MEMÓRIAS - I

À noite, admirando a lua,

sinto cheiro de saudade

das coisas que um dia vi

muitas delas raridade

vem junto com a melancolia

os instantes que, um dia,

trouxeram paz e felicidade

As farras da meninice

os folguedos de São João

as primeiras namoradas

deliciando o coração

na rua jogando bola

até esquecendo a hora

de tomar meu café com pão

O grande apego aos livros

a ânsia de ser moderno

provando o primeiro amor

que pensava ser eterno

desejando ser escritor

no dedo anel de doutor

meus escritos num caderno

As poesias pueris

rabiscadas inocentes

com tantas rimas quebradas

sonhando beijos ardentes

todas já amarelaram

sonetos e trovas calaram

como versos indecentes

Os desejos aflorando

o primeiro nu feminino

encantou sobremaneira

o afogueado menino

aquelas pernas bonitas

que panturrilhas benditas

foi só o que vi pequenino

Pois que no passado a mulher

era muito recatada

nenhuma delas andava

por aí toda pelada

era falta de respeito

e também tinha o preconceito

contra mulher separada

Os negros dias de março

os militares no poder

pensando que comunistas

fossem criancinhas comer

o povaréu todo com medo

cientistas no degredo

a fuga dos homens do saber

Tantos filmes proibidos

devido às cenas com beijos

era forçoso reprimir

até secretos bocejos

pois a censura exigente

achava ser indecente

se sentíssemos desejos

O Ato Institucional

número cinco chamado

que tantas misérias causou

tornou o Brasil apagado

a polícia toda na rua

às vezes sentando a pua

por um simples mau olhado

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 19/09/2009
Código do texto: T1818601
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