvir nem comentário,

Ficou na sala ao lado.

*

24=XXIV

O tempo quase parado,

E ele ali na espera.

É nessas horas que o tempo,

Parece uma quimera.

E ele pensando calado,

Se nada for aprovado,

O meu emprego, já era.

*

25=XXV

O papa feito uma fera,

Lá no salão calculava.

Um por cento vezes quanto?

Vezes quanto? E não achava.

Quanto é quanto seria?

Mas ninguém ali sabia,

Quanto à coca faturava.

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26=XXVI

A todos questionava

E todos sem exceção.

Diziam: o senhor não sabe?

Sinto muito, eu também não.

Mas eu acho santidade,

Que essa sociedade,

Vale bem mais de um milhão.

*

27=XXVII

Chame logo o cidadão,

Que ele tem a resposta.

E eu também quero fazer,

A minha contra proposta.

Se ele causou meu tormento,

Vou pedir é dez por cento,

Pra ver se perto ele encosta.

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28=XXVIII

Fizeram até aposta,

O papa não, só o clero.

Uns diziam: cinco e seis,

Sete oito ou nove eu quero.

Todos já estavam tensos,

Eretos pensando pensos,

Lapidados, sem esmero.

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29=XXIX

O papa disse: eu espero,

Que o senhor seja claro.

Sei que é homem de negócios,

Viajado e bom de faro.

Com a nossa reunião,

Chegamos à conclusão

E é dez por cento eu declaro.

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30=XXX

Assim não! Vai ficar caro,

Dois e o abastecimento.

Tá pouco nove e fechado,

Tá muito, eu dou três por cento.

Oito sete, seis e cinco,

Quatro é só isso eu não brinco

Comece o fornecimento.

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31=XXXI

Para selar o momento,

Brinde com coca ele fez.

Até que um deles pergunta,

É por dia ou é por mês?

E o papa disse: oh! Seu quiba,

Nem acabamos a briga,

Quer começar outra vez?

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32=XXXII

E assim mostrei pra vocês,

De forma bem humorada.

Nesse cordel em septilha,

Com deixa e metrificada.

Que seja fim ou começo,

Todo homem tem um preço,

Basta uma boa cantada.

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33=XXXIII

Pode parecer piada,

De mau gosto e com maldade.

Até porque nenhum papa,

Fazia essa sociedade.

Mas vendo por outro lado,

O teor do meu recado,

Tem um fundo de verdade.

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34=XXXIV

Que nenhuma santidade,

De seita ou religião.

Condene o meu cordelzinho,

Que fiz só por diversão.

E antes de alguém julgar,

Esse humilde potiguar,

Já vai pedindo perdão.

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35=XXXV

D*eus me deu a inspiração,

A*pontou todo o caminho.

M*ostrou-me cada detalhe,

I*mportante e em desalinho.

A*gora vamos fazer,

O* brinde com coca ou vinho?

*

Fim

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29/11/2009

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 30/11/2009
Código do texto: T1952017
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