A discussão da mandioca e o milho> Autor: Damião Metamorfose.

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01=I

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Meu avô sempre dizia

Pra mim, que planta falava.

Sorria e ficava triste,

Ouvia e até chorava.

Eu sempre escutei calado,

Mas por ser desconfiado,

Às vezes eu duvidava.

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02=II

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Dia desse eu estava,

Indo lá para o roçado.

De um vizinho que me deu,

Milho para um cozinhado.

E umas vagens de feijão,

Pra fazer um rubacão,

Com couro de porco assado

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03=III

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Lá também tinha plantado,

Bem nas laterais da broca.

Muitos pés de macaxeira,

Que uns chamam de mandioca.

-Mas antes de chegar lá,

Eu fui caçando preá,

Com uma espingarda de soca.

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04=IV

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Fazendo a mira e de “coca”

Debaixo de um juazeiro.

Eu estava, quando ouvi...

Lá na roça um converseiro.

Desarmei a espingarda,

Resguardei a retaguarda,

E fiquei alcoviteiro.

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05=V

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Vento suave e rasteiro,

A mata silenciosa.

Tirando algum passarinho,

Que quando vê gente goza.

A paz era tão serena,

Que se caísse uma pena,

Soava melodiosa.

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06=VI

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Mas foi ficando nervosa,

A conversa que eu ouvia.

Fui andando a passos lentos...

Já sem fazer pontaria.

Cheguei mais perto pra ver,

Doidinho para entender,

O que ali acontecia.

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07=VII

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Em cruz credo ave Maria,

Santo pai, espírito e filho.

O meu susto foi tão grande,

Que errei no trocadilho.

Ao ver que aquela intriga,

Era o começo da briga,

Da mandioca e o milho.

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08=VIII

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O sol tava que era um brilho,

Céu sem nuvem e azulado.

Com o susto eu senti sede,

Fiquei tremendo e suado.

Mas como já fui roceiro,

Mastiguei o marmeleiro

E fiquei aliviado.

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09=IX

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Procurei um reservado,

Na sombra de um marmelo.

Acendi um borozinho,

Sentei-me no meu chinelo.

Da espingarda fiz encosto,

Fiquei abanando o rosto

E assistindo o duelo.

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10=X

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Bicho do dente amarelo,

Assim disse a mandioca.

Se eu não te protegesse,

Daqui do aceiro da broca.

O gado tinha invadido

O roçado e te comido,

Tu nem tinha tamboroca.

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11=XI

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Cale essa boca e se toca,

Macaxeira despeitada.

O patrão não te escolheu,

Porque tu és aguada.

Ele falou para mim,

Que macaxeira é tão ruim,

Que a boa fica enterrada.

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12=XII

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Não estou te devendo nada,

Disso eu tenho confiança.

O patrão me pos aqui,

Pra te fazer segurança.

Estou no aceiro da broca,

Mas quando eu for tapioca,

Vou alimentar criança.

*

13=XIII

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Tu inda tens esperança,

Que alguém queira tapioca?

As crianças de hoje comem,

É salgadinho e pipoca.

Bolo de fubá, sucrilho,

Curau, sorvete de milho,

E o meu suco, belezoca.

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14=XIV

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Convencido, a mandioca,

É tão útil quanto o milho.

Com ela se faz farinha,

Fécula, goma e polvilho.

E as crianças do Brasil,

Em mil afirmo que as mil,

Adoram comer sequilho.

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15=XV

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Meu patrão disse que o filho,

Gosta de mim cozinhado...

Na canjica, angu, pamonha,

Xerém, cuscuz e assado.

Em tudo eu sou um deleite

E estou até no leite,

Porque sou ração pro gado.

*

16=XVI

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Eu sou melhor abestado,

Deixo a mesa mais bonita.

Sou dez com carne de sol,

Cozida, ao forno ou frita.

E essas folhas aqui,

Lá no norte é tucupi,

Que é gostoso e excita.

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17=XVII

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A milharada é bendita,

Por isso estou no roçado.

Da raiz ao meu pendão,

Tudo é bem aproveitado.

Meu óleo é delicioso

E até uísque fogoso,

Com meus grãos é fabricado.

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18=XVIII

*

Só se for falsificado,

Bicho pabo e asqueroso.

Eu sou muito mais gostosa,

Tudo em mim é mais gostoso.

Tu tens mais variedade

E eu tenho mais qualidade,

Ganha como mentiroso.

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19=XIX

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Pergunte a aquele medroso,

Que está ali deitado.

O que ele veio buscar,

Aqui no nosso roçado.

Resolva esse empecilho,

Se não for feijão ou milho,

Eu me dou por derrotado.

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20=XX

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E nisso eu ouvi um brado,

Acordei me espreguiçando.

Procurei o meu chapéu,

Vi o meu boró queimando.

Tirei do olho a remela,

Dei outra espreguiçadela,

E fiquei ali pensando.

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21=XXI

*

Será que eu tava sonhando...

Ou é amalucaçao?

Levantei-me e fui pra roça,

Catei o milho e o feijão.

Fui ao aceiro da broca,

Só num arranquei mandioca,

Porque não tinha enxadão.

*

22=XXII

*

Toda aquela discussão,

Serviu para eu conhecer.

A importância das plantas

Ou de qualquer outro ser.

Tirei a bala da soca,

Nunca mais eu faço broca,

Nem mato para comer.

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23=XXXIII

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D*eu pro leitor perceber,

A* síntese e o estribilho.

M*esmo eu inventando é,

I*mportante pro seu filho.

A*mandioca ficou,

O*feijão foi com o milho.

*

Fim

18/11/2009.

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 21/11/2009
Código do texto: T1935596
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