FIM DA LINHA - versão em cordel
(Terê das Bêra Mar)
Na bendita prataforma
a moça arrasta a maleta,
vai chorano, com certeza,
que o seu sonho tá cambeta.
Muié gosta de chorá,
e mais, si conta num dá,
darguma das suas treta.
Diz que tá doeno muito...
Craro que tem que doê!
O que num pode na vida
é sê froxa, amolecê.
Ninguém mandô marcá toca,
quem bobeia nisso, é loca
chifre, faiz por merecê.
Ah meu povo, ceis num sabi!
Di chifre intendo dimais
já nasci co meu pareio
posto pelo satanaiz.
De lá pra cá, só cresceu,
criô pelo, indureceu
mai num vô chorá, jamais!
Mais a moça chora sim...
Funga, geme, inconformada
diz que desistiu das coisa
é paiaça, essa tapada!
Eu, quando agarrá um gajo,
nem que ficá nos andrajo,
num largo nem na pancada.
E ela diz que num sabia
que doía tanto assim...
Pensa que chifre é moleza?
Eu que o diga! Ai di mim!
Dor de corno é bicho feio,
no amô é cartão vermeio,
é dor que num tem mai fim.
Nem doril dá conta disso...
Mais no tar paper de pão,
eu acho que ela faiô...
que agora num tem mai não.
O pão vem na sacolinha,
bateno lá nas perninha
não no peito ou coração.
Mais infim, dexa pra lá...
Depois disso é que foi duro,
o que ela disse, pegô!
Nunca vi tamanho furo...
Largá a presa que mais quis
pra fazê arguém feliz?
É batê a cara no muro...
Eu já disse: ela é lesada...
E repete sem pará
num sabia... num sabia...
Decerto é pá prepará
pá eleição du ano que vem
deve sê PT tamém
ela qué candidatá.
Só pode! Por que seria
que arguém fica escreveno,
o que tudo mundo sabe
e diz que num tá sabeno?
Faz-me rir, dona chifruda!
Inda é covarde, a cornuda
demorô pá tá desceno...
Mais desceu! Valha-me Deus!
Disse que tava cansada...
É justo. Dá pá intendê,
essa vida é uma robada.
Carece de ligereza
muita ação, muita presteza
sinão tudo acaba im nada.
Inda dexô recadinho,
praquele filho dum cão!
Se eu sô essa viajante,
dô-lhe um tiro de canhão.
Dane-se o que ele pensá,
craro que vai amargá,
essa baita traição.
E sonhava, a paspalhona...
Sonho de virá o zoinho,
sei eu lá de quantos meis
tava prenha, num cantinho.
E de repente abortô,
com o supapo que levô
lá no pé do colarinho.
Muié é um bicho tinhoso!
Mai burra do que uma porta,
corre atráis do que sonhô,
quando quase chega, sorta.
Quem é que vai intendê,
Esse modo delas sê?
Si tentá, a cabeça intorta.
Afirma que ninguém tá
preparado pra perdê...
Isso me chera à Neruda,
que eu gostio tamém de lê.
Mais a songa inda confessa,
no xororô triste à beça,
que num joga pá valê.
Perdeu sem sentá na mesa...
Sem catá as carta da manga,
sem fazê maracutaia,
nem memo sortô a franga...
Francamente! Tô passada!
Mai que muié imbarsamada!
Lê essa sonsa dá é zanga.
Diz que chegô o fim da linha...
Tá na hora de descê.
Pois eu lhe digo, mocinha,
pro seu ponto num perdê.
Se ficá nesse vagão,
vai arrumá só confusão,
tu é ruim de trelelê!
Vai saindo por aí,
diz que sem oiá patráiz...
Vai logo dá seus bordejo,
que ocê é lerda dimais!
Dá seu doce pro vizinho,
num bilisca nem um tiquinho,
inda diz que tanto faiz.
E num vai si lamentá?
PUTA QUI PARIU DE RODA!
Queria mais xororô,
du qui esse que tá na moda?
Qui tá seno ovacionado,
repassado, decramado...
pá guentá tá seno f - - -.
Eu inda nem comentei,
dos garanhão de prantão,
que vestiro essa camisa,
pondo-se à disposição.
Querem sê o teu xodó,
tê contigo, um trololó,
pá acarmá teu coração.
Moça, aceita um consêio:
Que eu num sô de muito dá,
junta seus pano de bunda,
vai cantá notro lugá.
Vê si fica mais isperta,
e as porta, num dexa aberta,
sigura o trem padaná!
(Tere Penhabe)
Santos, 16/11/2009
www.amoremversoeprosa.com
Réplica ao texto "FIM DA LINHA" - poesia livre:
Publicado no Recanto das Letras em 16/11/2009
Código do texto: T1926283