A TAVERNA DO APAGÃO

Miguezim de Princesa

I

Na taverna brasileira,

O chefe-mor do pifão

Tomou a décima lapada

Misturada com limão,

Sentiu o mundo rodando,

Os olhos lacrimejando

E aí veio o apagão.

II

Mergulhou na escuridão,

Caído ao pé de uma escada:

Uma cuia com farofa,

Lingüiça e carne torrada,

Uma 51 secou,

No outro dia acordou

Sem se lembrar de mais nada.

III

Isso foi curto-circuito

Ou um fulminante raio?

A culpa foi da costela

E do malpassado paio,

Que era meio falsificado

E foi trazido importado

Do governo paraguaio.

IV

E durante o coma etílico,

Que alguns chamam “água dura”,

Sobreveio um pesadelo

De matar a criatura:

Monstros feios de doer

Assumiriam o poder

De mandar na rua escura.

V

Amigos de muito tempo,

Da cachaça e do gamão,

Isolavam o chefe-mor,

Que perdia a proteção

E terminava lascado,

Completamente enredado

Em um tal de mensalão.

VI

Acabavam as mordomias

(Não se tinha nem mais cuscuz),

Veio um satanás de rabo,

Dependurado numa cruz,

Com alicate afiado,

Cortou fio desencapado

E a rua ficou sem luz.

VII

Na rua ninguém se entendia,

Era uma grande confusão,

Direita virava esquerda

E naquela escuridão,

Onde ninguém enxergava,

O esperto aproveitava

Para enfiar mais a mão.

VIII

Viva a privatização

De toda a rede elétrica!

- gritava um líder de turma,

Da forma mais apoplética,

Com os 10 por cento da feira

E acampado na beira

De uma usina hidrelétrica.

IX

O delegado famoso

Aparecia no terreiro,

Com a foice e o martelo

E a mídia do estrangeiro,

Fazendo investigação

Pra saber do apagão

Segurando um candeeiro.

X

A miss paz e amor

Começou uma confusão:

- Meus filhos, que diacho é isso,

Tiraram a luz do salão! -.

E aí ficou rodando,

Sacudindo e pinotando,

Com um cacete na mão.

XI

Aproveitando o escuro,

A súcia se empanturrou:

Secou todas as garrafas

E nenhuma dose restou;

O chefe, todo suado,

Tremendo, desesperado,

Deu um grito e se acordou.

XII

E quando alguém lhe pergunta

Sobre toda a trapalhada,

Orgias e coisas que as trevas

Espalharam na Esplanada,

O chefe-mor simplesmente

Olha e responde pra gente:

- Eu não me lembro de nada.

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 18/11/2009
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