EXISTE ALGO AO FUNDO
Coração me volta
Me faz festejar
Tira essa revolta
Me volta a amar
Essa tristeza
É imperdoável
Não trás beleza
É improrrogável
Não gosto de fazer
Poesia depressiva
Mas, não há querer
Na ordem repulsiva
Estou cortado
E muito infeliz
Até amargurado
E, sem um triz
Esse cerceamento
Essa forma de cadeia
Esse esquecimento
Essa loucura que me rodeia
Quando vai parar?
Quando vou acordar?
Quem tenho que matar?
Para poder caminhar?
Meu corpo está frágil
Minha alma virou pena
Meu esqueleto não é agil
Minha sorte é dilema
Tenho, às vezes, amizade
Mas, o ódio em mim está
Falta também bondade
E sobra a ruindade
O cordel foi inventado
Para expressar o amor
E não fazer do retratado
Coisas de somente dor
Mas peço uma licença
Aos cordelistas de plantão
Me dê essa paciência
Para colocar minha paixão
Essa dor que tenho no peito
Não é algo de infração
É sentimento puro
De uma contestação
Se os poetas me autorizam
A força deles me fará vibrar
Me colocando para cima
Para não somente chorar
Porque a alegria nordestina
É ver o repentista improvisar
Colocando no pé do ouvido
Seu coração a poder falar
Se eu, nessa caminhada
Não quiser me endireitar
É problema, isto sim, meu
Esse sofrer de querer matar
Porque na vida há alegria
E também tem amar
Nas coisas do cotidiano
Devemos reparar
Esse será meu maior cordel
Porque quero me manifestar
Agora, vendo meu coração
Comecei ah, sim, trilhar
Como trilha de cinema
Que faz o olhar admirar
Que produz o sentimento
E a força da imagem falar