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Estive lendo “O Solitário”

que é um conto que eu conto

quem o conta aumenta um ponto

diz o povo em falatório.

Seja errado ou seja certo

vamos ver o que há de perto:

coincidência ou fadário.

Esse cara de quem falo

é ficção, é mero acaso

que me conta aquele caso.

Só pra figurar revolta

no que vive ainda assim

seu sofrer só vai ter fim

quando a morte quebra o vaso.

Como vive o aposentado

tão sofrido no casulo

é a pergunta que formulo

sem querer ser malcriado.

Eu também me aposentei

no EMEESSE eu trabalhei

no INAMPS fui instalado.

Do INPS co’amor

no meu tempo fiz concurso

era o pródigo recurso

do povo trabalhador;

que cuidava da saúde

da doença e do ataúde,

do operário ao doutor

Com o tempo a esperança

definhou feito a velhice

pois a mídia mesmo disse

foi freada a gastança;

foi a soma repartida

pois dos velhos hoje a vida

dura igual à da criança

Nesse conto do homem só

que me deu a entrevista

pareceu-lhe uma conquista

cevar burro a pão de ló.

Mas sua renda escasseando

acabou brutalizando.

Sua velhice hoje dá dó

Vendo vida tão comum

comparei com meu destino

os leitores que estimo

somam mais setenta e um.

Eu também tenho essa idade

por não ter necessidade

hoje não faço jejum

Por seara e por canteiro

treino o poema no cordel,

tomo a letra e adoço o mel.

Meu amigo recanteiro

não me deixe à deriva

se fraudei a expectativa

co’este texto sobranceiro.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 28/11/2009
Reeditado em 28/11/2009
Código do texto: T1948583
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