O MUNDO DA FEIRA LIVRE

Vou falar do que passei,

Quando criança, na feira,

E do meu grande facínio,

A minha vida inteira.

Oito anos de idade,

Já enxergava verdades,

E em diversas maneiras.

Um moleque muito esperto,

Sempre fui, quando pequeno,

Dinâmico e sonhador,

Mas um garoto sereno.

Atento, eu observava,

Olhos abertos, eu ficava,

Pra nunca usar veneno.

A prática da feira livre,

É de certo, muita antiga,

Os gritos dos vendedores,

Gente como formigas.

O vai e vem de caixotes,

Frutas, em dúzias e lotes,

Quase não se via brigas.

No meio daquilo tudo,

Minha cabeça fervilhava,

Um jeito de ganhar dinheiro,

Vendia-se ou se comprava.

Então veio a idéia,

Como mel na colméia,

A coisa, já se encaixava.

Entrei no ramo do transporte,

E construí um carrinho,

Destes, de rolimã,

Com a ajuda do vizinho.

Com madeiras de sucatas,

De enfeites, algumas latas,

Feito com muito carinho.

Pra entrar na concorrência,

Eu tive que me informar,

Se era preciso licença,

Onde podia ficar,

Aí, fui bem recebido,

E com meu jeito atrevido,

Comecei a trabalhar.

Em um estilo cativante,

Alegre e comprometido,

Fregueses não me faltavam,

Meu dia não era comprido.

Já seis horas da manhã,

Laranja, banana e maçã,

Os frutos já eram vendidos.

A melancia e o abacaxi,

A tangerina e o morango,

De tudo tinha na feira,

Legume, verdura e o frango.

À tarde, na hora da xepa,

Começava a promoção,

O preço de tudo baixava,

Era a hora do povão,

E eu que não era besta,

Nem precisava de cesta,

Tinha um carrinho nas mãos...

Todo sábado e domingo,

Nossa feira garantida,

E eu tinha muito orgulho,

Como se missão cumprida.

Na semana, eu estudava,

No final, eu trabalhava,

Não foi infância perdida.

Minha família formada,

Com esposa e dois filhos,

Continuo um sonhador,

Mas com a vida nos trilhos.

Faço letras com amor,

Sempre peço, por favor,

No olhar, o mesmo brilho!