A triste história do Rei que criava cobras debaixo da cama
Vou contar a triste história
De um Rei bem corajoso
Que viveu criando cobra
Um ser muito perigoso;
Animal que garantia
O poder do Rei que ria
Por se achar tão poderoso...
Por se achar tão poderoso
Não temia este animal;
Pois dormia bem tranqüilo
Como se fosse imortal;
Confiava muito nelas
Como nobres sentinelas
Guardando o poder real!
Guardando o poder real
Cada cobra tinha um posto:
Tinha cobra que contava
O dinheiro do imposto;
Tinha cobra que seguia
O inimigo que queria
Vê o Rei mostrar o rosto!
Vê o Rei mostrar o rosto
Era um terrível pecado:
Tinha cobra que mandava
Na metade do reinado;
Tinha cobra tão sabida
Que de tanto atrevida
Sentia-se o próprio Diabo!
Sentia-se o próprio Diabo
Uma cobra venenosa:
Ela então tramou a queda
De outra “Cobra” poderosa;
Depois tramou contra o Rei
(Sem pensar em regra ou lei)
De maneira indecorosa!
De maneira indecorosa
A serpente quis tramar
Contra aqueles que queriam
Ao velho Rei – avisar –;
Mas o Rei, pobre coitado,
Entregou o seu reinado
Para a cobra comandar!
Para a cobra comandar
O Rei cego viajava;
Não sabia que com isso
A serpente só tramava,
Dia e noite, noite e dia,
Pois a cobra só queria
Este reino em que “mamava”!
Este reino em que “mamava”
A serpente já idosa
Projetava-se pro mundo,
Enquanto a cobra ardilosa
Destilava seu veneno
(Desde o grande até o pequeno)
Fazendo-se de charmosa!
Fazendo-se de charmosa
No conselho superior
Ela não media esforços
(Nem argumento ou pudor)
E de modo sorridente
Escondia de toda gente
Seu veneno matador!
Seu veneno matador
Escorria devagar;
Pois ela tramava tudo
Cada passo que ia dar;
Afinal ela queria
O trono do Rei que via
Uma cobra em seu lugar!
Uma cobra em seu lugar
Isso o Rei jamais pensou;
E o Rei, bem preocupado,
O conselho consultou;
Afinal aquela cobra
Raiva já tinha de sobra
Pelo estrago que causou!
Pelo estrago que causou
Nas camadas mais carentes,
O Rei decidiu então
Expulsar esta serpente
Como líder rancorosa
(E certamente vaidosa)
Depois de arrancado os dentes!
Depois de arrancado os dentes
As cobras foram banidas
Da administração real;
A líder, sempre atrevida,
Fez-se logo de santinha
Passando-se por boazinha
Com cara de ressentida!
Com cara de ressentida
Ela logo planejou
Tomar o lugar do Rei
E seu plano encaminhou:
(Se inscreveu pra concorrer
Contra o Rei e o seu poder)
Mas seu plano fracassou!
Mas seu plano fracassou –
De ocupar lugar do Rei;
Ressentida e magoada
Esta cobra ditou lei
Começando a falar mal
Mostrando-se como tal
Contra o Rei e a sua grei!
Contra o Rei e a sua grei
Se insurgiram dissidentes;
Outras cobras revoltadas
(Mesmo sem veneno ou dentes)
Se juntaram pra montar
Um plano pra governar:
“Um reinado de serpentes”!
“Um reinado de serpentes
Ninguém pode suportar”;
Era isso que as pessoas
Comentavam sem parar;
Nas igrejas, nas cidades,
Bares e Universidades
– Todo mundo quis lutar!
Todo mundo quis lutar
Contra as cobras do reinado;
Muita gente matou cobra
Com veneno preparado;
Teve gente que, sem medo,
Fez de cobra o seu brinquedo
– Um brinquedo envenenado!
Um brinquedo envenenado
Foi isso que o Rei ganhou;
Ao deixar com uma cobra
O poder que alimentou
A cobiça de quem gosta
(Por prazer ou por aposta)
Ser mais forte que o Senhor!
Ser mais forte que o Senhor
A serpente sempre quis;
Ela enganou Adão...
E foi mesmo por um triz
Que ela não se fez Rainha
Mostrando-se tão boazinha
– Uma verdadeira atriz!
Uma verdadeira atriz!
– Foi isso que o povo viu
Ao notar que outra cobra
Sem poder também caiu
Ao tentar tomar de volta
(como exemplo de revolta)
O poder que assumiu!
O poder que assumiu
Durou pouco e não vingou
Pois o povo mais esperto
Simplesmente recusou
O apelo da serpente
Que ficou louca e demente
Por tudo que não ganhou!
Por tudo que não ganhou
A cobra envergonhada
Num gesto de esperteza
Para não ficar com nada
Suplicou ao velho Rei
(Em nome da própria lei)
Seu lugar de aposentada!
Seu lugar de aposentada
Já estava garantido,
Pois o Rei velho sabia
(Apesar do acontecido)
Que ninguém na natureza
Está livre, com certeza,
De voltar a ser traído!
De voltar a ser traído
O Rei tinha muito medo;
Por isso contou ao povo,
Como se fosse um segredo,
Que ele iria transformar
Seu reinado num lugar
Democrático, o mais cedo!
Democrático o mais cedo
Era tudo o que queria,
Com certeza os funcionários
Do governo que crescia;
Afinal, por muito tempo,
Clamaram por mais alento,
Por justiça e melhoria!
Por justiça e melhoria
Todos clamam ao velho Rei,
Que agora mais maduro
Poderá, uma outra vez,
Olhar mais para o pequeno
Que também cospe veneno
Respeitando a dura lei!
Respeitando a dura lei
De um governo intransigente
O mais pobre funcionário
Vira refém de serpente
Que em nome da anarquia
Alimenta a rebeldia
No mais fraco – o mais doente!
No mais fraco – o mais doente –,
A traição se fortalece
Como um manto protetor
Que o demônio sempre tece
Em silêncio e devagar
Como um câncer a se alastrar
Pelo corpo que padece!
Pelo corpo que padece
Escrevi esta história
Sobre um Rei desavisado
Que visando fama e glória
Tomou cobra como amiga
Expondo-se a toda intriga
E a todo ódio da escória!
Pelo corpo que padece
Escrevi este cordel
Na esperança cordial
De causar algum tropel
Na nossa Universidade
Já cansada de maldade
E promessas no papel!
Pelo corpo que padece
Escrevi um panegírico
Na certeza de quem mora
Entre o trágico e o lírico;
Pois quem vive entre serpentes
Precisa ter entre os dentes,
Um bom, “Soro Anti-Ofídico!
Pelo corpo que padece
Ofereço esta oração:
“Oh Deus, proteja o mais fraco,
O livrando do vilão
(Disfarçado de serpente)
Que aparece de repente
Pra apertar a sua mão!”
“Oh Deus, proteja o inocente
Que em silêncio luta em vão,
O livrando da serpente
Que envenena o coração;
E em nome da cobiça
Diz que quer fazer justiça
Pra apertar a sua mão!”
“Oh Deus, proteja o obtuso
que não vê no coração
do maldoso o seu desejo,
livra-o da vil tentação
do demônio interesseiro
que sorrindo vai ligeiro
pra apertar a sua mão”!
“Oh Deus, proteja o honesto
Que escreveu este refrão,
Livra-o do caminho errado
E da prevaricação;
Livra-o de toda serpente
Que vai sempre sorridente
Pra apertar a sua mão!”