A solidão urbana
Inspirado na crônica "Carta a um amigo" de Silvia Regina
Airam Ribeiro
Se tu cumeçá a oiá
Cum os zóio do coração
Ocê vai intão cumeçá
Qui a praça num mudô não
Ela faiz parte do mermo inredo
Ocê é qui anda cumedo
De botá os pé no xão.
Dia siguinte cuntinua
E é a merma a quitura do sór
É qui a gente quando anda na rua
Gosta mais de estar só
Anda tão apreçado
Qui num óia o gari do lado
Varreno e derramano suó.
Ocê istá certa no pensá
Qui o sór muda de puzição
No inverno ele perto já ta
E isquenta quando vem o verão
Todo ano é ancim amiga
Nun dêxa qui a fadiga
Pertuba teu coração.
A solidão urbana!
É u’a dura rialidade
Pruquê na vida profana
Está reinano a mardade
E pro cauza déça dança
Omenta a desconfiança
In todo canto da cidade.
O ôtro paça apreçado
Andano nas melancolia
Quinén inxerga do lado
Quem ta li dano um bom dia
E ancim de anti mão
Sem cunsiguí ganhá o pão
Ele fica sem aligria.
Mais o banco ta no mermo lugá
Aquele feitio de cimento
Cum a percupança a tanazá
Nun inxergamo no momento
O puzentado lá istava
Muitia gente nun inxergava
Pur farta de dicernimento.
Cum a solidão urbana
A gente fica egoísta
É qui o diêro as vez ingana
Quem qué só tê conquista
Nóis percupamo cum o ter
E isquecemo do ser
Qui ta tão perto da nossa vista.
Mais o puzentado num morreu
E seu caximbo inda sai fumaça
As criança num dizapareceu
Inda faiz algazarra na praça
As vêiz num vemo isso daí
Pruquê só oiamo pra dento de si
E axamo a vida sem graça.
É tu quitá deferente
E num ta a inxergá
Oia só o indigente
Tu num viu na praça lá!
Tanto os zômi cuma as muié
Anda tanto nu’a farta de fé
Qui nun qué nada inxergá.
Tu vorta pro apartamento
Inquieta e descontente
Tu nun viu naquele momento
Como a praça tava xêia de gente
Cada uma sintindo as suas dô
Inquanto tu no elevadô
Disso nun tava ciente.