A CHEGADA DO DEPUTADO NO CÉU

Ao morrer, o deputado

Passou pela cremação.

Logo depois, enterrado

Para não ter chance, não,

De voltar à atividade,

Não ter possibilidade

De haver a ressurreição.

Feita a desencarnação,

Sua alma seguiu estrada.

Procurou a purgação,

Aqui não ficou penada.

Às portas do céu bateu

São Pedro logo atendeu

E a conversa iniciada.

- Salvação é desejada,

Porém, o consentimento

Pra que se dê a sua entrada,

Amigo, neste momento,

Deverá ser precedido

De um exame requerido

Sobre seu comportamento.

- Assim é o regramento,

Se o desejo é ingressar,

Não basta seu argumento

É preciso analisar.

Nesta folha que seguro

Contém com detalhe, apuro

Sua vida, parlamentar.

- Então, vamos começar

Que meu tempo é precioso,

Não posso mais demorar

E sei que está curioso.

A campanha eleitoral

É o marco inicial,

Você foi muito ardiloso.

- Bancou sempre o generoso,

Dando presente, dinheiro,

Pois seu voto valoroso

Precisava ter ligeiro,

Mas passando a eleição,

Nem olhava pro povão,

Seu bolso vinha primeiro.

- Na posse, todo faceiro

Deu um discurso eloquente,

Prometeu o mundo inteiro

E foi até comovente.

Era só demagogia,

Você se revelaria

Um pilantra, incompetente.

- Levou tudo que é parente

Para dentro do Congresso.

Nada tinha de inocente,

Respondeu muito processo.

Mesmo empregando a família

No gabinete em Brasília,

Jamais foi um réu confesso.

- O Brasil em retrocesso

Não era prioridade,

Pois só o próprio sucesso

Queria ter, na verdade.

Nepotismo, mensalão

E o Erário da Nação

Sangrado sem piedade.

- Demonstrou leviandade

Não foi um cara direito.

Irresponsabilidade

Com orçamento, sujeito.

Deu sumiço, fez desvio,

Propôs ponte sem ter rio,

Hospital sem nenhum leito.

- Eu já estou satisfeito.

Desse modo, então decido:

Aqui não será aceito,

Um tempo vai ser cumprido

No purgatório, meu nobre.

Se de bom algo inda sobre,

Talvez seja admitido.

Sem saída, entristecido,

Disse, então, o congressista:

- Recorro do resolvido!

São Pedro, em tom pessimista:

- Meu caro amigo de terno,

Só vai encontrar no inferno

Pro recurso algum jurista!!