JOSÉ, O DECIFRADOR DE SONHOS E GOVERNADOR DO EGITO
1
Essa história a bíblia narra,
Em detalhes, com riqueza.
Jacó, pai de doze filhos,
Dentre todos, com certeza,
José foi o mais amado
E, por isso, era tratado
Pelos outros com frieza.
2
Era sua natureza
Ser o centro da atenção.
Além disso, tinha uns sonhos
Onde sua posição
Era sempre de destaque.
Pros demais, imenso baque,
Provocava irritação.
3
Fazendo interpretação
Do que, então, tinha sonhado,
Dizia para os irmãos:
Era reverenciado.
Por contar-lhes desse jeito
Ah, José, pobre sujeito,
Cada vez mais odiado!
4
Acabou sendo jogado
Dentro dum buraco escuro.
Deixaram ali um tempo,
Passou ele grande apuro.
Depois disso, aos mercadores
Foi vendido sem pudores.
O Egito foi seu futuro.
5
Chegou sem dinheiro, duro,
Na casa de Potifar,
Chefe da guarda do rei.
Com ele foi se instalar,
Conquistou sua confiança
E um posto de liderança
Naquele importante lar.
6
Não podia ele esperar
Que a mulher do camarada,
Desejando seu amor,
Armaria uma cilada.
Acusou de sedução,
Foi mandado pra prisão,
Injustiça descarada!
7
No cárcere demonstrada
Uma habilidade antiga
Na decifração de sonhos,
Tornou-se uma voz amiga.
No dito confinamento
Teve bom comportamento,
Nunca procurava intriga.
8
Um dia, a prisão castiga
O padeiro e o copeiro
Que, sonhando, foram ter
Com José, seu companheiro.
Ele disse sem vacilo
O que quis dizer aquilo.
Seu palpite foi certeiro.
9
Assim falou ao primeiro:
"Não irás mais pão fazer.
Sinto muito, meu amigo,
Enforcado, vais morrer.
Quanto a ti - eu nunca falho -
Voltarás pro teu trabalho,
Não vás de mim esquecer."
10
Assim foi se suceder
Dos criados o destino.
José acertou na mosca,
Ainda estava mofino,
Pois continuava preso,
Triste demais, indefeso,
Porém lúcido e com tino.
11
Mais tarde seu dom divino
Veio à tona novamente.
Um sonho do faraó
Perturbava sua mente.
Traduzir ninguém sabia,
O copeiro lembraria
De seu parceiro vidente.
12
Ele ouviu atentamente
O sonho da autoridade:
Sete vacas bem magrinhas,
Cheias de voracidade,
Devoravam sete vacas
Que eram robustas 'pacas',
Coisa estranha de verdade.
13
Com sua capacidade,
Ele disse ao soberano:
"Cada vaca dessa história
É como se fosse um ano
De fartura serão sete
E a seca, idem, promete
Nisso aí eu não me engano!"
14
"Deverá ser feito um plano
Pra esse pior momento,
De modo que na abundância
Seja estocado alimento.
A providência garante:
Não brotando o que se plante
Não faltará mantimento."
15
Tomado de encantamento,
Ao notar a inteligência
De José, seu prisioneiro,
Faraó, com consciência,
Aquele decifrador
Nomeou governador.
Era um cargo de imponência!
16
Na bonança e na carência
Sempre tinha ali comida.
A ordem que deu José
Fielmente foi cumprida.
Na terra que governava
Provimento não faltava,
Pois estava abastecida.
17
Ia gente combalida
Ao Egito a todo instante
Comprar o que armazenou
Aquele bom governante.
Inclusive, uma ironia:
Seus irmãos cruéis um dia
Dele se viram diante.
18
Um fato demais marcante:
Reconheceu seus algozes.
Infestou seu coração
Emoção em altas doses.
Eles o tinham por morto
Mal sabiam que o conforto
Ia embargar suas vozes.
19
Às atitudes ferozes
José, talvez por vingança,
Passou a testar os caras:
"Vocês são da vizinhança?"
"Não, senhor, de Canaã,
Viemos aqui no afã
De comprar, pois tem bonança."
20
De todos tinha lembrança
E sem ser reconhecido,
José disse: "estão em dez!"
(Benjamin não tinha ido)
"E têm mais irmãos?" Simula.
"Sim, senhor, tem o caçula,
Ficou com o pai querido."
21
"Eu não estou convencido
De que do bem vocês são!"
José, após dizer isso,
Meteu todos na prisão.
Dias depois, libertados,
Eles foram avisados
Da severa decisão.
22
"Agora, meus caros, vão
E tragam esse mais novo.
O alimento fica aqui,
Essa ordem só removo
Quando trouxerem pra mim
Seu irmão, o Benjamin.
Não chiem, não me comovo!"
23
Voltando para seu povo,
Jacó deixaram ciente
Da condição para terem
Suprimento que alimente.
O pai, após relutância,
Deu a sua concordância,
Embora triste e temente.
24
Ao Egito novamente
Partiram, levando junto
Benjamin, para encerrar
De uma vez aquele assunto
E atender o que ordenara
Aquele exigente cara
Considerado defunto.
25
Ao ver completo o conjunto
Dos irmãos, José tremia.
Ausentou-se por instantes
Pois ainda não queria
Revelar a identidade
E foi chorar à vontade.
Recomposto, voltaria.
26
Entre emoção e alegria,
José perguntou, tocado:
"Então, é esse o caçula
Que foi por vocês citado?"
Benjamin e mais nenhum
Tinha ascendência comum,
Pai e mãe, com o 'ex-finado'.
27
José foi presenteado,
Convidou-os pro jantar.
Depois disse aos empregados:
"Vocês devem colocar
No meio do suprimento
A grana do pagamento
E outra coisa... Vou mostrar!"
28
"Devem também misturar
Esta taça na bagagem
Do mais jovem, Benjamin,
E os deixem seguir viagem."
Assim foi feito... Em seguida,
A turma foi perseguida
'Suspeita' de ladroagem.
29
Parados, eles reagem:
"Se algum de nós agiu mal,
Que sofra, por causa disso,
Qualquer castigo, afinal,
Se foi um saqueador
Da sua casa, senhor,
Merece pena mortal."
30
Aquele material
Que premeditadamente
Foi plantado, deu ensejo
À reação comovente:
"Nosso pai perdeu um filho,
Mais outro, ele sai do trilho
E vai morrer certamente"
31
"Por favor, seja clemente!
Deixe Benjamin partir!"
Falou Judá, completando:
"Porque, se não permitir,
Voltando sem o menor,
Vai decorrer o pior
Da dor que meu pai sentir."
32
Sem poder mais resistir,
José revelou quem era.
Todos ficaram com medo,
Podia estar uma fera
Com as coisas do passado.
Ao contrário, emocionado,
Ele não se destempera.
33
Após uma longa espera,
Ele não estava só,
Demonstrou satisfação
E mandou buscar Jacó
Que viu o seu filho vivo
Em reencontro festivo
Na terra do faraó.
34
Antes de voltar ao pó,
O patriarca, feliz,
Afinal, vivenciou
Aquilo que sempre quis:
Toda a sua parentada
Reuniu-se, sossegada,
Partilhando amor bonito.
José, seus sonhos 'banais'
Acabou vendo reais
Nas ricas terras do Egito.