O FROUXO

O cabra era frouxo

Que só arruela de bico.

Sujeitinho fraco, nanico

com aquele andar coxo!

Mas o vozeirão intimidava...

a quem ouvisse incomodava,

Pensava logo em arrocho!

Porque o canto de cerca,

Era metidinho a brabo,

E procurava arranca-rabo

Onde tivesse a certeza

Que podia intimidar,

Na intenção de azucrinar

Um cidadão e sua natureza.

Procurando o fanfarrão

Através do ato de blefar

A um sujeito ameaçar,

Dizendo-se valentão,

Quase perde uma perna,

Fruto de uma baderna

Numa briga de salão!

Mandou alguem calar o bico,

E saiu todo arranhado

Por ter se engalfinhado,

Com um mala do seu tipo.

O cara puxou um facão,

Seguido de um trezoitão,

Quase matando o nanico!

Acertou-lhe dois balaços

Um na perna outro na bunda

Quase deixando corcunda,

O sujeitinho em pedaços...

Cabrinha ruim de serviço,

Doido por um reboliço,

Por uma queda de braço!

Esse sujeitinho ruim

Sequer foi à delegacia

Prestar queixa à polícia,

Denunciar o motim...

A quem tentou lhe matar,

E quase por lhe aleijar,

E ter lhe deixado assim:

Feito bicho estropiado,

Um velho cavalo manco

Que não agüenta o tranco,

E mesmo assim, é peado!

Esse é o risco do brigão,

Que procura confusão

E acha de todo lado.

Aonde o sujeito chegava,

Fosse no bar ou na feira

Armava logo a zoeira,

Para avisar quem mandava!

Dizia com a sua zoada

Estar doido pra dar braçada,

No fucim de quem duvidava

De que ali era o bicho!

O famoso, cabra-cega

Que todo mundo renega

Tal espinho de carrapicho!

Com seu bico de pato,

Tipo do sujeito chato

Com seu nariz de esguicho.

Chegava ao bar gritando

Pedindo sua cachaça

Doidinho por arruaça,

Dia-a-dia provocando!

Então batia no balcão,

E chamava o garção

Para atendê-lo voando!

Na cintura uma peixeira,

Com meio metro de cabo!

Arma, tentação do diabo,

É coisa resolvedeira

De um assunto pendente,

Ou pra resguardar a gente

De tudo que é sebozeira!

Assim, pensava Eliseu,

Com sua cara de macho

E seu constante fogacho

E jeito de quem bebeu.

Jeito de quem encontra

Quem um dia lhe afronta,

E apaga o fogo seu!

Porque aquele baixote,

Aquele tamborete de forró

Tinha muito era gogó,

Sabia dar era pinote!

Contar vantagens rapaz!

Contar histórias demais,

Com o seu tipo fracote.

Um dia pegou na caca,

Ao desafiar um sujeito

Que se achava desfeito

E com uma baita ressaca.

Bateu mão do canivete,

Que iria dar um bofete

Na cara daquela paca!

O cara ficou irado,

Pegou-lhe pelo gogó

E suspendeu o mocotó

Do sujeitinho folgado,

Pressionando o pescoço

Como se furasse um poço

Afundando o coitado.

Eliseu tentou gritar

E sair daquela situação

Espremido como limão,

Tentava espernear,

Mas o matuto Raimundo

Tava, raivoso do mundo

E nele ia descontar!

Gritou para o bodegueiro,

- Traz aí minha Kolynos!

Que o bucho desse menino

Ta querendo açougueiro,

E eu doidinho pra cortar

Seu fato para rasgar

E operar esse encrenqueiro.

Só se for agora, Raimundão!

Disse o dono da bodega,

Numa obediência cega

Àquele sujeito grandão!

Abaixou-se de imediato

Para completar seu ato

E entregar-lhe o facão!

Eliseu ouvindo aquilo

Deu um pulo tão ligeiro

Que caiu lá no terreiro

Parecendo um esquilo

Ganhando a noite escura,

E fazendo uma jura

De ir morar num asilo!

Correu feito um atleta

E ganhou o matagal

Fugindo daquele mal,

De uma morte certa.

Provocara um sujeito

Que tinha como defeito,

Paciência curta e modesta.

Chegou em casa a sorrir!

O pessoal da morada

Estranhou sua entrada

Tão cedo para dormir...

Entrou feito uma bala,

Tanto que perdeu a fala

Quando tentaram inquirir

Na busca de explicação

Acerca de seu retorno,

Tão cedo para o entorno

Do recinto da pensão.

No mínimo era estranho,

Eliseu dormir sem banho,

Tampouco sem refeição!

E aquela situação,

Era preciso averiguar,

E procurar investigar

O que deu no valentão

Para ele entrar cabisbaixo,

Sem o sorriso de macho,

A marca do fanfarrão!

Porque, pra armar funaré,

Esse era seu ofício;

Desde o baixo meretrício,

Fosse em qualquer cabaré...

Já tinha quebrado queixo,

De puta; passado seixo,

Num tremendo rapapé!

Já correu de delegado;

De soldado de polícia;

Ganhou tudo na malícia

E fez tudo de rogado!

Sujeito cara de pau,

Em nada tinha de mau;

Mentir era seu legado.

Depois daquele dia

Eliseu não quis saber

De noitada e de beber

Fosse de qualquer folia.

Chegava pra dormir cedo,

Parecia estar com medo;

Aposentou-se pra orgia!

Diziam os mais chegados,

Os seus amigos de copo.

Muita fé nesse, não boto,

Que ele é ruim um bocado!

Arruma logo um jeito

De mostrar outro defeito,

E aprontar pra outro lado.

O certo é que ele mudou:

Não quis mais a farra

Nem cair na bandarra;

Tanto que amofinou.

Vivia deitado numa rede

Pelos cantos de parede,

Como quem se desligou

Do mundo por inteiro!

Voltava do seu serviço

E não fazia reboliço,

Parecia ser verdadeiro

Que mudara de verdade,

Um homem da sua idade

De profissão: caçambeiro!

Pra resultado final

Em sua vida de repente,

Entrou para lei de crente

Entrou na universal.

Diz que vai ser pastor,

Que agora só tem amor

Para combater o mal.

F I M!

Edilberto Abrantes
Enviado por Edilberto Abrantes em 13/10/2009
Reeditado em 31/05/2018
Código do texto: T1864218
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