PABULAGEM - Um causo Pessoense
Quem não tem aquele amigo
que se diz o pegador,
que desconhece o perigo
mas jura ser o terror?
Diz que manda onde estiver,
que é o bonzão com mulher,
o grande conquistador!
Eu conheço um cara assim,
mas não vou nome citar,
só vou contar-lhes um causo
qu’eu pude presenciar:
um caso de pabulagem,
de contação de vantagem,
que se assucedeu num bar!
Nesse bar tinham três deusas,
umas tás de garçonetes,
das que vendem no balcão
de cachaça a grapettes.
Eram moças tão bonitas,
que ante mesmo às biritas,
eram elas as vedetes!
Pois pronto, foi nesse bar
(esse tal de espaço mundo)
qu’eu ouvi o Dom Juan
usar seu papo profundo...
Colóquio tão cabeça
que nem qu’eu queira o esqueça
por um único segundo!
Primeiro vou explicar
como ele me contou:
- Cheguei no balcão do bar,
a primeira me olhou...
Eu pedi uma cerveja;
ela disse “assim seja”
e por mim se apaixonou...
- Pediu o meu telefone
segurando em minha mão,
piscou o olho pra mim
e eu pensando “por que não?”;
atendi ao seu pedido
e antes d’eu ter saído
já tinha uma ligação!
E emendando ele me disse
que já tava faturando
aquela Deusa do bar,
que a todos anda atentando.
Vôte, cara pabuloso!
Veio bancar o gostoso
e acabou foi se quebrando.
Pois eu tava no balcão
(ele não me conheceu)
e sem querer eu ouvi
como tudo aconteceu.
Eu não ia nem contar,
mas veio se pabular
e agora se fudeu!
Esse cara abestalhado
ficou por ali bestando
sem ninguém lhe atender
e ele em pé esperando;
olhando pra garçonete,
que só num deu-lhe um bufete
por que tava trabalhando!
Depois de tempos em pé,
encostado no balcão;
gritou por uma cerveja,
Esperou mais um verão,
e quando foi atendido
foi muito bem precedido
da falta de atenção!
A moça nem o olhou,
mas não foi indelicada.
Também nem se o quisera
sendo tão agraciada!
Porém notei que a bebida
que tinha sido servida
não tava muito gelada...
E o coitado ainda crente
de arrebatar a musa,
pra tentar puxar assunto,
endireitou sua blusa;
fez cara de Zé ruela,
pediu dois copos a ela
que o despachou obtusa...
Daí eu olhei pra trás:
Lá ia ele bufando,
com uma cerveja quente
e dois copos lhe sobrando!
Só o vi no outro dia,
cheio de prosa e folia;
da noite se pabulando!
Pois toma seu mentiroso!
Tu pensa que engana a quem?
Todo metido a gostoso
Só por que nada em vintém ?
Leva-se um belo de um toco
Inda esquece-se do troco
Da tua nota de cem...
João Pessoa, 18/11/2009.