O saber popular
I
Conheci muitos saberes.
Na profissão que escolhi.
Viajei por muitos cantos.
Falarei o que aprendi.
Agora vou resumir.
Nestes versos contrair.
Lembrar o que não esqueci.
II
Dos termos que conheci.
É muito bom relembrar.
Viajar nesta nação.
É mais do que salutar.
Entender os dialetos.
Que nos faz seres completos.
Na hora de medicar.
III
Entender de cachingar.
Unha fofa e pé inchado.
Mucuim e corpo reimoso.
Berruga e gôto inflamado.
Vêa quebrada e fininha.
Dente pôde e murrinha.
É preciso ter cuidado.
IV
Saluço e zói remelado,
Com zumbido no zovido,
Dor nos quarto e caduquice,
Escorrença e intupido,
Figo ofendido e cobreiro.
Ispinhela caída e unheiro.
Papêra e pé dirmintido.
V
Barriga fofa e istalicido.
Papoquinha e bucho quebrado.
Bucho inchado e brotoeja.
Vazamento e impachado.
Dentequêro e isquentamento.
Nunca vi quão sofrimento.
Eita povo machucado!
VI
Com o zovido estorado,
e a mente com isquecimento.
A grávida refere antojo.
O desmaio é passamento.
Papoca roxa na testa.
Não sei mais o que nos resta.
Prá tomar conhecimento.
VII
A vista com iscuricimento.
As costa com a pá quebrada.
Um queima dentro do estambo.
Um filho com landra inchada.
A testa com dois calombo.
Outros chamam de catombo.
É aquela misturada.
VIII
Já com a vista bem cansada,
Com a idade chegando.
O juízo incriziado.
De uma perna mancando.
Surge uma espinha carnal.
Que muitas vezes é fatal.
Pois findou enraizando.
IX
E o povo se queixando.
Que no corpo tem frivião.
Coqueluche e intiriça.
Baticum no coração.
Tem no pé uma rachadura.
E só obtém uma brandura.
Quando passa cansanção.
X
Menino com amarelão.
Nó nas tripas e boqueira.
Corpo muído e gastura.
Dor de viado e frieira.
Quebranto e esporão de galo.
Doença dos nervos e intalo.
Zóvo goro e bicheira.
X
Algueiro e dor nas cadeira.
E um chamboque arrancado,
do juei após um trauma,
que ficou muito esfolado.
Passou ter água na junta.
Num jumento jamais munta.
Pois virou gato escaldado.
XII
Está com o zóvo virado.
Quer dizer tem uma torção.
Curuba e moleira mole.
Febre alta é cesão.
Está com água na pleura.
Doença dos nervos é neura.
Precisa prestar atenção.
XIII
Continua a explanação,
das queixas de nosso povo.
Vento caído e sapinho.
Só dá em menino novo.
Pereba e zói nuviado.
Nó nas tripa e quarto inchado.
Essas queixas eu resolvo.
XIV
Os zóvo pode ser os zôvo,
Não se admire se ouvir.
Entenda como sinônimo.
Não deverá confundir.
Pereba e iscoliose.
Maria preta e astrose.
Prepare-se prá discernir.
XV
Quando a mulher parir
de resguardo vai ficar.
Dordói e zói remelado,
Atinge o globo ocular.
Assim como a impinge.
Pano branco a pele tinge.
Quão difícil é de tratar.
XVI
Tosse braba é de lascar.
Sapiranga e três sol.
Farnizim e peito aberto.
Dão a volta no anzol.
Tem a dor na titela.
Que prá dar cabo dela.
Só tomando cibazol.
XVII
Esse cordel é um farol.
Pra aqueles que no labor.
Atendem ao povo humilde.
Não enjeita este penhor.
Entende toda essa gente.
Que reclama dor no pente.
Bicho de pé e estorpor.
XVIII
Nos grugumi sente dor.
Dor no ispinhaço e nas cruz.
Intanguido e dor nas juntas.
Toda atividade reduz
Xanha, pira, e pé durmente.
Saber o que o povo sente.
Precisa de muita luz.
XIX
Lembrando dum bom cuscuz,
Para me fortalecer.
Livrar-me destes sintomas.
E jamais esmorecer.
Está junto deste povo.
Para aprender o novo.
E saber lhe atender.
XX
É este meu parecer.
Prá quem vive nesta lida.
Leia este meu cordel.
Onde pereba é ferida.
Se doer o mucunbu.
Vindo do norte ou sul.
Diclofenaco é a pedida.
XXI
Com minha arca caída.
Sentado nesta cadeira.
Íngua, lundu ou gôgo.
E na viria coceira.
Haverei de contrair,
se bem rápido não sair,
até mesmo uma caganeira.
XXII
Muitos acham brincadeira.
O que acabei de escrever.
Aquele que dúvida tiver.
E pedir meu parecer.
Se ele não estiver brôco.
Ou mesmo com um lado môco.
Ensinar-lhe-ei com prazer.
XXII
Prá terminar de fazer.
E estes versos anotar.
Agradeço aos pacientes.
Que vieram consultar.
Trouxeram a confissão.
Do que sentem, a descrição.
Prá gente diagnosticar.
Arimatéia Macêdo – www.arimateia.com