Nos tempos de antigamente> Autor: Damião Metamorfose.

Hoje eu vou falar de um pouco,

Das andanças que eu fiz.

Por cidades e sertões,

Nesse Brasil dos brasis.

De um povo que é mais ordeiro,

Com jeitinho brasileiro,

Que não denigre o país.

De um povo pobre e feliz,

Semi ou mesmo analfabeto.

Com família que não cabe,

Dentro do pequeno teto.

Mas que vive sorridente,

Com seu jeito diferente,

De sotaque e dialeto.

Que é feliz por completo,

Que não vive a lamentar,

Que é exemplo de honesto,

Pra qualquer parlamentar.

Que não falta grãos nos silos,

Que não Poe pais nos asilos,

Para um estranho cuidar.

Pai de família, exemplar,

Mãe zelosa e honrada.

Sem direto as roupas finas,

Vestem chita remendada.

Comprada em meio de feira,

Mas é bonita e faceira,

Desejada e muito amada.

Pra cuidar da filharada,

Que parece uma escadinha.

A mãe cuida da mais velha,

Que cuida de outra mocinha.

Mocinha por sua vez,

Cuida de mais cinco ou seus,

Que cuidam da mais novinha.

No cardápio tem farinha,

Arroz, feijão, rapadura,

Café com bolo de milho,

Qualquer coisa pra mistura.

A geladeira é um pote,

Guarda roupas um caixote,

Com tampa e sem fechadura.

Povo humilde e sem frescura,

Como o povo das cidades.

Vivem quase sem dinheiro,

Sem estudo ou faculdades.

O seu mundo é bem pequeno,

Sem violência e veneno,

Hipocrisia e maldade.

Passar por dificuldades,

Não tira a sua alegria.

Faz um filho todo ano,

Um chamego todo dia.

E tem como diversão,

As festas de apartação,

Coco, forró, cantoria.

A viagem é romaria,

Pra exercitar a fé.

Um ano é pra Juazeiro,

No outro é pro Canindé.

Hoje vão de caminhão,

Mas a velha geração,

Fazia o trajeto a pé.

Raptar um são José,

Pra ele mandar inverno.

Depois fazer uma festa,

Para o pai do pai eterno.

É comum pra essa gente,

Muito mais antigamente,

Menos: nos tempos, moderno.

Compra e por no caderno,

Na loja, açougue ou bodega.

Levar o filho mais velho,

Para chamegar no brega.

E proibir a donzela,

Porque quem mexer com ela,

Ou casa ou o bicho pega.

Passar anel, cobra cega,

Cair no poço também...

São antigas brincadeiras,

Que hoje quase não tem.

No tempo que eu era moço,

Foi nesse cair no poço,

Que eu beijei mais de cem.

Os réis, tostões e vintém.

Que eram fortes no passado,

Fortes pra uns, outros não,

Pois o povo aqui citado.

Vivem de criar galinhas,

Cabra, ovelhas e umas vaquinhas,

E o que colhe do roçado.

Em janeiro tem reisado,

Fevereiro a plantação.

No dia de são José,

Os que têm mais devoção.

Chama esposa filha e filho,

Para semear o milho,

Que vão assar no são João.

Quando colhem o algodão,

Vão à loja de tecido.

Compram dois cortes de pano,

Um azul, outro florido.

Tênis Montreal ou bamba,

Não é escola de samba,

Mas fica bem parecido.

As moças fazem um pedido,

Ao santo casamenteiro.

Rapazes perdem os trocados,

Num joguinho trapaceiro.

Depois que acaba a festa,

Diz que cidade não presta,

Vida boa é de roceiro.

Quando se acaba o tempero,

Matam galinha ou leitão.

Fim de semana ou do mês,

Tem um forró de oitão.

E o rapaz que é mais fiota,

Bebe cana de meiota,

Com quinado ou alcatrão.

Ano que tem eleição,

Matuto fica importante.

Vai pra cidade de carro,

Todo pomposo e galante.

Solta fogos de artifício,

Grita viva! No comício,

E elege mais um farsante.

Quando a mulher tá gestante,

Buchuda: como se diz.

Toma remédio caseiro,

Emplasto e chá de raiz.

Por falta de enfermeira,

Chamam logo uma parteira,

Para cuidar da matriz.

E as tais promessas de giz,

Que fez o seu candidato.

De segurança e saúde,

Na hora e no tempo exato.

Já é coisa do passado,

E o matuto do roçado,

No fim é quem paga o pato.

Pra não ficar longo e chato,

Esse é meu ultimo repente.

Mas eu ficaria um ano,

Falando bem dessa gente.

Mesmo sendo urbanizado,

Nasci, cresci no roçado,

Nos tempos de antigamente.

Fim

20/08/2009.

Desde já eu deixo aqui o meu muito obrigado a quem ler ou comentar esse humilde cordel.Também peço desculpas se houver algum erro, pois da forma que eu recebi ele, passei para o teclado.inté

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 21/08/2009
Código do texto: T1765640
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