QUANDO TIVER QUE MORRER.
Quando tiver que morrer
Há de ser de qualquer maneira.
Mas só não quero que seja
Por golpe duma peixeira.
Também não quero morrer
Em farra de sexta-feira.
Mas pode ser segunda-feira
Depois dum porre de cerveja.
Para que a minha morte
Tão dolorosa não seja.
Numa ressaca bem braba
Tomando chá de carqueja.
Também não quero que esteja
Num leito de hospital.
Muito menos de velhice
Mas seja morte normal.
Uma morte repentina
Logo que se passa mal.
Nem uma morte gradual.
Nem queimado em fogueira
Como na inquisição
Nem corpo feito peneira
Furado por bala perdida.
No Flamengo ou na Mangueira.
Nem num forró ou gafieira.
Ou mesmo de atropelamento.
Ou num avião da TAM.
Ou de coice de jumento.
Ou sendo mais uma vítima
Feita pelo parlamento.
Nem pelo aquecimento.
Nem morto por Talibã.
Ou numa jaculatória
Ou por despacho de imã.
Em terreiro de macumba
Ou mesmo lá em Teerã.
Ou até de febre terçã.
De atos secretos do Sarney.
Ou do ex-presidente Color
Eu também jamais morrerei.
Mas não posso garantir
Se do Lula escaparei.
Quanto a Dilma eu não sei.
Não quero morrer em Ruanda
Esmagado numa mina
Posta nas ruas de Luanda.
Mesmo em qualquer conflito
Existente naquelas bandas.
Ou engolido por um panda.
Ou defendendo o Obama.
Muito menos embriagado
Com muita cerveja Brahma.
Ou por aqueles racistas
Existentes no Alabama.
Por pedófilos de Roma.
Nem mesmo morrer de amar,
Aqui em nosso Brasil,
Ou lá em Madagascar.
E nem morrer muito longe
Deste querido Ceará.
Ou lá pelo Panamá
Vítima da febre suína
Fumando marijuana,
nem craque ou cocaína.
Ou por qualquer traficante
Vendedor de heroína.
Ou pela máfia da China.
Por terremoto na Indonésia.
Ou soterrado no Ceará
Por uma de suas falésia.
Por ter esquecido tudo
Ao ter crise de amnésia.
Ou vítima da geodésia
Lá no Afeganistão.
Até mesmo massacrado
Por um bando de cristão.
Nessas lutas religiosas
Por um pedaço de chão.
De fome por não ter pão.
Ou em guerra de torcida
Na porta do Pacaembu.
Na entrada ou na saída.
Nem nas mãos dos aiatolás
Em um ataque suicida.
Pra ir à terra prometida.
Nem quero ser estuprado
Por algum padre em Boston
Pelo papa acobertado.
Para depois como santo
O padre ser consagrado.
Ninguém quer ser enterrado.
Não importa sua condição.
Se quer mesmo é ficar
Vivo neste mundo cão.
Pois somos muito agarrados
A este pedaço de chão.
HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO
FORTALEZA, OUTUBRO/2009