Eu sou cupim na viola... Mote> Autor: Damião Metamorfose.
Não gosto de cantoria,
Que o poeta gagueja.
Que não canta com a badeja,
Quando está quase vazia.
Que faz um verso por dia,
Com a rima sem esmero.
Oração com lero-lero,
E se ainda for gabola.
Eu sou cupim na viola,
De cantador nota zero.
Eu canto sem respirar,
O meu verso já vem pronto.
Quando eu canto com um tonto,
Não deixo ele descansar.
Nem tente me derrotar,
Porque não me desespero.
Não esquento e não me altero.
Faço de boneco ou bola.
Eu sou cupim na viola,
De cantador nota zero.
Seja sextilha ou setilha,
Oitavas, décimas, moirão.
Deca, galope ou quadrão,
Ou qualquer um da cartilha.
Eu faço estrofe por pilha,
Piso fundo e acelero.
Mesmo a quem eu considero,
Deixo o cabra de esmola.
Eu sou cupim na viola,
De cantador nota zero.
Quem for me desafiar,
Pra não passar por ridículo.
Leia antes meu currículo,
Procure se antenar.
Pense antes de falar,
Que o meu aviso é sincero.
Canto do jeito que eu quero,
Vacilou eu desço a sola.
Eu sou cupim na viola,
De cantador nota zero.
Eu não fico encurralado,
Com sua estrofe difícil.
Disparo logo o meu míssil,
Comigo é fogo cruzado.
Faço o sol nascer quadrado,
Chicano dançar bolero.
Já disse que não tolero,
Repentistas sem escola.
Eu sou cupim na viola,
De cantador nota zero.
Pra cantar em festivais,
Só vou se for bem duplado.
Porque eu sou respeitado,
Diante dos meus rivais.
Dou meus primeiros sinais,
Quando a garganta eu tempero.
Daí pra frente eu impero,
O estro esquenta e decola.
Eu sou cupim na viola,
De cantador nota zero.
Se o poeta é covarde,
E complica com a deixa.
Arrumo uma e sem queixa,
Antes que ele faça alarde.
Depois o pego mais tarde,
Mesmo dando uma de Nero.
Meto fogo, não tolero,
E se ele se enrola.
Eu sou cupim na viola,
De cantador nota zero.
Cantador ganancioso,
Que regula a poesia.
Se não cai cem na bacia,
Dar uma de preguiçoso.
Se for metido a gostoso,
Com uma noite eu me intero.
Tipinho assim não pondero,
Cantar comigo não cola.
Eu sou cupim na viola,
De cantador nota zero.