PÉS E MÃOS NA COZINHA

Miguezim de Princesa

I

Disse um dia Feagacê

Que tinha um pé na cozinha,

Mas enfiou foram os dois

Pra dentro da camarinha:

Sua libido fixou-se,

Com olhos de bico-doce,

Numa fruta madurinha.

II

Já passado dos sessenta,

Temendo sair de cena,

Tomou uns dois comprimidos

Quando avistou a morena,

Esparramou-se na cama:

Foi quando a primeira-dama

Chamou-se Maria Helena.

III

Na ânsia a resfolegar

Naquele momento exato,

Esqueceu a camisinha

Pra se proteger no ato,

Fez finca pra mais de dois

E nove meses depois

Nasceu o filho mulato.

IV

Um senador gordo e chato

Tratou de esconder a cria:

Fez as vezes de estafeta

E lá em Santa Maria,

Às custas de cuia de milho,

Sumiu com a mãe e o filho

No fim da periferia.

V

Numa casinha pequena,

Onde mal cabia uma cama,

Aconchambraram o chamego

Para não manchar a fama

Do sociólogo porreta

Que chama a negra de preta

Pensando que é sua mucama.

VI

E mesmo tendo amado

O chefe dos generais,

A negra com nome grego

Não vai esquecer jamais

(Essas coisas não se esquece)

Que até hoje padece

Pelos serviços gerais.

VII

Mas isso é reincidência

De quem acha que só ganha:

Namorou uma jornalista,

Numa atitude tacanha,

Outro filho que gerou

No mesmo instante exilou

Em terras lá da Espanha.

VIII

A imprensa brasileira,

Que se diz muito arretada,

Livre, forte, independente

E sem rabo preso a nada,

À exceção de Cláudio Humberto,

Nunca passou nem por perto:

Foi muda e saiu calada.

IX

Feagacê não perdoa:

Não pode ver uma gueixa.

A cor é só um detalhe.

O que passar ele “queixa”

(empregada e jornalista),

Só não papa repentista

Porque a gente não deixa.

X

Digo aos vizinhos paraguaios,

Que estavam cheios de razão,

Orgulhosos porque Lugo

Virou um bicho-papão

Devorador de donzelas,

A pátria verde e amarela

Também tem um garanhão.

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 20/11/2009
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