Os mestres da natureza> Autor: Damião Metamorfose.

Vi de tudo nessa vida

É vivendo e aprendendo

Já vi as flores se abrindo

Para um dia nascendo

E o besouro mangangá

Na flor do maracujá

A fecundação fazendo.

A águia é um exemplar

Tão soberano e ordeiro

Voa alto e faz seu ninho

Num alto despenhadeiro

Se oculta para a morte

Testa toda a sua sorte

Ao fazer seu vôo primeiro.

A ovelha em seu balido

Sons e tons tão parecidos

Para os humanos são berros

Que chegam aos seus ouvidos

Mas é o seu linguajar

Serve pra identificar

E achar filhotes perdidos.

O pica pau dar um jeito

De furar tronco de angico

Com perfeição que parece

Que usou um maçarico

E antes que eu esqueça

Não sente dor de cabeça

Nem racha a ponta do bico.

O galo acorda mais cedo

Pra cuidar do seu arem

Seu relógio biológico

Marca as horas muito bem

Essas coisas naturais

Até os simples mortais

Aqui no nordeste tem.

O jumento é um elemento

Resistente e de bom tino

Relincha na hora certa

Transporta adulto e menino

Hoje vive abandonado

Come lixo infectado

Mas é herói nordestino.

O gavião de coleira

A um quilometro de altura

Parece um ponto no espaço

Um displicente até jura

Para atingir sua meta

Fecha as asas feito seta

Desce e fisga o que procura.

Parece um código de barra

A rolinha cascavel

Com os sons das suas asas

Voando pelo vergel

O seu canto com certeza

Alegra a natureza

E inspira o meu cordel.

O quero-quero engenhoso

Para não ser devorado

Poe o seu pé no pescoço

Troca quando está cansado

E quando ele adormece

O pé escorrega e desce

E o mesmo, fica acordado.

Acho bonito o conflito

Do teiú com uma cobra

Um tem veneno e o outro

Tem malandragem de sobra

Se a cobra lhe acertar

Morde um pinhão pra sarar

Só Deus compõe essa obra.

O teiú na estiagem

Faz de um buraco aposento

Pra não perder energias

Seu coração bate lento

Não bebe água e nem come

Quando não resiste a fome

Faz do seu rabo alimento.

Um João de barro aprendiz

Faz seu lar rapidamente

Quando o ano é escasso

Abre a porta pro nascente

Não trabalha em feriado

Mas se o inverno é pesado

Vira a porta pro poente.

Vejam os tamanduás

Seus dentes são uns fracassos

Mas o seu tórax é forte

Muito mais forte os seus braços

Parece espécie indefesa

Mas eu não conheço a presa

Que resista aos seus abraços.

A cobra tão odiada

É símbolo até de seita

Estando em seu habitat

Não ataca, só espreita.

Não anda de marcha ré

Nasce vive e morre em pé

Por que cobra não se deita.

Um canto extraordinário

Tem os pardais na dormida

Quando chegam aos milhares

Numa arvore escolhida

Não tem anel nem coleira

Mas reconhece a parceira

Isso é que é lição de vida.

Cavando um buraco estreito

Sem pressa e com perfeição

O mestre fura barreira

Faz a sua habitação

Depois que cria a ninhada

Ou acaba a invernada

Ninguém vê um no sertão.

No sertão quem for medroso

Corre ao ver a mãe da lua

Inerte em uma estaca

De um curral perto da rua

Ali ela choca o ovo

Mas também assusta o povo

Com a musica que é só sua.

Um urubu a voar

Tem a suave beleza

Aproveitando as correntes

Plaina no ar com leveza

Quando o seu olfato atiça

Do alto sente a carniça

E vem fazer a limpeza.

Se faltar chuva ou neblina

O tiziu em um mourão

Pula anunciando que:

Vai acabar o verão

Tiziu não é estudado

Mas é astrônomo formado

Nas campinas do sertão.

O beija flor de jardim

Com seu bonito bailado

Voa pra frente e pra trás

Quando quer fica parado

Só mesmo a natureza

Pra compor tanta beleza

Com um reino ameaçado.

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 28/08/2009
Reeditado em 23/08/2016
Código do texto: T1779973
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