MIL OITOCENTOS E OITO - CAPÍTULO II

OS REIS ENLOQUECIDOS

I

No século dezenove

Havia reis enlouquecidos.

Um deles George Terceiro

Se dizia ser perseguido

Por um bando de demônio,

E por um recém-nascido.

II

Dizia que era um príncipe

e Otávius se chamava.

Maria Primeiro outra que

Também se atormentava.

E seu grito de terror

Na madrugada ecoava.

III

Pois via a imagem do pai

Nos acessos de loucura.

Morto há anos queimado

Em alta temperatura,

Derretido sobre ferro

O marquês de Angeja jura.

IV

Duas são as explicações

Pros dramas dos soberanos:

Transtornos mentais que os

Cientistas buscam há anos;

Ou transtorno bipolar

Que acomete os humanos.

V

Sessenta anos George reinou,

Pelas terras da Inglaterra,

Em seus surtos psicóticos.

Durante horas ele berra.

Noutra ocasião, à corte

nova doutrina encerra.

VI

Nova trindade divina

Pelo rei foi formada:

Deus era o seu médico;

E deusa a sua empregada,

A condessa Penbroke, que

No reino era adorada.

VII

O rei ainda foi submetido

A tratamento de choque.

Até camisa de força,

Colocaram no escroque.

Tentando curar o doido

Usaram todo seu estoque.

VIII

Francis Willis era um padre

Que foi levado a Portugal,

Por ser médico do rei

George aquele outro anormal

E quatro milhões de reais

Pagou a família real.

IX

Maria Primeiro também

Foi julgada incapaz.

Como príncipe regente

Assumiu João, rapaz.

Depois passou a ser rei

Como tal não foi um ás.

X

George e Maria Primeiro

tinham algo em comum:

Queriam manter o poder

E ao povo direito algum,

Não acabar com dinastias.

Rei democrata nenhum.

XI

Neste período teve

Reis, rainhas exilados.

Alguns mandados pra longe

Até mesmo aprisionados.

Houve até reis e rainhas

Que foram decapitados.

XII

Napoleão Bonaparte,

No auge do seu poder,

Imperador se proclamou

Para quem quisesse ver.

De Carlos Magno sou herdeiro,

Passou também se dizer.

XII

Rei poderoso que fundou

O Sacro Império Romano.

Dominou quase a Europa.

Igual ao povo otomano.

Ambos foram tão cruéis

Quanto o exército ariano.

XIV

Ao longo de duas décadas,

Napoleão travou batalhas

Contra exércitos europeus.

Em todos botou cangalhas.

Expulsou reis e rainhas

A quem dava suas migalhas.

XV

O Império Austro-Húrgaro,

Considerado imbatível,

Várias vezes foi vencido

Por uma tropa infalível,

Que venceu alemães e russos

De modo muito inflexível.

XVI

Por toda Europa os reis

Mendigavam proteção.

O da Espanha na França

Pedia a Napoleão

Clemência e na Inglaterra

Escondia-se o alemão.

XVII

Fora da capital vivia

Escondido o rei da Prússia.

Errante em Petersburgo

Morava o Czar da Rússia.

O das Sicilias e Parma

Perdidos na Borússia.

XVIII

O da Escandinávia preste

A implorar aos marechais

De Napoleão um herdeiro.

O papa eterno não é mais.

E até perde, vez por outra,

Seu trono e bens materiais.

XIX

O triunfo de Napoleão

É o fim do Velho Regime,

Da história européia,

Dum tempo de muito crime,

Do estado de Luís Quinze

Que a todo povo reprime.

XX

A França foi paradigma

E modelo do rei Sol,

Que se envolveu em tantas guerras

Que não cabe neste rol.

Empenhou a monarquia que

Nada sobrou no paiol.

XXI

A França ainda se envolveu

Com a guerra americana.

Pra expulsar os ingleses

Mandou armas e muita grana.

Do povo, muito dinheiro,

Pra cobrir o rombo afana

XXII

Incitado por burguesia

Povo derruba a realeza.

Por falta de liberdade

E também pela esperteza

No uso da moeda público

Pra sustento da nobreza.

XXIII

Napoleão sobe ao trono

Com seguintes objetivos:

Colocar ordem na casa;

E por ser muito impulsivo,

Guerrear contra inimigos

Da França, foi taxativo.

XXIV

Criou a máquina de guerra

Mais poderosa do mundo

E contra seus inimigos

Foi à luta, iracundo.

Destronou reis e rainhas

Até mesmo do submundo.

XXV

A ascensão do francês,

Tenente aos dezesseis anos,

Ganhou admiração na escola

De todos republicanos.

E foi logo combater

No outro lado do oceano.

XXVI

À frente da artilharia,

Pra chegar a general,

Levou só oito semanas

Aquele grande oficial.

Na história militar:

Que feito sensacional!

XXVII

Transformou a arte da guerra.

E com muita agilidade

Se movia seu exército

Em qualquer localidade.

Neutralizando os outros

Com a sua habilidade.

XXVIII

Antes de Napoleão

Para aprontar as batalhas

Levava-se meses, anos,

Preparando-se as vitualhas

Mesmo assim vários fatores

Eram motivos de falhas.

XXIX

As técnicas agrícolas

Transformaram a produção,

E a um grande aumento

Levou a população,

Aprimorou muito também

Máquina de destruição.

XXX

Com a produção em massa,

Ferro e têxtil aumenta

Suprimento de canhões;

Também ainda incrementa

O fabrico de uniforme

E uma guerra mais violenta.

XXXI

Perdas nos campos de batalha

Têm logo reposição:

Trinta mil soldados mês,

Também bala e munição

Faz o Imperador Francês

Na França e no Japão.

XXXII

General prático, frio,

E bastante metódico,

Importante era o conjunto,

Tudo estava sob sua ótica.

Nas batalhas, situação

Jamais era caótica

XXXIII

Batalha era planejada

de forma meticulosa.

O comando não dividia

De maneira duvidosa.

Na face da terra foi

A pessoa mais poderosa.

XXXIV

Reformador incansável.

Saneou também as finanças.

Criou sistema jurídico

E a constituição da França.

E na paisagem de Paris

Fez inúmeras mudanças.

XXXV

Napoleão despertava,

Tantos nos admiradores,

Como nos seus inimigos

Respeito, medo, terrores.

Mesmo ao ser preso, pensou

Em mudar muitos valores.

XXXVI

Mil oitocentos e sete,

A esse homem poderoso,

O regente de Portugal,

Cara indeciso e medroso,

Teve ele que enfrentar

E até saiu vitorioso.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

PACOTI, SETEMBRO/2009.