A FUGA DA FAMÍLIA IMPERIAL PARA O BRASIL - I

I

Professor Laurentino que

Gomes tem no sobrenome

Escreveu livro excelente

Que de uma vez se consome.

Mil oitocentos e oito

Do livro esse é seu nome.

II

Livro fala sobre a fuga

Da família imperial.

Nosso Heliodoro de Morais,

Em cordel sensacional

Diz que Carlota Joaquina

Era piranha oficial.

III

A ambos peço licença

Pra fazer este cordel

A esse grande professor

E também ao menestrel.

Os dois na literatura

Fazem ótimo papel.

IV

Cordel será dividido

Em capítulos diversos,

Conforme o próprio livro

Mantenha seu universo.

Peço desculpas, porém,

Se algo sair disperso.

.V

Com proteção da Marinha

Da poderosa Inglaterra

A corte portuguesa fugiu

Em busca de outra terra

Com ministros, comerciantes,

Todos com medo da guerra.

VI

Num ato de alta traição

Com todos os seus vassalos,

Circulou a informação,

Em um rápido intervalo,

Que a corte fugiu levando

jóias, dinheiro e cavalos.

VII

Isso jamais aconteceu

Com outro país europeu,

Quando um rei foi destronado

Pra longe não se escafedeu.

Num país absolutista

Veja como o povo sofreu.

VIII

País ficou desamparado

E perdeu a independência

Entregues a aventureiros

À mercê de outra potência.

Dom João, príncipe regente,

A rainha tinha demência,

IX

Aquele trono ocupava,

Mas não fora preparado.

Por ser o segundo filho

Só ocuparia o reinado,

Se o primeiro morresse,

Se houvesse um finado.

X

Casado com espanhola,

Mandona e bem geniosa.

Dormiam em camas separadas,

A bicha era horrorosa.

Carlota vivia em Queluz.

Entre gente religiosa,

XI

Vivia d.João em Mafra.

Á custa dos portugueses

Que sustentavam monarquia,

Frades, freiras, e realeza.

Num fabuloso castelo

De grandiosa beleza.

XII

Tinha mais de cinco mil

Só de portas e janelas.

Cento e quatorze sinos

Espalhados nas capelas.

Para alojar os frades,

Tinha umas trezentas celas.

XIII

A sua construção precisou

De pouco mais de trinta anos.

A madeira brasileira

E o mármore italiano.

Quarenta e cinco mil homens

Sentaram pedras e canos.

XIV

O príncipe regente era

Um frouxo supersticioso,

Feio e bastante indeciso,

Com um bucho bem vistoso.

São as características

Daquele cara medroso.

XV

Entre grupos conflitantes

Vivia sempre espremido,

Por não tomar decisão

Pois não era destemido.

Com medo de Napoleão,

Tornou-se um foragido.

XVI

Por não ter obedecido

Ao bloqueio continental

Tropas francesas marcharam

Pra fronteira de Portugal

João desta vez decidiu

E deixou a terra Natal.

XVII

Bastante encurralado

Por Inglaterra e França

Tinha ele duas opções:

Mas com medo ele se lança

À proposta dos ingleses,

Pra não perder sua bonança.

XVIII

Embarcou para o Brasil

Levando a família real,

Com boa parte da nobreza,

E tesouro imperial.

Não aceitar plano inglês

Para ele seria fatal.

XVIX

Porque podiam repetir

O feito na Dinamarca.

Onde mataram, saquearam,

Com seus navios e barcas,

A capital Copenhague,

Mas sem matar o monarca.

XX

Sem materiais, munições,

Navios deixaram a cidade,

Entregue à própria sorte,

Em grande calamidade.

Com Portugal seria pior

Em termos de fatalidade:

XXI

Bombardeavam Lisboa, frota,

Colônias ultramarinas,

Que seriam todas tomadas.

Como também as suas minas.

Se perdesse o Brasil

Mudariam nossa sina.

XXII

Havia outra alternativa;

D. João ficar e enfrentar

A fúria de Napoleão.

A Inglaterra ajudar

A defender o país

E as colônias de ultramar.

XXIII

Ganhar a luta e manter

O seu trono e a sua coroa,

Fatos mostrariam mais tarde

Que a chance era muito boa,

Mas preferiu fugir com

Aquela velha à toa

FONTE: 1808, de Laurentino Gomes, Editora Planeta do Brasil Ltda.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

FORTALEZA, AGOSTO/2009