O CIRCO
O CIRCO
J.B.Xavier
E de repente me vi
No meio do picadeiro
Sem saber como é que ali
Eu vim parar tão ligeiro.
“Senhoras e meus senhores”
- ouvi nos alto-falantes –
“Peço agora seus favores,
De me escutar uns instantes!”.
“Recebam, senhores, de pé
Antes do Circo de Horrores,
Um cabra que diz que é
O maior dos domadores...
Leão prá ele é gatinho
Urso dorme em seu regaço
Mas dorme bem de mansinho
Com medo do seu abraço.”
Ouvi tambores rufando,
Cornetas alucinadas
E o homem continuando
Com as tais elogiadas:
“Havia um velho leão
Que se chamava salnei
Esse come na sua mão!
Vi e não acreditei!”
“Havia um urso feroz
De nome zezédiceu
Que perturbava, atroz,
Até quem já faleceu!”
“Pois esse urso, senhores
Outrora tão violento
No nosso Circo de Horrores
Hoje está calmo e opulento.”
“recebam, pois, meus senhores
E não precisam ter medo,
O maior dos domadores:
Lusináciofaltundedo!
E o povo todo aplaudiu
Quando o dito veio à cena!
Ele até me confundiu
Pois o que me deu foi pena...
Fiquei pasmo quando vi
Aquilo se aproximando:
Era o Pé Grande, senti,
Ou o Saci saltitando?
Barba negra, olhar miúdo,
A fala meio engasgada,
Boca aberta e sobretudo,
A gola meio molhada...
Ele entrou já segurando
Duas coleiras por mão,
Numa, dois tigres miando
Noutra, gemendo, um leão.
Todo mundo recuou
De medo desse momento,
"Palóqui! Ele ordenou,
Fica aqui ou te arrebento!"
"Zezédiceu, quando falo
Tu pára de sê acintoso
Ou eu juro que te empalo
Naquele mastro lustroso."
Depois veio fera inútil
Uma tal dimarusserve,
Que todo mundo acha útil
Mas não sei para que serve...
Lusináciofaltundedo
Ao tigre salnei falou:
“rolando! Não tenha medo!”
E o imenso tigre rolou.
Palóqui, o leão, tremeu
Aos comandos poliglotas
E ajoelhado lambeu
Até dar brilho à suas botas.
O condutor abre os braços
No centro do picadeiro,
“e agora, nossos palhaços!”
Entra o povo brasileiro...
* * *