SER RICO NÃO É VIRTUDE NEM POBREZA É UM DEFEITO

O rico tem no dinheiro

O seu poder ostentado

Esconde seu paradeiro

Pra não ser incomodado

Fica bastante estressado

E só se acha com direito

Trata o pobre sem respeito

Mas não pense que me ilude

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito

O pobre sofre pra burro

Todo tipo de miséria

Ouve sempre muito esturro

Em nome de coisa séria

Trabalha até na Sibéria

Passando frio no leito

Comendo de qualquer jeito

Embora eu saiba que é rude

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.

O rico inventa de tudo

Pra fazer economia

Utiliza todo escudo

Escondendo mordomia

Faz muita patifaria

Disfarçando cada pleito

Modifica seu conceito

Mas eu não acho que mude

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.

O pobre muito lamenta

A triste situação

Quando não falta, ele inventa

Uma maior precisão

Na sua alimentação

Vê-se logo em beco estreito

Para o sofrer não vê jeito

A não ser que rico ajude

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.

O novo rico se esquece

Que já foi pobre bem antes

E que vivia de prece

Pra santa dos Navegantes

Via-se em mãos de tratantes

Sofria de preconceito

Da carência era sujeito

Hoje nega em plenitude

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.

O pobre que já foi rico

Faz de conta que não foi

Para que não pague mico

Fala que não criou boi

Troca um olá por um oi

E a cada prato que é feito

Sente um aperto no peito

Pois hoje ninguém lhe acude

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.

Seja ele Francisco ou Chico

Tendo, ou não, o vil metal

Rico, ou pobre, não complico

Para que não passe mal

Prefiro tratar igual

Respeitando o seu direito

Assédio afasto, e enjeito,

Com toda solicitude,

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.

Quando o bicho vai pegar

Não escolhe pela grana

O que primeiro encontrar

Pega sem dar filigrana

Sem ligar se ele se irmana

A alguém que foi prefeito

Independente do preito

Ou da sua magnitude

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.

Para a pessoa de cor

O problema é piorado

Sem importar se é doutor

Chega a ser discriminado

Podendo até ser barrado

Mostrando qualquer trejeito

Mesmo que ele seja eleito

Rejeição vem amiúde

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito

As classes favorecidas

Que se julgam maiorais

Às vezes são protegidas

De outras vezes não são mais

Passando por rituais

Que nem sempre dão proveito

Deixam o moço insatisfeito

Colado assim feito grude

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.

Pobre, não baixe a cabeça

Seja feliz de verdade

Aconteça o que aconteça

Procure a felicidade

Cultive a simples lealdade

Que serás bem mais aceito

E nesse ponto me deito

Tranqüilo pela atitude

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.

A riqueza está na flor

Nos passeios pelos campos

No Sol poente a se por

No piscar dos pirilampos

Na rede sem ser dos pampos

Com a paixão me deleito

E me sinto mais afeito

Desde a minha juventude

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.

Ser pobre até que permite

Viver mais perto do mato

Conhecer todo aparato

Quando à natureza fite

Nisso não há quem evite

Que mesmo estando no eito

Lance um olhar contrafeito

Para ver toda amplitude

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito

Vivendo sem a luxúria

E o dinheiro maldito

O pobre vira expedito

E foge da vida espúria

Despreza qualquer injúria

Escolhe o melhor preceito

E disso eu me aproveito

Pra dizer na quietude

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.

Eu digo em sã consciência

Carregado de certeza

Que não vejo consistência

Na material riqueza

Louvo a visão com leveza

E nela eu me endireito

Eu me aprumo e me ajeito

Se eu tenho muita saúde

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.

Pobre ou rico esteja atento

Ao que tem mesmo valor

Valore o sopro do vento

Não aceite o desamor

Note o jasmim pela flor

Sinta o néctar no confeito

Refaça o que for desfeito

Tire um som do alaúde

Ser rico não é virtude

Nem pobreza é um defeito.