LEMBRANÇAS DO MEU PAI

Ah meu pai muito querido

como nosso tempo passou

quase num piscar de olhos

à guisa de pássaro voou

esquinas foram dobradas

todas as águas passadas

só permanecendo o amor

Você foi um pai presente

o que sabia me ensinou

lembro tanto seu sorriso

e tudo que nos proporcionou

hoje quero agradecer

e dizer, papai, pra você

quanto devo pelo que sou

Conduzido por tua mão

pelos caminhos da vida

todo dia aprendendo

fui criança bem sabida

oh meu tão amado pai

sua lembrança jamais sai

junto com a mamãe querida

Eu sentava sempre à mesa

minhas letras rabiscando

você vinha do trabalho

ficava lá me olhando

e tentando não me distrair

você começava a sair

eu todo sonso olhando

Lembra minha juventude

eu somente estudando

mas queria ir pra festas

do bolso você tirando

parecia brincadeira

era o dinheiro da feira

que você ia me dando?

Como eu sabia disso!

Pois você mesmo dizia

que se precisasse gastar

algum jeito se daria

pondo o dinheiro no bolso

sabendo ser do almoço

voltando eu devolvia

Eu não gastava um tostão

era dinheiro sagrado

por isso permanecia

lá num cantinho guardado

e dançando a noite inteira

mesmo com fome e canseira

a grana ia p'ro mercado

Os seus olhos marejavam

sabendo o quanto pesava

esse gesto altruísta

e mais ainda me amava

pois mesmo autorizando

o dinheiro me entregando

eu nunca, nunca usava

Quando eu me apaixonei

já encantado de paixão

Ah, a primeira namorada

enternecendo o coração!,

corri a contar para você

que me disse, só por dizer:

a namorada é meu cinturão

Tempos de outra criação

era algo sério namorar

tão diferente de hoje

o sujeito come sem casar

tal antiga educação

com palmatória na mão

para homens de bem forjar

Você gostava de lembrar

eu com filhos, já casado,

de um certo entardecer

quando fiquei bronqueado

por vê-lo em casa chegar

rápido com mamãe brigar

chegando embriagado

Foi somente essa vez

que tal fato aconteceu

esperei falar com você

quando o dia amanheceu

com apenas onze anos

e ante o meu desengano

nunca mais você bebeu

Um dia, pai, você se foi

sem tempo pra despedida

um avc fulminante

lhe tirou o sopro da vida

e os abraços que nunca dei

um dia decerto darei

quando eu for em seguida

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 22/09/2009
Reeditado em 01/08/2021
Código do texto: T1825542
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