MIL OITOCENTOS E OITO - O PLANO CAPÍTULO III

BASEADO NO LIVRO

MIL OITOCENTOS E OITO

DE LAURENTINO GOMES

CAPÍTULO III

O PLANO

I

Com invasão do país

Por tropas de Bonaparte

Príncipe, de Portugal,

Imediatamente parte.

Naquela fuga apressada

Esquece até obra de arte.

II

A mudança pro Brasil

Era uma ideia antiga,

Que dentro do império corria.

Sempre que surgia uma briga

Ameaçando independência

Voltava a velha cantiga.

III

Mesmo tendo inaugurado

A era navegações

Portugal nunca deixara

De ser das menores Nações.

Perder a independência;

Fugir eram as opções.

IV

Espremido por vizinhos

Que eram bem mais poderosos

Com alguma tecnologia

E exercícios numerosos.

Portugal ainda tinha

Povo e governo medrosos.

V

Sem braço e exército

Pra se defender na Europa

Faltava também nas colônias,

Pra defesa, uma boa tropa.

A fuga para o Brasil

A corte de imediato topa.

VI

Tudo porque na colônia

Havia muito mais riqueza

E para os portugueses

Era uma grande moleza

E aqui aumentavam muito

As suas chances de defesa

VII

Contra invasores do reino.

A fuga, opção natural,

Foi muito bem avaliada

Por aquela corte real.

Alvitre amadurecido

No palácio imperial.

VIII

No século dezenove

Portugal de nós dependia.

Cana-de-açúcar, fumo, ouro,

A base de sua economia.

Isso desde que Cabral

Aportara na Bahia.

IX

E desde aquela época

Que a dependência crescia.

No mesmo ritmo aumentavam

As ameaças á autonomia

Dum reino que a Europa

Inteira para si queria.

X

Depois do descobrimento,

Em mil quinhentos e oitenta,

O rei Felipe Segundo

Trono português ostenta.

Morte do rei português

É isso que sacramenta.

XI

Por desaparecimento

Em cruzada contra os mouros

O rei D.Sebastião

Perdeu o trono e o couro.

E para os espanhóis

Ficou um enorme tesouro.

XII

Nos sessenta anos seguintes

Portugal é governado

Pelo trono espanhol.

Começa ser estudado

Um projeto de mudança

Da corte pro outro lado.

XIII

Anos mais tarde de Paris

O embaixador escrevia

Um memorando secreto,

E para o rei ele dizia:

Portugal é uma orelha

De terra onde não se dormia

XIV

Em paz e em segurança.

E Cunha dava a solução

Mudar corte pro Brasil

Sob reinado de D.João,

Coroado imperador

Aqui faria anexação

XV

Da Argentina e do Chile,

Se a Espanha se apossasse

De Portugal e Algarves,

Assim resolvia o impasse.

Marquês de Pombal propôs

a D. José que tomasse

XVI

As medidas necessárias

Pra sua ida para o Brasil.

Em mil oitocentos e um

O antigo plano ressurgiu.

Porém só depois que a França

Reino português invadiu.

XVII

A existência desses planos

Fez a mudança dar certo.

Mostrando que o português

Nisso foi bastante esperto

Fazendo Napoleão

Ficar até boquiaberto.

XVIII

Como explicar o embarque

Da corte com suas alfaias,

Baixelas, seus quadros, livros,

E também todas as saias.

Portugal de tão moroso,

Que deixou coisas nas praias

XIX

Os meses antes da partida

Foram tensos e agitados.

Pois havia dois partidos:

Um queria o rei do outro lado;

O outro queria se compor

Com Napoleão e aliados.

XX

D.Rodrigo S.Coutinho

Era um bom estadista,

Com visão de longo prazo,

Que previa grande conquista

Pro reino de Portugal.

E muito antes já avista

XXI

Essa possibilidade.

Ao haver se aproximado

Da elite brasileira,

De quem se tornou aliado

E dela alguns estudantes

Pro estrangeiro ter mandado.

XXII

José Bonifácio foi

Um estudante escolhido.

O futuro Patriarca

Deste povo bem sofrido.

Em oitocentos e sete

Em Mafra havia se reunido

XXIII

Os conselheiros do rei

Pra discutir essa crise.

O conselho foi chamado

Para que ele analise

Os termos de Bonaparte

E que também avalize:

XXIV

O bloqueio continental;

A declaração de guerra;

A expulsão do embaixador,

Tudo isso contra Inglaterra.

Prender todos britânicos

Que se achem naquela terra.

XXV

Confiscar suas propriedades,

Tudo isso foi avaliado.

Por aquele alto conselho

Que ficou amedrontado,

Que não aprovou a prisão

Nem bem fosse confiscado.

XXVI

Uma carta foi escrita

E pra Paris despachada.

Tudo porém não passava

De jogada disfarçada

Enquanto com a Inglaterra

Era solução negociada.

XXVII

Entre a França e Inglaterra

Portugal era um marisco

Entre o rochedo e o mar.

E não passava de um cisco

Posto entre as duas nações

Num grande jogo de arrisco.

XXVIII

A guerra com a Inglaterra

Até seria declarada

Num jogo dissimulado

E não fosse atacada

A colônia e nem a frota

Portuguesa arrasada.

XXIX

Espremido entre as Nações,

Contavam os portugueses

Com uns transportes ruins

Pra enganar os franceses

E uma comunicação

Que demorava até meses.

XXX

Essa lentidão permitia

Que o rei de Portugal

Negociasse solução

Para o reino colonial

Mais honrosa e aceitável

Naquele jogo infernal.

XXXI

A reação de Bonaparte

Foi da forma que se previa

Aos termos português.

E ele de imediato exigia,

Comprimento da proposta

Ou derrabava a dinastia.

XXXII

No Palácio da Ajuda,

O conselho foi reunido,

No dia trinta de setembro

E ali ficou decidido

Mandar príncipe da Beira,

Que assim era conhecido,

XXXIII

Filho mais velho do rei.

Pro Brasil bem escondido

Que como Pedro Primeiro

Imperador seria ungido.

Mas decisão foi mudada

Todo reino transferido.

XXXIV

O embaixador em Londres

Informou a decisão.

E a Inglaterra resolveu

Em troca dar proteção

À viagem para o Rio

Se houvesse liberação

XXXV

De todo porto existente

Na colônia brasileira

Pra comercializar

Com qualquer nação estrangeira.

Pois somente Portugal

Explorava essa fronteira.

XXXVI

Enquanto D.João fazia

Acordo com os ingleses,

Alimentava seu jogo

Também com os franceses.

Proibiu entrar navios britânicos

Nos tais portos portugueses.

XXXVII

Ameaçou confiscar bens

De britânicos em Lisboa.

E disse ao francês que

Tudo estava numa boa.

A quem até mesmo mandou

Uns diamantes da coroa.

XXXVIII

E que alguma princesa

Da família de Napoleão

Se casasse com D. Pedro

Foi dada essa sugestão.

Dessa forma Bonaparte

Foi enganado por D.João.

XXXIX

Bonaparte outro recado

Logo mandou a Portugal

Aceitar minhas ordens

será por bem ou por mal,

Ou a dinastia Bragança

Logo terá seu final.

XL

A essa altura o francês

Os Pirineus já cruzava.

Nem a cadeia de montanha

Seu exército respeitava

Que pra terra portuguesa

Muito célere zarpava.

XLI

Os ingleses em Lisboa

Foram, por fim, pra prisão

E governo português

Fez outra negociação:

E pelos bens seqüestrados

Pagava indenização.

XLII

Em novembro a esquadra inglesa,

Pra proteger corte real,

Apareceu no Rio Tejo

pra embarcar todo o pessoal

Ou mandar Lisboa pro brejo.

Tinha essas ordens o oficial.

XLIII

Entre a França e a Espanha

Portugal foi dividido.

Pois aqueles dois governos

Já estavam convencidos

Que Portugal pela Inglaterra

Já havia se decidido.

XLIV

Jogo de cartas marcadas

Sem ter qualquer ilusão

Desfecho pra qualquer lado,

Tratou logo Napoleão,

Com Espanha de Portugal

Fazer uma divisão.

XLV

Tratado de Fontainebleau

Assinado pelos aliados.

Entre a França e a Espanha,

Portugal foi retalhado.

Entretanto, um pedaço

Do país foi rejeitado

XLVI

Pelo irmão de Bonaparte,

Que não queria Portugal,

Se dele não fosse parte

O império colonial.

A parte mais cobiçada

Daquela coroa real.

XLVII

Portugal foi invadido

Por cinqüenta mil soldados

Franceses e espanhóis.

Até podia ter ganhado.

Pois os soldados novatos

Não eram interessados

XLVIII

Na sorte do imperador.

Não tinha estrategista

No exército enviado,

A tropa se perdeu de vista

E já faltavam soldados,

Ao fazer uma revista.

XLIX

Dos soldados enviados

Muitos, sem ir a combate,

Morreram pelo caminho.

E pro grupo maior embate

Era pra encontrar comida

Ou esperar por resgate.

L

Os que entraram em Lisboa

Muitos sem roupa ou sapato

E estavam tão cansados

Que o povo levou aparato.

E o país foi conquistado

De um modo bem pacato.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

FORTALEZA, NOVEMBRO/2009.